O risco associado à Terapia Hormonal de Substituição (THS) é maior do que se pensava, refere um novo estudo publicado pelo British Journal of Cancer. O risco de cancro associado a algumas variantes deste tratamento — prescrito para aliviar os sintomas da menopausa (afrontamentos, enxaquecas, alterações de humor, depressão, entre outros) — é conhecido há mais de uma década. O que esta nova investigação diz é que o risco tem sido subavaliado nos estudos anteriores em cerca de 60 por cento.

“O que descobrimos é que os riscos da THS combinada são maiores do que a maioria da literatura especializada poderia sugerir”, disse Anthony Swerdlow, professor de epidemiologia no The Institute of Cancer Research ao jornal The Guardian.

Os resultados agora conhecidos confirmam e ampliam o risco das mulheres que fazem este tratamento de virem a ter cancro da mama — em especial as que fazem THS combinada (com as hormonas estrogénio e progesterona).

O estudo analisou mais de 113 mil mulheres, entre 2003 e 2015, incluindo mulheres pré e pós-menopausa, mulheres que estavam a fazer terapia hormonal (combinada ou não), que não estavam a fazer ou que já tinham feito no passado. Destas, 39 mil mulheres foram seguidas durante seis anos. Neste período, 775 destas mulheres (quase 2 por cento) desenvolveram cancro da mama. As mulheres que fizeram terapia combinada (com a duração média de 5,4 anos) estavam 2,7 vezes mais propensas a desenvolver este tipo de cancro do que as mulheres que nunca tinham feito THS.

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Nas mulheres que fizeram THS apenas com estrogénio não foi registado um risco aumentado e nas mulheres que seguiram a terapia combinada também não foi detetado um risco aumentado, um a dois anos depois do fim do tratamento.

Segundo a investigação, as mulheres que recorrem à THS combinada têm cerca de três vezes mais hipóteses de vir a desenvolver cancro da mama, mas os estudos anteriores subavaliaram o risco, por várias razões. Umas delas, porque não seguiram as mulheres durante um período de tempo prolongado. A falta de precisão dos trabalhos anteriores deve-se também ao facto de não terem contabilizado as mulheres que deixaram de utilizar a THS durante o período do estudo. Ou seja, se tiverem desenvolvido cancro mais tarde, este não foi contabilizado.

Os especialistas britânicos alertam para o facto de que os dados obtidos precisam sempre de ser ajustados, introduzindo nos cálculos do risco fatores tais como a idade das mulheres ou o tempo de utilização da THS.

Os nossos resultados mostram que o risco de cancro da mama aumenta com a duração do uso de THS combinada durante 15 ou mais anos e os riscos relativos na maioria da literatura publicada são suscetíveis de ter sido substancialmente subestimados devido à falta de acompanhamento das mulheres que fazem THS”, lê-se no estudo.

Afinal quão segura é a THS?

A Terapia Hormonal de Substituição é um tratamento para os sintomas da menopausa envolto em controvérsia. Em 2003, um estudo publicado na revista médica The Lancet alertava para o risco aumentado de cancro da mama em mulheres que realizavam THS combinada. Dois anos depois, em 2005, o mesmo grupo de investigadores da Women’s Health Initiative publicou uma pesquisa (também na The Lancet) que alertava para o risco do cancro do endométrio em mulheres que faziam tratamento com THS apenas com estrogénio.

Apesar das conclusões de ambas as investigações terem sido amplamente debatidas e até postas em causa no seio da comunidade médica internacional, muitas instituições ligadas à investigação oncológica fizeram advertências quanto à utilização deste tipo de terapia. A eficácia no tratamento dos sintomas da menopausa nunca foi posta em causa.

As opiniões dos médicos dividem-se, até porque os sintomas da menopausa variam entre regiões geográficas e até de mulher para mulher. Alguns continuam a prescrever a THS, pois consideram que o risco de cancro é baixo e os benefícios para as mulheres que sofrem com a menopausa compensam o risco. Outros preferem não a recomendar de todo, devido aos eventuais riscos (independentemente do grau de risco associado). Ou seja, nem os médicos se entendem, afirma Rose George.

Os cientistas continuam a tentar decifrar de forma clara e objetiva a relação entre a Terapia Hormonal de Substituição e o eventual risco de cancro. Até agora, acredita-se que o maior risco pode ser explicado por um aumento da exposição a hormonas que também afetam o desenvolvimento e o crescimento de alguns tumores.