O presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) alertou esta terça-feira para o facto de estarem em risco este ano 35 mil empregos e 8.500 empresas do setor se este não for “olhado de forma diferente” pelo Governo.

“A solução é olhar para o setor do imobiliário e da construção de uma forma diferente daquela que está a ser olhado, sob pena de, este ano, se poderem perder 35 mil postos de trabalho e 8.500 empresas, mais do dobro das que encerraram no ano passado”, afirmou Reis Campos em declarações aos jornalistas no final de uma reunião com o presidente do Sindicato da Construção de Portugal para discutir os problemas do setor e “delinear soluções comuns” a apresentar ao Governo e aos partidos políticos.

Afirmando que estava “convencida” que, depois de em 2015 o setor ter atingido “o culminar de uma crise grave”, 2016 “ia ser um ano de estabilização”, a associação patronal lamenta que o Orçamento do Estado para 2016 “não traga nada de bom para o setor, para as empresas e para os trabalhadores”, porque “não insere de nenhuma forma o investimento público de que o país e o setor precisam”.

“Não há investimento público inserido neste orçamento. Fala-se da reabilitação urbana, mas não há nenhuma verba para a reabilitação urbana. É preciso captar investimento e os fundos que estão à nossa disposição, mas este orçamento é completamente restritivo”, sustentou Reis Campos.

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Considerando estar-se “perante uma situação em que não há definição das obras para este ano”, o líder da AICCOPN denuncia que são lançados concursos públicos, “mas metade desses concursos não são adjudicados”, pelo que se está apenas “a perder tempo e dinheiro e a criar expectativas”.

Por outro lado, a associação defende que “o setor não pode estar sujeito à indiferença em relação ao investimento estrangeiro”, assegurando que “há investidores que pretendem investir no imobiliário em Portugal, mas o país não dá resposta”, levando-os “a escolher outros países para fazer os seus investimentos”.

“Os investidores privados têm sido o motor da reabilitação urbana, mas tem que se lhes dar confiança, principalmente criando um quadro fiscal estável”, sustentou Reis Campos, defendendo que um setor que representa 13,3% do emprego nacional, num total superior a 600 mil trabalhadores, “não pode estar sujeito a ciclos políticos” e a manter-se “parado durante seis meses, como aconteceu, só porque há eleições”.

Já o presidente do Sindicato da Construção de Portugal, Albano Ribeiro, alertou que a conclusão próxima de várias grandes obras – como os túneis do Marão e as barragens de Salamonde e da Venda Nova — se traduzirá na perda de “7.000 postos de trabalho num espaço de cinco meses”.

Contudo, sustentou, “é possível inverter esta situação” se avançarem propostas há muito reclamadas pelo setor, como a aposta na requalificação urbana e em obras públicas de requalificação de hospitais, escolas e via férrea.

“Temos em Portugal 60.000 casas degradadíssimas. Se em cada casa trabalhassem cinco trabalhadores, no total seriam criados 300.000 postos de trabalho. Não estamos a falar em obras megalómanas, mas numa questão paisagística, de segurança e de qualidade”, afirmou o sindicalista.

Rejeitando o “argumento estafado” da falta de verbas públicas, Albano Ribeiro defende que o Governo português, em articulação com Espanha e Grécia, deve reclamar junto da ‘troika’ uma renegociação da dívida que lhe permita investir em “obras importantes”.

É que, alertou, “não há outro setor em Portugal que, a curto prazo, crie mais postos de trabalho do que a fileira da construção”.

Relativamente à internacionalização do setor, o presidente da AICCOPN afirmou que é “um dado adquirido” e uma aposta “para manter”, admitindo que “o problema é saber se as empresas portuguesas vão aguentar o desgaste permanente que África, nomeadamente Angola, está neste momento a causar”.

“Em 2014 representamos 17% do volume de exportação portuguesa e tivemos 9,8 mil milhões de euros de faturação no estrangeiro, 75% dos quais em África e 38% dos quais em Angola. As empresas foram para lá numa visão de futuro e querem manter-se em Angola, só estão à espera que esta situação passe para retomarem o lugar que ocupam”, sustentou Reis Campos.