— “Deixem-me contar-vos uma história: uma vez fui a um bar e houve uma rapariga, muito engraçada, que me chamou a atenção. Eu meti conversa com ela, sentei-me e estivemos a brincar e a beber uns copos até às quatro da manhã. Rimos. Divertimo-nos. Foi um fartote. Depois, chega um homem e leva-a para a casa de banho para fazer amor com ela.”

Na antevisão do Braga-Benfica, o treinador Jorge Simão levou à sala de imprensa uma história caricata que ouvira a Jorge Sampaoli. À época, Sampaoli (hoje treinador do Sevilha) era selecionador chileno, o Chile teve 73% de posse de bola no final de um jogo, mas seria derrotado (3-0) pelo Uruguai. “Moral da história: pouco interessa o que se passou; eu tive muito mais posse de bola”, concluiria Simão, gracejando. Mas a real mensagem do treinador, ao contrário do que a ligeireza do discurso aparentava, era coisa séria: para ele, Simão, a posse de bola (e o futebol mais “rendilhado”) é pouco importante quando no final se é derrotado. O que queria era vencer o Benfica este domingo à noite, ponto.

Na “Pedreira”, não teve “muito mais” posse — como a que o Chile tivera frente aos uruguaios. A bola até foi repartida entre Braga e Benfica, ela por ela. Mas o Braga de Simão teve, isso sim, mais ocasiões de golo. O problema (para ele, entenda-se) é que, recuperando a história de Sampaoli novamente, enquanto Rodrigo Pinho só “conversou”, Mitrolgou chegou de rompante e levou a “rapariga” (leia-se: vitória) para o estádio da Luz.

Isto no espaço de somente quatro minutos.

Aos 76’, e no primeiro remate à baliza desde o recomeço, Battaglia recuperou a bola a meio-campo – Pizzi foi molengão e deu-se mal com o argentino –, o Benfica foi apanhado em contra-pé na defesa, Battaglia demorou muitos, muuuitos “mississippis” a desfazer-se da bola, correu com ela, olhou em volta, continuaria a correr e voltaria a olhar, mas lá desmarcou Rodrigo Pinho na área, com o avançado brasileiro descaído para a direita. Depois, foi vê-lo, Pinho, a rematar na passada, tendo apenas Júlio César pela frente. Mas o remate foi na direção do guarda-redes do Benfica e este segurou-o.

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Logo a seguir, aos 80’, Pizzi redimiu-se do que fizera pouco antes. Assis é mais de recuperar bolas do que de as perder. Mas perdeu, bem no centro do meio-campo, para o médio do Benfica. Depois, de Pizzi a bola seguiu para Jiménez e deste para Mitroglou à direita, descaído sobre a esquina da área. Tinha Goiano à sua frente, Pedro Santos e a Assis a chegar vindos de trás, e enfiara-se numa “cabine telefónica”. Nada de que Mitroglou não se desenvencilhe: rodopiou, colocou a bola entre os dois, Goiano e Santos, fintou Assis a seguir e rematou cruzado, entre Marafona e o poste. O primeiro drible do grego, mesmo que devagar, devagarinho, é uma verdadeira obra-prima. Ele que até é de “molhar a sopa” contra os bracarenses: é o quinto golo em outros tantos jogos.

Mas não foi só Pinho quem deu conversa à “rapariga”. Em vão, também a deram Pedro Santos e Battaglia na primeira parte.

Tardou, mas lá chegou. Aos 11’, ei-lo, o primeiro remate na direção da baliza. Goiano cruzou desde a esquerda, um cruzamento longo, muuuito longo que só caiu no poste contrário, Eliseu não se apercebeu que tinha Pedro Santos nas costas e o extremo bracarense rematou à vontade, de primeira. A sorte de Eliseu (e do Benfica) é que Santos é canhoto e a bola caiu-lhe no pé que é “cego”, o direito. E o remate saiu enrolado e à malha lateral da baliza à guarda de Júlio César. Siga a marinha. Perto do intervalo, pliiim! Ao ferro. Canto à direita, bateu-o para o primeiro poste a canhota de Pedro Santos, a bola caiu redonda na cabeça de Battaglia, nem Luisão nem Fejsa (que pareciam ter o argentino “no bolso”) lá chegaram e o desvio vai direitinho ao poste contrário. Júlio César só seguiria a bola com o olhar.

Quem diria que seria Mitroglou a levá-la para casa. Ele que pouco antes (31’) do cabeceamento de Battaglia ao poste até parecia não querer nada com ela.

Tocou-lhe com joelho, quando o queria era tocar com o pé. Nélson Semedo e Rafa entenderam-se às mil maravilhas na direita, o lateral tinha a bola e atraiu a si Goiano, Rafa fez uma diagonal (vindo do centro) para as costas do defesa esquerdo do Braga, recebeu o passe de Semedo e cruzou, pois claro, sem oposição. Na pequena área para receber o cruzamento estava Mitroglou, escapou a Ricardo Ferreira, estava frente a frente com o guarda-redes Marafona, mas a bola desviada (com o joelho, lá está) pelo grego saiu por cima da barra.

No final, vitória do Benfica — que até não foi superior ao Braga, mas tem um “engatatão” lá frente e os bracarenses não –, recuperando assim o primeiro lugar ao FC Porto.