Gana, Camboja, México, Marrocos, Cuba. As alterações climáticas, a imigração e as crises económicas são alguns dos problemas que afetam estes países e que os unem naquilo a que se convencionou chamar “países em vias de desenvolvimento”. Há outra coisa que lhes é comum: o facto de, em todos eles, uma organização não-governamental dos Estados Unidos ter realizado expedições para dar a conhecer aos estrangeiros as realidades locais. Em maio, Portugal vai juntar-se a esse clube.

“Portugal: o lado humano da crise económica” é o nome da expedição da UBELONG, organização fundada há sete anos em Washington, que vai trazer vinte pessoas de várias partes do mundo ao nosso país para “contactar com a face humana da crise”. No resumo da expedição pode ler-se:

Você não é um turista. Conhece portugueses de todas as idades e tem conversas reais e genuínas com eles. Vai a casa deles e conhece-os. Vê a bondade e a força das pessoas. Fica a conhecer os mais recentes sucessos empreendedores do país, tal como os avanços em todos os campos, incluindo a tecnologia, a medicina e a indústria”.

Se isto soa a coisa que geralmente só costuma ler em brochuras de voluntariado para países asiáticos e africanos, não está muito enganado. É o próprio Cedric Hodgeman, fundador da UBELONG, que o admite em entrevista ao Observador. “Sempre tivemos programas na Ásia, África e América Latina, mas nunca em países desenvolvidos. Os problemas sociais e ambientais em países como o Camboja, a Índia e o Equador são de facto mais graves do que os que se encontram em países como Portugal ou os Estados Unidos, mas ainda assim há milhões de pessoas nos países desenvolvidos que enfrentam desafios enormes, apenas para terem alimentação, educação, proteção e emprego”, diz.

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Os expedicionários, que vêm de sítios como o Brasil, os Estados Unidos e o México, vão passar dez dias em Portugal, entre Lisboa e o Douro vinhateiro. Logo no primeiro dia, na capital, “a equipa participará num workshop para que fique a conhecer a crise económica que tem afetado Portugal há mais de uma década”. Acabado o encontro, a organização promete um passeio turístico “fora do comum”:

“Utilizaremos a comida como forma de entender o povo português. Tal como os portugueses, vamos a bairros autênticos e fora dos circuitos turísticos. Passearemos por bairros como Alfama e Mouraria e faremos provas em vários restaurantes e cozinhas desconhecidas. Em cada sítio vamos provar a comida e, tão importante como isso, vamos ter conversas reais e sem filtro com os portugueses acerca das suas vidas”

Para Cedric, que veio viver para Lisboa em 2011, quando andava enamorado por uma portuguesa, “as pessoas têm importância” e foi por isso que quis fazer esta expedição ao país. “Em Portugal, o custo humano da crise económica é real. Atrás das estatísticas, dos números e dos discursos políticos há pessoas reais cujas vozes são frequentemente afogadas”, afirma ao Observador, sublinhando um dos lemas da UBELONG: “Vivemos num mundo real, não num vácuo académico”.

A viagem tem a duração de dez dias e um custo de 1.600 dólares (cerca de 1.400 euros). Além das visitas a Lisboa e ao Douro vinhateiro, os participantes vão fazer voluntariado no Banco Alimentar contra a Fome, vão ensinar inglês a crianças e vão visitar várias start-ups portuguesas. Do programa faz ainda parte uma visita à Assembleia da República, onde haverá um encontro com deputados.