É uma “mulher de esquerda” e é nessa qualidade que Marisa Matias se apresenta enquanto candidata a Belém. Não se candidata “para fazer número” ou “animar a campanha”, mas sim para mobilizar votos, já que um voto em si é um voto a mais contra a direita, diz. A direita, Cavaco Silva, os negócios e as elites, assim como Marcelo Rebelo de Sousa e Maria de Belém (cujos nomes não foi pronunciado), foram, de resto, os principais alvos deste primeiro discurso. E nem o BES faltou. “É possível chegar à Presidência da República sem a proteção do Espírito Santo” e sem passar a passagem de ano no “iate de Ricardo Salgado”, ironizou. 

Na apresentação da sua candidatura, que decorreu esta tarde no Teatro Thalia, em Lisboa, a eurodeputada do Bloco de Esquerda deixou claro que não vai “fingir” que é neutra “só para conquistar mais simpatia”, e que vai continuar a defender as suas causas enquanto “mulher de esquerda que é”. O nome do adversário Marcelo Rebelo de Sousa nunca foi pronunciado mas esteve várias vezes na mira do discurso da bloquista, que o acusou de ter uma “ambição política desmesurada”, de ter “procurado fazer da televisão um trampolim”, e de estar “disposto a tudo para atingir os seus objetivos”.

Sou uma mulher de esquerda, defendo as minhas causas, não tenciono fingir que sou neutra só para conquistar mais simpatia. Não quero ser politicamente correta, quero ser politicamente verdadeira. Candidato-me alias partindo de uma premissa radical: É possível chegar à Presidência da República sem a proteção do Espírito Santo”, disse.

Com o lema “Uma por todos”, Marisa Matias antevê que a candidatura a Belém vá ser uma disputa entre “as elites poderosas e a maioria do povo”, pelo que a bloquista diz que se candidata expressamente com o objetivo de “ajudar a derrotar o projeto das elites”. E é aqui que surge o império Espírito Santo e o iate de Ricardo Salgado. Mais uma vez com o professor Marcelo na mira, amigo confesso do ex-presidente do BES, e também em referência ao facto de a candidata Maria de Belém ter prestado serviços na área da saúde à empresa Espírito Santo Saúde, Marisa Matias ironizou e fez soltar gargalhadas entre a plateia ao mostrar-se convicta de que era possível chegar a Belém “sem a proteção do Espírito Santo”. E sem ser frequentador do famoso iate do banqueiro.

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“Diga-se que nunca fui avençada do dito, em claro conflito de interesses com funções públicas na mesma área, e nunca festejei a passagem de ano no iate do Ricardo Salgado – serei uma Presidente de todos os portugueses mas não esqueço o que se está a fazer aos mais pobres para salvar os bancos, aos mais jovens, aos mais velhos, às mulheres e aos trabalhadores para pagar trabalhos miseráveis.

É em nome deste povo que sofre mas que resiste que me candidato para concretizar e levar mais longe aquela esperança tão bonita que um dia se viu no 25 de abril e que hoje vemos de novo a brilhar nos olhos da nossa gente.

E essa esperança precisa de uma Presidente próxima dos cidadãos, sem jogos, e independente dos Conselhos de Administração das grandes empresas, que recuse a austeridade inútil imposta pela especulação financeira”, disse numa sala cheia do teatro Thalia.

“Cavaco sai da frente, Marisa a Presidente”

Antes da subida de Marisa Matias ao palco, os apoiantes e dirigentes bloquistas presentes na sala improvisaram umas palavras de ordem: “Cavaco sai da frente, Marisa a Presidente!”. E grande parte do discurso da candidata foi centrada em recados ao atual Presidente, que está a ter um papel decisivo na situação atual de incerteza política saída das legislativas. Para Marisa Matias, o papel do Presidente tem de ser o de garantir a “estabilidade de todos os portugueses”, e não apenas “dos seus no poder”, como diz que Cavaco Silva tem feito nos últimos dias.

O Presidente que temos em funções é o exemplo de quem usa o seu papel para defender a estabilidade dos seus no poder e não a estabilidade da vida dos portugueses. O Presidente que temos em funções tem sido um divisor, uma força de bloqueio da democracia. Precisamos de alguém que agregue em vez de dividir, que resolva em vez de complicar”, defendeu.

Garantindo que vai ser uma Presidente “tão política quanto é a Constituição”, e sublinhando que o documento fundamental do Estado não trata apenas de indicar “prazos e procedimentos”, a candidata presidencial do Bloco de Esquerda, Marisa Matias afirmou que quer “abrir as janelas” do Palácio de Belém para deixar sair o cheiro “a bafio” e permitir que entre “ar fresco”. “É a força da democracia que as vai abrir. É a vossa força”, rematou.