Continuam os ataques mútuos em torno da política de Educação do Governo. Pedro Passos Coelho não muda uma linha ao que disse sobre os alegados “interesses corporativos” do ministro da Educação e faz mais: diz que o Governo “não está a fazer bem as contas” e que “não está a fazer uma discussão alargada sobre o que pretende com estas alterações”. “É manifesto que há interesses corporativos, que não são os interesses dos estudantes, porque se fossem as coisas estariam a ser tratadas de outra maneira, com outra transparência”, disse esta terça-feira à saída de uma reunião com o Conselho Nacional de Educação, depois de ter passado o dia em visita a escolas.
Mantendo a crítica que tinha feito no sábado, durante as comemorações dos 42 anos do PSD, sobre os “outros interesses” que alegadamente movem o governante que tutela a Educação, Passos voltou a não concretizar. Mesmo depois de, no espaço de dois dias, o Governo ter-se unido para exigir “explicações” ao líder do PSD sobre as “graves insinuações” que fez.
“As famílias e os estudantes não têm culpa nenhuma de o Governo querer tomar decisões nesta matéria não a pensar nas famílias e nos estudantes mas a pensar, eventualmente, como já tive ocasião de dizer, noutros interesses, que não são os interesses gerais da comunidade, mas interesses muito definidos quer do ponto de vista corporativo quer ideológico”, afirmou Pedro Passos Coelho aos jornalistas.
À saída de uma reunião com o Conselho Nacional de Educação, no final de um dia dedicado ao setor educativo, o líder do maior partido da oposição disse não querer “acreditar que o Governo esteja a propor aos portugueses um tal retrocesso apenas porque está condicionado por uma força sindical, nem sequer é por um sindicato, ou por uma cegueira ideológica”. Mas não concretizou a que estrutura sindical se estava a referir, e sublinhou que o recurso a contratos de associação com o ensino particular e cooperativo para assegurar oferta pública de educação “não custa mais dinheiro ao Estado e aos contribuintes”.
Sobre a insistência do Governo para se justificar, de resto, Passos limitou-se a dizer que “a melhor maneira não é o Governo fechar-se e atacar a oposição”. “Era melhor que o Governo revelasse alguma humildade para fazer uma discussão serena sobre esta matéria”, disse, rejeitando a necessidade de ter de concretizar as acusações feitas ao ministro. “Acabei de reiterar uma parte significativa do que já tinha dito, não creio que precise de voltar a essa crítica”, afirmou quando questionado pelos jornalistas.
Passos contra construção de novas escolas públicas
Segundo Passos, o Governo está a ser “anacrónico” e “retrógrado” ao querer reduzir o serviço público de educação à escola pública. “Todas estas escolas desenvolvem serviço público de educação”, disse, sublinhando que as escolas do ensino particular e corporativo com as quais o Estado tem contratos “não são escolas privadas, não geram lucro”. “Essa oposição entre escola pública e privada é uma falsa oposição”, disse.
Questionado pelos jornalistas sobre se essas escolas com contratos de associação devem ser exceção, Passos afirmou que já hoje o são, representando “apenas cerca de 2% da despesa geral que o Estado tem com educação”.
E foi mais longe, criticando a construção de novas escolas públicas quando há escolas privadas já “disponíveis” na mesma área geográfica. “Não há nenhuma razão para que o Estado esteja a substituir essas escolas privadas, por escolas públicas que irão construir, despendendo mais dinheiro aos contribuintes, quando existem equipamentos que estão disponíveis nessas organizações e que não são mais caros do que os do Estado”, defendeu.