A SOS Racismo vai apresentar queixa contra João Braga, depois de o fadista ter escrito no Facebook “agora basta ser-se preto ou gay para ganhar os Óscares”. Para os responsáveis da organização não-governamental as “declarações racistas e homofóbicas de João Braga devem ser denunciadas e repudiadas”.
Num comunicado divulgado esta terça-feira, citado pela RTP e pelo jornal Público, a SOS Racismo assegura que vai apresentar queixa junto da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR), cuja principal competência é o combate à discriminação racial, por considerar que, “no atual contexto político e com o crescimento de movimentos e discursos racistas”, as declarações de João Braga devem ser publicamente repudiadas.
Para os responsáveis pela organização não-governamental, João Braga, enquanto “ator social” tem responsabilidades acrescidas em não legitimar “preconceitos”. “A agressão não é opinião, o insulto não é opinião, o racismo não é opinião”, sublinha a SOS Racismo.
A 89ª edição da cerimónia dos Óscares consagrou como melhor filme do ano a obra Moonlight, que explora o crescimento de um jovem negro e homossexual em circunstâncias muito adversas. No Facebook, João Braga decidiu mostrar o seu descontentamento com a distinção: “A distribuição dos Trumps: agora basta ser-se preto ou gay para ganhar os Óscares”. A caixa de comentários na página pessoal do fadista foi rapidamente inundada por críticas às declarações de João Braga.
Perante a dimensão que a controvérsia ganhou, João Braga apagou a publicação e fez um novo texto onde se queixa daquilo que diz serem ataques à sua liberdade de expressão. “Chiça, que os herdeiros de Estaline são mesmo avessos à liberdade de expressão!”. A publicação em causa foi entretanto apaga do Facebook do fadista, já depois de o Observador (e outros órgãos de comunicação social terem feito referência à reação de João Braga.
Entretanto, e em declarações à Flash!, classificou os comentários que fez a propósito da cerimónia dos Óscares como sendo “uma ironia” e uma “graçola”.
“Pus aquilo em tom irónico, sem ofender ninguém. Isto não ofende ninguém”, começa por dizer João Braga. Sobre as reações duras que motivaram a reação do fadista, o fadista diz que, nestes casos, as pessoas reagem de forma extrema se alguém falar nas redes sociais em “pretos ou gays”. “Ou saltam do armário ou saltam da cubata [habitação rústica tipicamente africana]”.
O fadista continua: “Aquilo que se passou na madrugada dos Óscares foi uma coisa vergonhosa. Já o ano passado com aquela revolta do Spike Lee [realizador que reclamou por não haver negros entre os nomeados para os Óscares] é uma coisa incompreensível. Não é por um gajo ser preto, tibetano ou chinês que merece mais ou menos receber um Óscar”.
João Braga tenta depois contextualizar o que disse: “O ponto disto tudo é aquela cruzada imbecil anti-Trump que se está a fazer nos Estados Unidos, desde que ele ganhou as eleições. Deixem o homem falar”.
A terminar, o fadista garante: “Se tivesse algum problema com pretos ou com gays já se teria dado conta ao longo de todos estes anos. Era só que me faltava chegar a esta idade [71 anos] e dar para ser racista. Nunca fui racista ao longo da vida. E homofóbico ainda menos, pois tive amigos e amigas que são gays. Se calhar, no mundo do espetáculo, corria o risco de ficar a cantar sozinho. Nunca tive esse problema. Não tenho nada a ver com o que as pessoas fazem na sua vida privada”.