O Bloco de Esquerda já reagiu à nomeação de Paulo Portas para presidente do Conselho Internacional da Mota-Engil. Para Pedro Filipe Soares, líder da bancada parlamentar do Bloco, este é “mais um daqueles casos” em que um “ex-governante salta para um cargo de uma empresa privada” para potenciar a rede de contactos que construiu enquanto membro do Executivo. “[Prova], mais uma vez, que o interesse privado sai sempre beneficiado“, diz, em declarações ao Observador.

Nas declarações que prestou ao Expresso, Paulo Portas garantiu que o cargo que ora vai ocupar não encerra em si qualquer tipo de incompatibilidade com as funções que ocupou no Governo de Pedro Passos Coelho — primeiro, como ministro dos Negócios Estrangeiros, com um grande foco na internacionalização da economia, e depois como vice-primeiro-ministro. Diz o ex-líder do CDS que, um, nunca teve uma tutela direta no setor das obras públicas e, dois, nunca beneficiou a Mota-Engil nas viagens que fez ao exterior para atrair investimento. “Lutei por eles [Mota-Engil] lá fora como lutei por ‘n’ outras empresas”, disse ao Expresso.

Ora, Pedro Filipe Soares e o Bloco têm outro entendimento. “[Paulo Portas] está claramente a utilizar agora os contactos que fez quando andou pelo mundo a fazer negócios em nome do Estado e a promover os vistos Gold“, diz o bloquista, lembrando que o principal investimento dos vistos dourados estava concentrado, precisamente, no setor imobiliário. Um setor no qual a construtora Mota-Engil tem natural interesse.

Mas há mais. Pedro Filipe Soares lembra também que a Mota-Engil “pertence ao conglomerado de empresas de construção que renegociou com o Governo anterior as Parcerias Públicas Privadas”. Tudo somado, o bloquista não tem dúvidas: “Não há almoços grátis“.

Os bloquistas, que depois da nomeação de Maria Luís Albuquerque para consultora da Arrow Global tentaram apertar a malha a deputados e ex-governantes que migram para o setor privado, esperam que esta nomeação relance o debate e que acelere a discussão na comissão eventual criada para o efeito. “Temos de acabar com os alçapões que permitem sempre os abusos à lei“, diz ao Observador.

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