O mês de setembro é um mês de mudança de rotinas para grande parte das famílias, mas sobretudo para aquelas que têm crianças em idade escolar. É um mês em que os horários rígidos voltam a ser o normal, é um mês forte em emoções, para miúdos e graúdos, e é um mês em que pais e mães voltam ao contorcionismo para conseguirem articular as necessidades dos filhos, com o seu dia-a-dia, e com o orçamento disponível.

E por saber que o período do regresso às aulas e estas semanas que o antecedem são, muitas vezes, difíceis para pais e filhos, o Observador conversou com duas especialistas sobre a matéria e deixa aqui oito dicas que poderão ser preciosas para os pais.

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Com as aulas à porta, é preciso voltar a adaptar os horários das crianças que, em muitos casos, ficam alterados durante os meses das férias. Acabaram-se os dias sem horas para deitar ou levantar.

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“Eu gosto da ideia do despertador porque dá autonomia à criança, que começa a saber gerir o seu acordar. A partir dos seis anos é perfeitamente possível a criança programar o seu despertador”, defende Magda Dias, coach e formadora nas áreas comportamentais e comunicacionais, autora do blogue Mum’s the boss e do site Parentalidade Positiva.

E esta adaptação aos novos horários deve ser feita com mais ou menos antecedência, consoante as situações. Tudo depende se a criança alterou fortemente os seus hábitos e rotinas durante as férias. Nesses casos, as regras podem já ter começado a mudar logo no início deste mês, com o despertador a tocar sempre à mesma hora de manhã e com idas para a cama mais cedo. Mas nos casos em que as rotinas do deitar e do acordar não mudaram assim tanto durante as férias, o “importante é que, pelo menos, no fim-de-semana antes do início das aulas a criança possa retomar os horários”, aconselha Magda Dias.

E mais importante ainda do que a hora do acordar – que para muitas crianças já está interiorizada pois frequentam ATL -, é a hora do deitar e ainda a das refeições. “O sono é muito importante para consolidar as aprendizagens”, lembra a psicóloga Inês Mendonça.

Para que tudo corra pelo melhor, é necessário reduzir ao máximo a agitação a partir de uma certa hora da noite e, mais uma vez, criar rotinas, partilhando-as com as crianças. Por exemplo, há tarefas que não se devem arrastar para a manhã do dia seguinte, como, por exemplo, preparar a mochila e escolher a roupa. E para que as manhãs corram sem percalços, quando os pais vão acordar as crianças já devem estar prontos, de preferência, aconselha Magda Dias. “O ideal é não andar a correr logo pela manhã, não criar logo stresse matinal”, concorda Inês Mendonça.

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A ida para a escola pela primeira vez, ou o regresso às aulas, jogam com as emoções das crianças (e também dos pais) e as reações podem ser as mais variadas: do entusiasmo ao pânico. Para preparar o seu filho, nada melhor do que se acalmar primeiro, se for esse o caso. Magda Dias acredita que “quando temos a certeza que é um sítio bom e que vai fazer parte da rotina deles nós metemos isso na nossa própria cabeça e tudo o resto sai de forma muito natural”. Tanto Magda Dias como Inês Mendonça referem que é muito importante os pais não projetarem a ansiedade deles nos filhos. E aqui atenção também aos desabafos ao pé dos filhos: evitar dizer frases como “acabou-se o bem bom, agora é hora de voltar ao trabalho”. Desta forma as crianças podem percepcionar que voltar à rotina é algo negativo.

Depois então, há que falar com as crianças de maneira a tranquilizá-las e as conversas podem passar por explicar, no caso dos miúdos que vão para o 1.º ciclo, que “os meninos crescidos vão para a escola”, que “a escola é um lugar bom onde se aprende a ler e a escrever”, que “na escola vão conhecer muitos meninos novos e fazer amigos”, ou que “vão rever os amigos” e que “vão começar também as atividades extra-curriculares que eles tanto gostam”, sugerem Inês Mendonça e Magda Dias. No caso das crianças mais velhas, que vão por exemplo para o segundo ciclo, deve explicar-se que “eles estão mais velhos e é normal que vão para uma escola diferente e maior”, que “as pessoas têm de mudar de espaço” e ajudá-los a estudar os horários, a organizar o material para levar no dia seguinte, o estudo e os trabalhos de casa, exemplifica Inês Mendonça.

Pode ainda ajudar a criança a recordar os bons momentos vividos na escola no ano anterior, os amigos, as visitas de estudo. Falar do período que vai ter início agora, de forma positiva, é meio caminho andado para o sucesso. Evitar frases como “a ver se este ano te portas melhor na escola” e não dar já demasiada importância às notas.

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Uma forma de acalmar as crianças e lhes dar mais segurança em relação ao início das aulas passa ainda por lhes mostrar a escola que vão frequentar, de maneira a tentar acabar com “o medo do desconhecido”. Isto aplica-se sobretudo às crianças que vão transitar de ciclo de ensino e mudar de escola. O objetivo é que os miúdos se vão familiarizando com a nova escola e, para tal, o ideal é ir passando frequentemente perto da escola, mostrar o caminho, falar da escola, se puderem até entrar e falar com funcionários. Tudo isto sem pressão, numa atitude de curiosidade. No caso em que os miúdos têm de ir para a escola de transportes públicos, é necessário tratar do passe escolar e, de preferência, explicar o percurso e os transportes que devem apanhar.

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Regressar à escola implica também todo um ritual de compras e uma ginástica para não arruinar completamente o orçamento familiar. Uma tarefa na qual, de acordo com vários especialistas, se deve envolver a criança.

Neste momento está a ler isto e a pensar: “OK. Como se fosse assim tão fácil. E as birras no supermercado?”. Não, não é “assim tão fácil”, até porque depende muito da criança em concreto e da forma como os pais lidam com o assunto. E apenas esta segunda parte está nas suas mãos. Magda Dias deixa alguns conselhos.

“Ver muitas coisas nos folhetos que chegam ao correio e definir e comunicar à criança, logo em casa, qual o valor estipulado para gastar com material escolar” é o ideal, avisa a autora do blogue Mum’s the boss. E levar para o supermercado já uma lista do que se vai comprar, de acordo com aquilo que foi discutido antes com a criança, é outro dos passos importantes.

E se o mais pequeno quer uma mochila muito cara só porque é de um dos desenhos animados da moda e você não a pode dar? “Devemos dizer que é mais cara do que aquilo que queremos pagar por ela e dar opções à criança.” Importante também é “reconhecer que a criança gostava de ter aquilo, mas que não estamos de acordo e que, por isso, teremos de escolher outra. Basta explicar uma vez, não vale a pena tentar convencer a criança. E o que temos de dizer se ela começar a fazer birra é: “Vais escolher outra ou escolho eu?””, termina Magda Dias. É aconselhável que a criança escolha um ou dois artigos. Atenção ainda ao vestuário e ao calçado, lembre-se que os meses de frio estão a chegar.

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Em pré-arranque de ano escolar é preciso também assegurar o canto do estudo lá em casa. Comece por definir qual o local mais adequado, sendo que a criança também pode aqui dar uma opinião, e arrume tudo a tempo do início das aulas. Mas a verdade é que se algumas famílias já sabem qual o sítio onde vão colocar a secretária e todo o material necessário ao estudo, por terem uma biblioteca ou escritório reservados para isso, ou um quarto grande, outras não fazem ideia de onde os filhos poderão fazer os trabalhos, porque as casas são demasiado pequenas.

Aos seis anos as crianças podem muito bem estudar na cozinha enquanto a mãe ou o pai fazem o jantar, com a televisão desligada, por exemplo”, sugere Magda Dias, explicando que “nessas idades os miúdos ainda não sabem ler nem escrever e têm muitas dúvidas, além de estarem muito ligados aos pais”, pelo que o ideal é estarem perto deles. Quando as crianças crescem, o local de estudo pode passar a ser a sala, se não houver espaço para terem uma secretária no quarto.

O que é preciso é que haja “coerência” e que estudem num local parecido com uma secretária. “Não pode ser a mesa baixa da sala ou o sofá, ou a cama”, avisa.

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Outra das preocupações dos pais, que se coloca sobretudo durante o ano letivo por causa da logística que envolve, prende-se com a preparação dos lanches para os filhos levarem para a escola. Habituar as crianças a levarem comida saudável de casa é o mais indicado.

Ao Observador, Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, deu, na semana passada, três exemplos de lanches para os mais novos: “Um sumo de fruta 100% e um pão com queijo, um iogurte sem açúcar e um pão com fiambre ou uma peça de fruta e bolachas Maria (ou de água e sal)”. Mas a nutricionista frisou que “tudo depende do dispêndio energético da criança”, sendo que uma criança muito ativa precisa de um lanche mais reforçado, assim como nos dias em que a criança tem aula de educação física. Outro tipo de bolachas, que não as acima mencionadas, folhados ou bolos, têm de ser uma exceção e não a regra dos lanches das crianças, avisou Alexandra Bento.

É ainda aconselhável que os pais consultem as ementas das escolas, quando os filhos lá almoçam, para garantirem que o jantar escolhido é equilibrado.

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Mesmo que a preparação para o arranque das aulas tenha sido feita e até corrido bem, é normal que uma criança possa chorar nas primeiras semanas sempre que se despede dos pais. Na altura de deixar a criança na escola – o que acontece sobretudo no pré-escolar e no primeiro ciclo, “o pai ou a mãe vão ter de manter a calma, explicar que ele vai ter de ficar na escola, que mais logo o vão buscar e despedir-se com calma, não voltando nunca atrás, mesmo que eles fiquem a chorar”.

“Acho que se faz um grande bicho de sete cabeças quando as crianças choram”, afirma Magda Dias, que defende que os pais se despeçam dos filhos antes de entrarem na escola. Os pais devem explicar que “vão trabalhar, eles vão ficar na escola e que, mais logo, vão fazer os trabalhos de casa, para depois terem mais tempo juntos”.

Para que estas primeiras semanas corram melhor, é aconselhável que se vá buscar as crianças um pouco mais cedo ao ATL. A partir daí é definir um horário e “essa hora de ir buscar a criança à escola deve ser fixa, para os miúdos criarem a rotina e saberem que ao fim de x tempo os pais o vão buscar. A rotina é que dá segurança”, defende a psicóloga Inês Mendonça.

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Não menos importante é ficar, desde o primeiro momento, a par de tudo o que se passa na escola e nos estudos do seu filho.

“É muito importante perguntar como correu o dia, o que aprenderam, e ouvi-los. Mas é também importante consultar a caderneta do aluno, os cadernos, ver se têm trabalhos para casa para fazer. Além disso, os pais devem conhecer bem os horários dos filhos, saber o tempo que demoram  fazer o percurso da escola até casa. E o miúdo tem de saber que há esse controlo, não muito explícito da parte dos pais”, aconselha Inês Mendonça.

Ir à escola e conhecer o (s) professor (es), ir a todas as reuniões de pais, conhecer os amigos do filho e os pais desses amigos. Tudo isto é também importante, afirma Magda Dias, sublinhando que não se trata de “perseguir mas sim de estarem informados”.