O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), José Manuel Silva, defendeu esta segunda-feira a criação de medidas de “discriminação positiva” para promover a fixação de médicos no interior do país.
José Manuel Silva falava à entrada do Centro de Saúde de Oliveira do Hospital, que visitou a convite do presidente da Câmara, José Carlos Alexandrino, para se inteirar dos problemas relacionados com a falta de médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) neste concelho do distrito de Coimbra.
O bastonário criticou a falta de médicos de família, neste e noutros concelhos do interior, que considerou “um problema de contratação” destes profissionais para o SNS.
“Haja vontade de apostar no Serviço Nacional de Saúde”, disse, ao defender que esta “é a forma mais eficiente e mais barata de prestar cuidados de saúde à população” portuguesa.
Para José Manuel Silva, que prestava declarações aos jornalistas, trata-se de “uma responsabilidade dos governos e um direito que as câmaras municipais têm de exigir” uma cobertura mais equilibrada do território pelos cuidados de saúde primários que devem ser assegurados pelo SNS.
Até 2017, cerca de 750 médicos “vão acabar a especialidade”, salientou, ao lembrar que um elevado número de profissionais emigrou ou optou pela reforma antecipada nos últimos anos e que, mesmo assim, Portugal “é o quarto país da Comunidade Europeia com mais médicos”.
O bastonário realçou a importância de o atual Governo tentar inverter o problema da escassez de médicos no setor público, ao permitir, através do Orçamento dO Estado deste ano, que os reformados regressem ao trabalho no SNS, auferindo 75% do vencimento, a acumular com a pensão de reforma.
“Vamos resolver os problemas do país”, desde que “numa “fase transitória” sejam tomadas “medidas minimamente atrativas” que levem os médicos a fixar-se nos municípios do interior, preconizou.
José Manuel Silva sublinhou que “o vencimento médico é tão baixo em Portugal” que os médicos “preferem emigrar” para países da Europa onde “a sua qualidade é reconhecida e apreciada”.
“Provavelmente, no próximo ano todos os portugueses já terão médico de família”, acrescentou.
Portugal “não tem falta de médicos”, os quais estão a ser formados “muito acima das necessidades” do país, afirmou o bastonário.
“Oliveira do Hospital tem seis mil pessoas sem médico de família”, lamentou José Carlos Alexandrino, durante a visita, em que participou o médico Avelino Pedroso, presidente do Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal Interior Norte (ACES PIN).
O autarca, eleito pelo PS na condição de independente, deu ainda o exemplo de Lagares da Beira, freguesia do concelho “sem médico de família há dois anos”.
José Carlos Alexandrino mostrou-se convicto de que a falta de médicos tem originado “um aumento do número de mortes” no concelho, sobretudo entre “famílias mais pobres que não têm voz para reivindicar” o direito constitucional a cuidados básicos de saúde, como no litoral e nos grandes centros urbanos.
Em Oliveira do Hospital, o bastonário da Ordem dos Médicos visitou o Centro de Saúde, a extensão de saúde de Lagares da Beira, o hospital privado da Fundação Aurélio Amaro Dinis e a sua Unidade Móvel de Saúde.