O vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, partido do Governo), Diosdado Cabello, acusou o Vaticano, na segunda-feira, de pretender usar o diálogo entre o Governo e a oposição para “tutelar” o país.

“[É uma] falta de respeito, irresponsável, acreditar que desde o Vaticano vão tutelar a Venezuela. Não, senhor Parolin [Pietro, representante do Vaticano], o senhor está equivocado. Quando dizemos que somos livres, que somos soberanos, é porque somos livres e soberanos, absolutamente, e não aceitamos tutela de ninguém”, disse.

Diosdado Cabello, que é tido como o segundo homem do ‘chavismo’, falava no Estado venezuelano de Anzoátegui, a sudoeste de Caracas, num ato de comemoração da batalha de Urica, durante o qual acusou o representante do Vaticano de estar “assumindo posições da direita venezuelana”.

“O Vaticano não é nenhum intermediário, não é nenhum mediador. Está aí como convidado, um facilitador. Não tem direito a voto, nem a fazer propostas, nem a tratar de inclinar a sua posição para o setor ‘a’ ou ‘b’. Deveria ser total e absolutamente objetivo. Ouviu, senhor Pietro Parolin?”, disse.

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Diosdado Cabello acusou ainda o cardeal de ser “militante da oposição” e de odiar os socialistas venezuelanos.

“Respeite que nós não nos metemos nas coisas internas do Vaticano. Nós não nos metemos com os padres acusados de pedofilia. São vocês que têm de arranjar isso. Não se metam nos assuntos internos dos venezuelanos, porque nós solucionamos os nossos assuntos internos”, disse.

No centro da polémica está uma carta confidencial que teria sido assinada por monsenhor Pietro Parolin e enviada ao Presidente Nicolás Maduro, com pedidos do Vaticano.

Na carta, cujo conteúdo chegou à imprensa venezuelana, o Vaticano requer ao Governo que, até 6 de dezembro (esta terça-feira), tome medidas para o ingresso de alimentos e medicamentos no país, para aliviar a crise humanitária.

Também quer que liberte os presos políticos, que chegue a um acordo sobre um calendário eleitoral e que restitua as competências do parlamento, estabelecidas na Carta Magna.

A carta termina explicando que “a Santa Sé se reserva o direito de fazer pública” a comunicação, “quando considerar conveniente”, tendo sido dirigida ainda ao representante do ‘chavismo’ na mesa de diálogo, Jorge Rodríguez, ao secretário-geral da União de Nações da América do Sul, Ernesto Samper, aos ex-presidentes José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), Leonel Fernández (República Dominicana) e Martín Torrijos (Panamá), e à oposição venezuelana.

No dia 30 de outubro, o Governo venezuelano e a oposição iniciaram um diálogo, sob a mediação do Vaticano e da Unasul, que terminou com a decisão de ambas as partes de instalar quatro mesas de negociação.

A 1 de novembro, o parlamento, onde a oposição detém a maioria, adiou, “por alguns dias”, um debate para determinar a responsabilidade política do Presidente Nicolas Maduro, acusado da “rutura da ordem constitucional” no país, na sequência de um pedido feito pelo Vaticano.

A 12 de novembro, o Governo venezuelano e a oposição acordaram trabalhar conjuntamente para a recuperação da economia e o combate à insegurança, tendo agendado nova reunião de diálogo para esta terça-feira, 6 de dezembro.

Decidiram ainda “baixar o tom” dos discursos e promover a paz com base no reconhecimento e respeito mútuo. Foram ainda definidos objetivos para normalizar o respeito entre os diferentes poderes e para normalizar o abastecimento de alimentos e medicamentos à população.

No passado dia 30 de novembro, a Mesa de Unidade Democrática (MUD), na oposição, anunciou que abandonará o diálogo se, até esta terça-feira, o Governo do Presidente Nicolás Maduro não cumprir os acordos assumidos.

“O Governo deve cumprir com os compromissos que assumiu (…). Até que isso ocorra, a MUD irá rever a sua presença na mesa de diálogo em termos que serão anunciados publicamente a 6 de dezembro. Só quando o Governo der sinais claros de cumprimento dos compromissos, será retomada em pleno a participação [da MUD] na mesa de diálogo”, lê-se num documento divulgado em Caracas.