O secretário-geral do PS afirmou que um Governo socialista não repetirá o modelo económico-financeiro aplicado até 2007, sustentando que é preciso fazer diferente e atacar os “bloqueios” que se colocam à competitividade do país.

António Costa falava na abertura de uma conferência promovida pela rádio TSF e pela Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC) sobre política fiscal, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, que será encerrada pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.

Num discurso de cerca de 50 minutos, o líder socialista apresentou as suas medidas para “o aumento dos rendimentos disponíveis das famílias” – tendo em vista “combater o estrangulamento” da procura interna e possibilitar condições de investimento -, mas também salientou que um Governo do seu partido não repetirá receitas aplicadas no passado por outros executivos do PS.

Numa demarcação face a teses económico-financeiras preconizadas pelos socialistas num passado ainda recente, António Costa levantou a muito repetida questão segundo a qual, se não tivesse havido a crise internacional de 2008, a trajetória em que Portugal estava em 2007 “teria continuidade ou estava condenada”.

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“Essa pergunta poderá ter utilidade para os historiadores, mas, verdadeiramente, não tem utilidade prática para nenhum de nós, porque o que importa é o que efetivamente aconteceu e não aquilo que poderia não ter acontecido se a crise internacional não tivesse ocorrido. Uma coisa é certa: O tempo não volta para trás e, portanto, não estamos nem voltaremos a estar nas condições de 2007, nem são repetíveis as virtudes ou a vicissitudes que ocorreram em 2007. É preciso fazer diferente”, declarou.

Fazer diferente, defendeu em seguida António Costa, é o país assumir que “o que o bloqueia” é a dificuldade da sua estrutura económica se adaptar a um novo quadro competitivo e que é preciso atacar na raiz aquilo que limita o quadro de competitividade nacional.

O secretário-geral do PS fez depois várias críticas à linha de política económica seguida pelo atual Governo, designadamente ao considerar que se “acreditou numa austeridade expansionistas, seja por via de uma enorme contração do rendimento disponível, seja por via de um aumento da carga fiscal”.

“A contração do investimento é bem o reflexo desta política errada. É por isso necessário procurar um caminho alternativo”, sustentou, embora, advertindo também que tal caminho “está sujeito a limitações no quadro europeu.

“Quem não quiser sujeitar-se a essas limitações coloca os seus países numa trajetória aventurosa de rutura com a participação europeia”, disse, agora numa alusão crítica ao Governo grego do Syriza.

Ou seja, para o líder socialista, é preciso um exercício alternativo quer ao caminho do Governo, mas também quer a um percurso não compatível com a participação de Portugal na zona euro.

“São necessárias reformas estruturantes que combatam a estagnação quase constante que tem caraterizado o país pelo menos desde 2000 até hoje. Temos alternado crescimento residual com anos de recessão”, apontou.

Tanto à entrada como à saída da conferência, o secretário-geral do PS recusou-se a prestar declarações aos jornalistas, que o pretendiam questionar sobre polémicas referentes ao processo de elaboração das listas de candidatos a deputados, cuja aprovação final está prevista para esta noite, durante uma reunião da Comissão Política Nacional do PS.