“Eu nunca achei que iria estar dois anos sem sexo — simplesmente aconteceu. O tempo foi passando e não apareceu, até então, ninguém que me interessasse. Quando penso que já passaram dois anos, parece demasiado tempo, eu sei, mas nunca me apeteceu usar uma noite de sexo para substituir a falta de intimidade com outra pessoa.” Foi assim que Susana (nome fictício) nos explicou o porquê de estar há dois anos sem sexo. Já em 2008, o jornal científico Human Nature publicava que as mulheres se sentiam infelizes após o sexo casual e que somente embarcavam nestas aventuras se achassem que poderiam levar a uma relação séria.

Talvez esta falta de sintonia e de felicidade seja a explicação para que, segundo um estudo realizado pelo jornal britânico The Guardian, 57% das mulheres não queira ter sexo casual (ou as famosas one-night stand). Parece irónico, num mundo onde E.L. James (50 Sombras de Grey) e os romances sobre sexo dominam o pódio dos bestsellers mundiais. Em conversa com mais mulheres, que sabíamos que estavam solteiras, perguntámos-lhes há quanto tempo não tinham sexo. E as respostas começaram a suceder-se em catapulta: um ano, dois e até três. Poderemos estar a assistir a uma nova geração de mulheres em que o sexo casual simplesmente deixou de ter interesse?

Porque procuramos o sexo?

Se pensarmos porque razão nós, seres humanos, procuramos o sexo, podemos chegar, talvez, a três conclusões:

  1. satisfação física (relacionado com os nossos impulsos biológicos);
  2. sentirmo-nos desejados (que está relacionado com o ego);
  3. amor, paixão, intimidade, conexão com outra pessoa (as razões emocionais) que, ao fim e ao cabo, são as mais importantes e aquilo que todos procuramos.

Mas numa sociedade onde se grita sexo, sexo, sexo em todo o lado, como é realmente a vida de quem não o tem?

Sophie Fontanel é uma jornalista e escritora francesa que, após 12 anos sem sexo, escreveu um livro (em português A Arte de Dormir Sozinha, da editora Guerra & Paz) sobre a sua vida de celibato.

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Passei os primeiros 10 anos da minha vida adulta a ter, francamente, mau sexo”, disse em entrevista ao jornal Telegraph. “Era mecânico, mesmo quando me dava prazer. E pensei que, eventualmente, já tinha aprendido o suficiente para saber que não correspondia ao tipo de sexo que gostaria de ter.”

Farta de relações casuais e noites na cama de homens que não conhecia, Sophie decidiu tirar um “ano sabático” que se estendeu para 12 anos sozinha.

O peso da abstinência

Admitir a abstinência? “Experimentem deixar cair essa palavra num jantar e vão ver os rostos de todos os presentes escandalizados”, diz Sophie que, no livro, explica que inventou amantes imaginários só para não ter de enfrentar as reações, às vezes brutas, dos seus amigos.

Sílvia (nome fictício), outra das mulheres que falou connosco, está há dois anos sozinha e completa essa ideia: “Muitas vezes quem me rodeia diz que tenho um problema e existe uma pressão da sociedade para que, mais do que ter uma relação, tenhamos sexo — como se ter sexo fosse o barómetro da normalidade. É como se, quem não o tem, não fosse normal.

Sentem-se sozinhas? — perguntámos. Todas responderam: há dias que sim.

“Estou há três anos sozinha com um filho, e embora já tenha saído com alguns homens, não me envolvi com nenhum simplesmente porque não tive vontade de o fazer. Não senti química, desejo, nem que daí pudesse advir uma relação mais profunda. Há uns dias, um homem deu-me a mão e isso mexeu comigo. Percebi que mais do que sexo, sinto a falta do contacto humano, o toque, o abraço…”

Para melhor compreender estas diferentes formas de viver a abstinência, falámos com Vera Ribeiro, psicóloga clínica especializada em sexologia. “As mulheres procuram essencialmente afeto, e não sexo. Mas, muitas vezes, estes dois conceitos misturam-se. No entanto, vejo que estão muito mais exigentes e procuram relações, não de uma noite, mas sim de várias noites. E, cada vez mais, já não procuram relações fugazes porque gostam de sentir que são desejadas e interessantes, não apenas para sexo.”

Liberdade sexual também é não ter sexo

Se a liberdade sexual é podermos ter sexo com quem quisermos, quando quisermos, onde quisermos — porque é que não ter sexo ainda é um tabu? “Não há qualquer problema em não se ter sexo. A sociedade é que atua como influência e faz com que algumas mulheres se sintam à margem“, explica Vera Ribeiro. “A mulher deve perguntar-se a si mesma o que estará a provocar essa falta de vontade em se relacionar com outras pessoas. Por vezes, pode não estar resolvida com relações passadas ou as relações sexuais podem não ter sido boas e isso levou a um desinvestimento na procura de um novo parceiro. Mas o conselho que dou muitas vezes é que a mulher tem de se sentir bem e realizada com a escolha que fizer.” Com sexo. Ou sem sexo.

“Acho que acontece com toda a gente — o sexo acaba por deslizar para baixo da nossa lista de prioridades”, explica-nos outra das nossas entrevistadas que também preferiu ficar anónima. “Cheguei a um ponto em que simplesmente não tenho interesse em partilhar o corpo com um homem com quem não partilho a vida. Quando procuramos incansavelmente alguém, é fácil preenchermos buracos com sexo casual na expectativa de que leve a mais qualquer coisa. Mas mais do que falta de sexo, sinto falta de emoções, falta de me apaixonar. E nenhum sexo vai preencher essa falta.”

Vamos ser claros: as mulheres gostam de sexo — mas preferem bom sexo. E as probabilidades de o terem em casos casuais são mínimas. As one-night stand não passaram de moda, mas as mulheres sabem, cada vez mais, aquilo que querem. E sabem que não o vão ter com um homem aleatório que não tem ideia do que elas gostam e, provavelmente, não vai preocupar-se tanto em agradar-lhes. Porquê? Porque, afinal de contas, não passa de uma noite casual.