Marina Silva, porta-voz do partido Rede Sustentabilidade, criticou esta terça-feira a nomeação de Lula da Silva para o ministério da Casa Civil do governo de Dilma Rousseff, e pediu que se faça “adequadamente a leitura das ruas”.

Logo que foi feita a nomeação eu entendi-a como uma espécie de paliativo para a crise, criando ali, num regime presidencialista, a figura do primeiro-ministro. Isso não está previsto na nossa Constituição. Depois de tudo o que aconteceu com essa nomeação, passei a ver [este ato] como um combustível de aprofundamento da crise. É preciso fazer adequadamente a leitura das ruas, que tinham acabado de se manifestar, dizendo que não estão satisfeitas com o que está aí”, disse em entrevista ao jornal Estadão.

Questionada sobre o processo de impugnação do mandato de Dilma Rousseff, a candidata derrotada nas eleições presidenciais de 2010 e 2014, admite a sua posição contrária sobre o tema, pois “não cumpre com a finalidade de resolver a crise e de passar o Brasil a limpo”.

No final do impeachment, a metade que patrocinou a crise estará lá, que é o PMDB. O PMDB, durante 12 anos, como irmão siamês do PT, indicou diretores para a Petrobras e tomou decisões políticas que nos levaram à crise. O Brasil está vivendo um momento de emergência económica, política e social. Não podemos, em hipótese alguma, permitir que haja emergência institucional”, disse em referência ao resultado da hipotética cassação de Dilma, quando Michel Temer, vice-presidente e filiado no PMDB, assumiria o cargo.

A porta-voz da Rede, no entanto, defende a cassação do mandato eleitoral da coligação PT/PMDB através do Tribunal Superior Eleitoral. “O que alcança a legalidade e a finalidade de resolver a crise seria o processo de cassação no TSE. Isso se ficar devidamente comprovado que o dinheiro da Lava Jato foi utilizado na eleição da chapa do PT e do PMDB. Os seis ministros do TSE devolveriam aos 200 milhões de brasileiros a possibilidade de reparar o erro que foram induzidos a cometer”, assegura.

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Marina reconhece a importância das manifestações contra o governo realizadas na última semana. “As pessoas estão se mobilizando porque querem dizer que o que está aí não as representa. As pessoas estão corretas. Se as lideranças e os partidos políticos deixaram tudo isso acontecer, as pessoas estão corretas em não querer que tirem casquinha do protesto”, explica.

Apesar de não se posicionar sobre a atuação do juiz federal Sérgio Moro nas investigações sobre Lula da Silva no contexto da Operação Lava Jato, a ex-senadora elogia os “mecanismo próprios de controlo” da Justiça. “A Lava Jato não grampeou a Presidente. O ex-Presidente Lula estava sendo investigado, havia autorização da Justiça para fazê-lo. E a conversa foi apanhada de forma fortuita”, defendeu.

A ambientalista admite ainda que não está satisfeita com as explicações dadas pelo ex-Presidente do Brasil à Polícia Federal. “Lula ainda está dando explicações, ainda está sendo julgado. As explicações ainda estão no processo. Obviamente, até agora, não são satisfatórias todas as respostas que vêm sendo dadas. Não só a esse caso, mas a todos os demais”, afirmou.

Marina Silva, candidata para as eleições presidenciais de 2018?

De acordo com a última sondagem para as eleições presidenciais de 2018, divulgada este domingo pelo instituto Datafolha, Marina Silva lidera a intenção de votos em todos os cenários apresentados aos entrevistados com 21% a 24%, de acordo com os prováveis oponentes como Lula da Silva, os senadores Aécio Neves e José Serra ou o governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin. A sondagem foi realizada nos dias 17 e 18 de março.

A porta-voz da Rede prefere não comentar o resultado. “Não é momento de ficar pensando em pesquisa. O mais importante não é quem esta à frente ou quem está atrás. É quem está apenas com 16% [de entrevistados que consideram que o hipotético governo Michel Temer seria bom ou ótimo] querendo ser o polo que vai resolver o problema da nação”, argumenta.

A ex-senadora não admite uma candidatura às próximas eleições presidenciais. “Acho precipitado você se colocar na fila de eleição antes de devolver a quem pode votar o direito de votar”, disse. “Se não tivermos uma atualização da política, quem quer que seja terá dificuldade de governar. Tanto é que aqueles que ganharam com um condomínio de partidos não estão conseguindo governar”, conclui.