Morreu o arquiteto Diogo Seixas Lopes. A notícia está a ser avançada pelo jornal Público, que cita uma amiga da família. Seixas Lopes, juntamente com a mulher Patrícia Barbas, têm um gabinete de arquitetura que foi responsável, entre outros, pelo desenho da futura torre de escritórios de Picoas e pela reabilitação profunda do Teatro Thalia, ambos em Lisboa. Tinha 43 anos e foi vítima de um cancro no cérebro. Segundo a agência Lusa, encontrava-se internado numa unidade de cuidados paliativos.
O projeto mais recente da dupla de arquitetos, a torre em Picoas, tem causado muita polémica entre os lisboetas e mesmo nos serviços técnicos da câmara levantou grandes dúvidas. Diogo Seixas Lopes, que além de assinar projetos tinha um grande trabalho teórico sobre arquitetura, desvalorizou as polémicas. “O que nós temos bem presente quando estamos envolvidos numa coisa deste gabarito é que a cidade em determinados momentos precisa de uma arquitetura que seja o espelho de uma época. Este espelho não acontece naturalmente e por isso há uma certa violência nestes gestos”, disse, numa entrevista ao Público em maio de 2015, quando lançou o livro Melancholy and Architecture, aclamado internacionalmente.
Sobre esse livro, a historiadora Maria de Fátima Bonifácio escreveu, aqui no Observador, um artigo em que elogiava a “enorme elegância intelectual” demonstrada por Diogo Seixas Lopes.
Melancolia e Arquitectura é um grande livro, de uma enorme elegância intelectual servida por uma escrita fluente em que não há sinónimos, apenas a palavra exacta (Italo Calvino? Vargas Llosa?), sustentada por uma tensão dramática sem falhas que resiste inclusive nas páginas mais técnicas, onde alguma aridez seria expectável. Notável é também a consistência de todo o argumento, o respeito minucioso pela abundante evidência documental e a rigorosa honestidade com que o autor controla a sua utilização. O livro tem sido objecto de enfático louvor em várias críticas publicadas na mais prestigiada imprensa internacional, e ainda há uma semana foi destacado pelo Guardian como um dos melhores livros sobre arquitectura publicados em 2015. Deve ser lido em Portugal.
Picoas não foi, porém, o desenho mais marcante de Seixas Lopes. Com a mulher, Patrícia Barbas, e Gonçalo Byrne, assinou o projeto de reabilitação do Teatro Thalia, contíguo ao Palácio das Laranjeiras, em Lisboa. Completamente em ruínas há décadas, o teatro quase só tinha as paredes exteriores antes da intervenção do trio de arquitetos. Eles optaram por manter tudo o que já existia, encapsulando as estruturas com betão. A solução usada convenceu o júri do prémio FAD de Arquitetura e Interiores atribuído anualmente em Espanha. O Teatro Thalia foi selecionado como um dos finalistas, mas acabou por não ganhar.
Diogo Seixas Lopes nasceu em Lisboa em 1972. Era filho de Fernando Lopes (realizador) e de Maria João Seixas (jornalista e ex-diretora da Cinemateca Portuguesa).