É Artur Miranda quem o diz: “Eu não quero ser Moleskine, quero ser Fine & Candy.” Para uma marca de cadernos criada em 2009, pode parecer uma comparação entre a Rolls Royce e quatro rodas com um capô. Mas isso é até olhar para os blocos com o emblema F & C, as folhas de guarda cartonadas, as bordas pintadas de dourado e as edições limitadas ilustradas à mão por artistas. Ou até dizer que os cadernos produzidos no norte de Portugal já chegaram a pontos de venda conceituados como o Harrods, em Londres, e o Printemps, em Paris. Tudo motivos para ouvir o diretor artístico e perguntar: “Molesquê?”
Ambição não falta à Fine & Candy, e isso vê-se em toda a estratégia da marca que começou por nascer dentro da agência de comunicação portuense We Supply, a partir de uma ideia de Mariana Tomé Ribeiro, e em 2012 foi adquirida pela Oitoemponto.
“Nós somos grandes impulsionadores do 100% português, do que é feito à mão, mas não queremos fazer só artesanato, no sentido dos bonequinhos”, diz Artur Miranda, “CEO & more” do grupo, como assina nos e-mails. “Queremos fazer peças com qualidade e um ar internacional, digamos assim. Não acredito que se vá vender um produto só porque é 100% português, ele tem de ser competitivo.”
O “ar internacional” passa por aproveitar as melhores técnicas na área da encadernação, razão pela qual a marca trabalha com a Imprensa Nacional, “que tem um espólio de cadernos e blocos com mais de 100 anos”, e é produzida em pequenas fábricas e gráficas na zona norte do país — Aveiro, Porto e Maia –, onde “havia um grande historial de papel mas muita coisa fechou”. Passa também por coleções de edição limitada e “algumas colaborações com pessoas que não pertencem necessariamente ao universo dos cadernos mas podem dar a conhecer a marca”, como diz Artur Miranda. Exemplos disso são a coleção Handle it, em que a artista Rita Roque pintou uma série de desenhos à mão diretamente nos cadernos em pele, os conjuntos de lápis feitos em parceria com a Viarco, o pisa-papéis “It’s bananas!”, onde uma casca de banana em cerâmica pintada à mão garante que as folhas espalhadas na secretária são à prova de correntes de ar, ou a parceria com a ilustradora Hala Salem Achillas, que deverá dar os primeiros frutos em setembro.
“O papel está em desuso mas nós queremos que esteja em uso”, diz o CEO. “Durante séculos, o ser humano aprendeu a gerir a mão para desenhar e escrever bem, por isso faz-nos imensa impressão estar-se a esquecer essa parte. O papel é um meio de expressão, um meio de poder riscar. Como passamos tanto tempo em frente ao ecrã do computador, estamos a deixar de poder riscar, e para nós rasurar é fundamental, é andar à volta das ideias. Nesse sentido, o caderno acaba por ser muito pessoal.”
Para sublinhar ainda mais essa ideia, a marca tem um serviço de personalização que permite transformar cadernos, cartões ou papel de carta, e que na loja recentemente inaugurada na Rua de Tanger, no Porto, fez com que se deixasse o atelier à vista dos clientes. “É só sentar-se ao lado do designer e pode fazer logo umas mudanças”, diz Artur, para quem o tal “ar internacional” também passa por este “mini luxo”. “Quando falamos da Fine & Candy estamos a falar de um luxo abordável. Abrimos um bloco e ele é artesanal, nota-se. Os cadernos são todos muito parecidos mas nenhum é igual.”
Com preços que começam nos 16 euros e vão até aos 99, no caso das edições limitadas, os cadernos já chegaram a vários pontos do mundo, do Canadá à Alemanha, devendo em breve estar à venda também na Farfetch, loja que agrega as melhores marcas e designers de moda. “Estamos em contacto com várias plataformas de comércio online e a tentar reforçar a nossa presença em pontos ligados à moda como a Colette”, diz o CEO, assumindo como no processo de internacionalização foi fundamental trabalhar com um gabinete de imprensa francês que conseguiu colocar a marca em várias revistas e jornais, do Herald Tribune ao The Guardian.
“Primeiro tentámos que a marca fosse conhecida e depois que fossem as pessoas a pedi-la, a perguntar onde se comprava”, diz Artur Miranda. “Agora já temos uma pessoa unicamente dedicada às vendas”, conclui. E também ela tem direito a uma assinatura criativa no e-mail: “the happy salesman“.
Nome: Fine & Candy
Data: 2009
Pontos de venda: Loja oficial na Rua de Tanger, 1356 (Porto), restante lista completa aqui.
Preços: Cadernos de 16€ (blocos) a 99€ (edições limitadas)
100% português é uma rubrica dedicada a marcas nacionais que achamos que tem de conhecer.