Uma campanha intitulada “Pela racionalização dos trabalhos de casa no sistema educativo espanhol” está a alertar para o excesso de TPC a que estão sujeitos os jovens estudantes do país vizinho. A campanha foi produzida pela engenheira de telecomunicações Eva Bailén e lançada com o apoio da Change.org – “a maior plataforma mundial para a mudança” -. Eva Bailén explica ao jornal El País os objetivos:
Há quem não seja sensível a este assunto porque pensa que os pais estão a tentar proteger excessivamente os filhos (…). Não se dão conta que o problema é o contrário: os miúdos trabalham tanto desde pequenos que chegam à adolescência fartos dos trabalhos de casa e do sistema educativo espanhol.
Na campanha, que foi pensada para as redes sociais e que em Espanha se está a tornar viral, um conjunto de pessoas discutem com alguém que não conseguem ver sobre a sua vida e o seu horário de trabalho. Ficam a saber que a pessoa do outro lado trabalha diariamente “8 horas, mais 3h em casa“. Esta diz-lhes ainda que “até aos fins de semana tem trabalho”, que nem nas férias tem descanso e que precisa de pedir ajuda a familiares para poder cumprir as tarefas. Quando instados a adivinhar quem se encontra do outro lado sugerem várias respostas: talvez um empresário, um cargo intermédio de uma empresa, um escriturário, um médico ou cientista. Mas a surpresa é grande: quem aparece é afinal uma criança.
Em Portugal, o problema também existe, mas a um nível menor. Segundo a OCDE, em 2012 Portugal estava entre os 9 países em que as crianças menos trabalhos de casa tinham semanalmente – juntamente com países como a Finlândia, Coreia do Sul, República Checa, Eslováquia, Liechtenstein, Brasil, Tunísia e a Suécia. Já a Espanha estava no top 5 da lista, atrás da Rússia (que a lidera), Itália, Irlanda e Polónia. As crianças portuguesas passam perto de 4 horas por semana a fazer trabalhos de casa; as espanholas passam, em média, 6 horas e meia.
E mais horas de trabalhos de casa garantem mais rendimento escolar? Há países (como a Finlândia e a Coreia do Sul) onde a carga de trabalhos de casa dos jovens é grande e que estão regularmente entre os países melhor colocados no ranking PISA, da OCDE, um estudo mundial que avalia o aproveitamento escolar dos alunos nos vários Estados do globo. Mas isso não é regra.
Jesús Salido, o presidente da Confederação Espanhola das Associações de Pais e Mães dos Alunos (Ceapa) fala ainda das desigualdades que podem ser fomentadas devido ao excesso de trabalhos escolares fora de aula. “Os pais nem sempre têm capacidade ou tempo para ajudar os seus filhos e vêm-se obrigados a enviá-los para colégios privados ou a contratar um explicador. Quem tem dinheiro para o fazer acaba por ter vantagem”, afirma Jesús Salido ao jornal espanhol El Mundo.