Há um programa de aceleração de empresas que quer crescer em solo português. Chama-se Startup Creator, foi fundado por dois alemães que estudam há dois anos na Universidade Católica de Lisboa e pretendem levar jovens empreendedores que querem construir apps “pela mão”. Como? Ajudando na conceção da ideia, no design e no desenvolvimento da aplicação. Têm escritórios da Índia e na Alemanha e querem estabelecer-se também em Portugal, a partir de agosto.

O conceito é simples: todos os que tenham uma ideia para criar uma nova aplicação — para Android, iOS ou ambos — podem chegar até à Startup Creator. A partir daí, começa um processo que, dizem Stefan Schneider e Florian Hübner, fundadores da aceleradora, pode levá-los ao sucesso. A Startup Creator ouve-os, verifica se a ideia tem potencial, pode até reorientá-la para a encaminhar para uma ideia de sucesso — que corresponda “às necessidades do mercado”. E a partir daí cria a identidade da aplicação, “isto é, o design, o logótipo, tudo o que gira em torno da app. E, no fim, o website para a aplicação”, explica Florian ao Observador.

O preço que oferecem “a estudantes mas também a jovens profissionais que adoravam poder montar a sua própria empresa” é muito competitivo, garantem. Tudo porque a equipa de programadores da Startup Creator é composta por profissionais indianos, que vivem na Índia, o que permite diminuir em muito os custos de trabalho da empresa.

Conseguimos vender apps, por exemplo, por 1.500 euros. Em Portugal e na Alemanha, por exemplo, uma app custa entre 20.000 a 30.000 euros. Nós conseguimos um preço dez vezes inferior ao que se pratica na Europa. Fizemos um teste na Polónia, que é um país conhecido por ser muito barato, e mesmo assim os custos que vimos eram dez vezes superiores aos que se praticam na Índia”, explica Florian Hübner.

A equipa que recrutaram na Índia, de “50 freelancers, que são ou designers ou programadores”, surgiu a partir dos conhecimentos de Florian Hübner. O empreendedor germânico conheceu-os em 2012, em Paris, enquanto fazia Erasmus, conta Stefan Schneider ao Observador. “Eram muito especializados na área da programação e o Florian começou a discutir ideias com eles, para tentar construir algumas sinergias”. Esses conhecimentos ficaram em standby. Até 2015, altura que Florian pensou ser boa para retomar o contacto.

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O ano passado, Florian começou a pensar no assunto. E a achar que agora, que o mercado das apps está em grande crescimento, seria uma boa altura para retomar o contacto com eles e começarem a criar alguma coisa. Também queria verificar, claro, como é que eles trabalhavam, se eram tão bons quanto diziam. Começou a testá-los e viu que tinham alta qualidade. É que, na Índia, os jovens crescem a saber programar”, explica Stefan Schneider, acrescentando que os dois vão viajar pela primeira vez para a Índia, em agosto, para rever a sua equipa — que trabalha à distância — e conhecer mais pessoas.

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No equity, no party? Think again

Uma das coisas que diferencia a Startup Creator de outras aceleradoras é o facto de não exigirem nenhuma quota às startups a quem vendem serviços. “Damos aos empreendedores que nos procuram liberdade total. Não dependem de nós, são completamente independentes. A partir do momento em que têm o produto [a aplicação], é o seu produto. Outras aceleradoras exigem uma fatia do bolo, às vezes mais de 50% da startup. Nós não. Não queremos nenhumas ações, só queremos ter relações de longo prazo com os nossos clientes”, explica Florian Hübner.

Em Portugal, Stefan Schneider e Florian Hübner veem um mercado com grande potencial de crescimento mas com uma falha que dificulta o nascimento de novas startups: “Há poucos programadores e, os que existem, por norma, não vão trabalhar para startups“, dizem. Daí que se queiram impor no país, e em particular em Lisboa (onde vivem), que, “apesar de ainda não ser Berlim ou Londres, está a crescer muito mais rápido que outras cidades, como essas” e onde veem “um crescimento muito rápido e um grande espírito empreendedor, que sentimos ao ver a quantidade enorme de pessoas que sonham ter o seu próprio negócio, que inovam e que gostam de inovar”, diz Stefan Schneider. Para ajudar “com o marketing” e com a “expansão” da Startup Creator em Portugal, contam com o apoio do departamento de marketing da Universidade Católica, que, garantem, tem sido uma grande ajuda.

Neste momento, a Startup Creator tem em mãos dois projetos para desenvolvimento de aplicações e, até ao final do ano, conta ter até 12 apps desenvolvidas no mercado. Apesar de quererem focar-se no desenvolvimento de aplicações, os responsáveis do programa de aceleração afirmam que estão abertos a outros projetos e até já receberam propostas para desenvolverem projetos ligados à realidade virtual e realidade aumentada. “O nosso objetivo a longo prazo é tornarmo-nos uma empresa de tecnologias de informação consolidada na Europa, para esses serviços, se não mesmo um dos principais players [atores]” do ecossistema empreendedor europeu, apontam. De investimento é que nem querem ouvir falar.

Mesmo que um investidor nos oferecesse algum financiamento, em troca de ações, por exemplo, nós recusávamos. Porque queremos alavancar a empresa com os nossos recursos, queremos fazê-lo sozinhos e isso é possível. Aliás, fazemo-lo porque é possível”, explica Stefan Schneider. Florian Hübner acrescenta: “Se uma pessoa quiser uma app, construímo-la até à fase de desenvolvimento, sem custos para o cliente, e isso pode-nos custar algum dinheiro. Mas depois o cliente quer ficar com ela e paga-a. Queremos ter flexibilidade e isso não é possível com investidores.”