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A nova vida de Paulo. De Marrocos a Abu Dhabi

Este artigo tem mais de 5 anos

Foi a Marrocos, aos Emirados Árabes Unidos, deu entrevistas e conselhos. Nos últimos dois meses antes de deixar de ser deputado da Assembleia da República, Paulo Portas esteve tudo, menos sossegado.

Paulo Portas estava sentado numa poltrona cinzenta, perna traçada, fato preto, óculos de massa. À direita tinha Geoffrey David Porter, presidente da NARCO – North Africa Risk Consulting e à esquerda estava acompanhado por Rula Ghani, a primeira-dama da República do Afeganistão. Eram 17h11 e passavam apenas cinco dias desde que o democrata-cristão-conservador-liberal deixara a liderança do CDS. Ainda era deputado da Assembleia da República mas, naquela tarde de março de 2016, estava a 1.749 quilómetros de Lisboa. O que andava Paulo Portas a fazer nos seus últimos dias como parlamentar, antes de se saber que ia trabalhar para a Mota-Engil, para a Universidade Nova, para a TVI, para a câmara do comércio, para fazer consultoria, dar conferências e sabe-se lá que mais?

Volto ao setor privado onde nasci, cresci, tive iniciativa e em que sempre acreditei”, diz Paulo Portas ao Observador.

Foi ministro com o pelouro da diplomacia económica, por isso esta passagem rápida para o mundo empresarial já começou a dar polémica (embora não seja ilegal à luz da lei das incompatibilidades). “Sempre disse que na globalização a internacionalização das empresas é determinante. É nessa área que trabalharei em várias frentes”, afirma ao Observador. Na Mota-Engil será responsável pelo novo Conselho Internacional da construtora e deverá focar-se nos mercados da América do Sul cujo conhecimento Portas aprofundou ao longo dos últimos cinco anos no Governo. “O dr. Paulo Portas entrará como consultor e o objetivo é apoiar-nos na internacionalização, com grande incidência na América Latina, mas também para outros mercados onde a Mota-Engil ainda não está presente”, afirmou António Mota, presidente da empresa, à Lusa.

Mesmo com pouco trabalho parlamentar — é esta terça-feira que deixa oficialmente de ser deputado — não tem sequer tido tempo para ir ao cinema, nem a horas tardias, como costumava e gostava de fazer. Ainda não tem escritório, mas anda à procura. Leu recentemente a primeira parte da biografia de Kissinger, do historiador escocês Niall Ferguson, e ficou fascinado. “Tem andado muito ocupado, participa e organiza uma série de conferências, pelo menos é isso que nos responde quando lhe perguntamos o que tem feito”, confidenciava um alto dirigente do CDS ao Observador, ainda antes de o ex-líder se despedir do Parlamento — o que viria a acontecer apenas na quinta-feira passada, 2 de junho.

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Naquela sexta-feira à tarde — quando tinha a primeira-dama afegã a seu lado — o ex-líder do CDS estava em Dakhla, numa península que fica na zona ocidental do deserto do Saara, em Marrocos. Participava num encontro organizado pelo Crans Montana Forum, uma organização internacional não-governamental suíça, conhecida por promover contactos ao mais alto nível político e empresarial. Paulo Portas foi recebido pelo Reverendo Jesse Louis Jackson, um conhecido defensor dos direitos humanos norte-americano, para participar no painel de debate sobre Segurança Humanitária.

Participar em conferências e eventos foi uma das principais atividades de Paulo Portas nas últimas semanas como deputado da Assembleia da República. Conforme confirmaram vários centristas ao Observador, sabendo que estava de saída do Parlamento, não fazia sentido que Assunção Cristas atribuísse a Portas quaisquer áreas específicas de trabalho ou de investigação no âmbito parlamentar. O Expresso revelou esta segunda-feira que Portas já tinha assinado um contrato com uma das grandes empresas mundiais de agenciamento de conferencistas, a Thinking Heads, baseada em Madrid. Segundo o jornal, é a agência de Felipe González, Joseph Stiglitz ou Richard Branson. A preparação das conferências leva-lhe tempo. Desde janeiro que não faz outra coisa senão preparar-se para falar a audiências VIP.

Não havia muita gente que soubesse em detalhe o que Portas andava a fazer mas era visto nos plenários. Sentava-se nas filas de trás, frequentemente ao lado do seu ex-colega de Governo, Pedro Mota Soares, de João Rebelo e de Telmo Correia. Fazia questão de intervir pouco, para não ser mal interpretado, para não se pensar que queria ensombrar a nova liderança de Assunção Cristas.

Mas isso não quer dizer que nos cerca de dois meses e meio que mediaram entre a sua saída da liderança — e o consequente anuncio de que deixaria de ser deputado — e o efetivo adeus à Assembleia não tenha intervindo na vida do partido. Os mais próximos continuavam a pedir-lhe conselhos. Pedro Mota Soares, por exemplo, foi visto a trocar bolas sobre economia e turismo com o ex-líder.

A diferença é que “agora está mais circunscrito”, garante um deputado do CDS. “Quando era presidente, era conhecido por contactar a toda as horas, sem horas, e isso agora não acontece”, explica. E a diminuição do número de chamadas ou de conversas pessoais com o grupo parlamentar dos centristas não foi trocada por nenhuma outra via de contacto mais tecnológica. “Emails? Não há troca de emails com ele. Está um pouco melhor, mas continua um infoexcluído”, assegura a mesma fonte. Usa o email como se fossem mensagens curtas de sms.

Quem não sabia dessa aversão às novas tecnologias era a organização do Crans Montana Forum. Nos posts que publicou no twitter sobre a participação de Paulo Portas, incluiu a ligação para @Paulo_Portas. Acontece que esta não é a conta do centrista — até porque, que se saiba, Portas não participa no Twitter — é uma conta de paródia.

Um facilitador de negócios

“Na área de internacionalização, Paulo Portas é o grande pilar. Chega a um mercado e já conhece as empresas”, conta Bruno Bobone, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa. Foi a primeira nova função de Paulo Portas e assumiu o cargo apenas três dias depois do congresso em que deixou a liderança do partido: sem qualquer remuneração, garante a CCIP, Paulo Portas é o vice-presidente com o pelouro da internacionalização.

“Tendo Paulo Portas tido um papel fundamental, enquanto foi ministro do anterior Governo, na abordagem de novos mercados, achámos que era a pessoa indicada para continuar esse trabalho”, justifica Bruno Bobone, em declarações ao Observador.

O presidente garante que o ex-líder do CDS “dá contributos para todos os projetos [da CCIP] porque tem um entendimento muito completo.” Por exemplo, foi “o palestrante principal” numa conferência organizada pela CCIP sobre o mercado de Cuba, onde também participou a embaixadora cubana Johana Tablada. O evento foi uma espécie de workshop. Houve um enquadramento histórico, feito por Jaime Nogueira Pinto, que deu conta das relações entre os dois países.

Mas o essencial sobre como se faz negócios em Cuba foi Portas quem revelou. Foi mais do que dar conta do contexto económico ou do perfil do país: contou aquilo que qualquer empresário precisa de saber quando vai à procura de negócios. Em termos simples, explicou como é que o país funciona. Aliás, Cuba vai ser a próxima viagem de Paulo Portas, já na próxima semana, em missão para a CCIP.

É que a CCIP não faz só a coordenação entre as várias câmaras de comércio bilaterais. No fundo, desenvolve um papel muito mais importante para os empresários: faz lobby, ajuda a procurar oportunidades, traz investimento, potencia negócios.

É também por isso que Paulo Portas não se reúne apenas com os colegas da direção — o presidente Bruno Bobone e o vice-presidente José Miguel Júdice — cerca de uma vez por mês. Reúne-se também com os associados e por vezes até com os próprios departamentos de exportação das suas empresas.

Sua excelência, no Abu Dhabi

“Sua Excelência Paulo Portas foi o vice-primeiro-ministro português entre 2013 e 2015. Foi também ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros entre 2011 e 2013 e ministro da Defesa de 2002 a 2005” — estas são as duas primeiras frases da apresentação de Paulo Portas na notícia publicada pela Academia Diplomática dos Emirados, uma escola de estudos de diplomacia e liderança do Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. A 22 de maio, esta era a plateia de Paulo Portas:

Paulo Portas numa conferência organizada pela Emirates Diplomatic Academy, em Abu Dhabi.

Paulo Portas dá uma palestra numa conferência organizada pela Emirates Diplomatic Academy, em Abu Dhabi.

A “figura proeminente”, como também se referem a Portas na notícia publicada pela Academia, explicou que a diplomacia económica se está a tornar cada vez mais relevante no mundo globalizado. “A globalização mudou a própria natureza da diplomacia e os Emirados Árabes Unidos compreenderam este fenómeno”, defendeu Portas.

“Na ocasião, Sua Excelência apelou às embaixadas que adotassem o conceito de “Uma Embaixada Uma Equipa”, unindo responsabilidades, partilhando informação e agindo em conjunto para alcançar o sucesso na diplomacia económica”, continua a notícia, que correu o mundo, através da agência Zawya, parceira da Reuters.

Paulo Portas numa conferência organizada pela Emirates Diplomatic Academy, em Abu Dhabi.

Paulo Portas numa conferência organizada pela Emirates Diplomatic Academy, em Abu Dhabi.

Mas não foi só no estrangeiro que o ex-líder do CDS participou em conferências. Uma semana antes, a 5 de maio, tinha estado na Fundação Calouste Gulbenkian, numa mesa redonda cujo tema era “Lisboa na Globalização”. Participaram também Luís Amado, Presidente das Conferências de Lisboa, a organizadora do evento, e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, e António Monteiro, também ex-ministro da mesma pasta. O moderador foi Hélder de Oliveira, diretor executivo da Fundação Portugal-África.

Já no fim de semana passado, se tudo tiver corrido como planeado, terá participado num encontro que se esperava mais descontraído e animado: numa notícia de maio, o Funchal Notícias dava conta de que Paulo Portas e Assunção Cristas seriam os padrinhos do casamento de José Manuel Rodrigues, ex-líder do CDS-PP e atual deputado na Assembleia Legislativa da Madeira, com Anny Vieira. O “nó” estava agendado para 4 de junho, o sábado do Congresso do PS.

Próxima paragem: Cuba

No feriado do 10 de junho, dia de Portugal, o ex-líder do CDS estará no Brasil. O evento é o “Experimenta Portugal” e Portas participará num seminário sobre empreendedorismo onde o objetivo é partilhar experiências. O centrista vai entrar no painel “Transformar Ideias em Negócios: A Voz dos Empreendedores”, pelas 14 horas locais.

Dois dias depois é esperado em Cuba. Entre 12 e 17 de junho, a Câmara de Comércio vai organizar uma missão empresarial a Cuba, acompanhada pessoalmente pelo vice-presidente Paulo Portas. A ideia é continuar o trabalho que já tinha sido iniciado com o workshop sobre este mercado, realizado na sede da CCIP.

Espera-se agora pelo programa de comentário televisivo à política internacional, que arrancará em setembro com um formato inovador, mas de que ainda se desconhecem pormenores. Também dará aulas no MBA da Nova School of Business and Economics. Como um dia disse António Vitorino, melhor do que ser ministro, é ser ex-ministro.

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