O primeiro-ministro António Costa tem-se congratulado com o défice de 2,1% em 2016, referindo-se a ele como o “mais baixo em democracia”. O líder da oposição alertou no sábado que não era: em 1989 foi igual, disse Passos Coelho. Questionado pelo Observador, o ministro das Finanças naquele ano, Miguel Cadilhe, foi taxativo: “Confirmo que o défice no ‘meu’ 1989 foi de 2,1% do PIB“. Cadilhe considera um “mistério” que depois de “tanta propaganda [do Governo] sobre 2016″ só agora “os jornais façam esta descoberta”.
Miguel Cadilhe atira-se ainda ao “zero de escrutínio” da comunicação social sobre este assunto e até aponta a fonte onde se pode comprovar os dados: “Séries Longas para a Economia Portuguesa“, do Banco de Portugal.
O ministro das Finanças Mário Centeno fez questão de dizer que 2,1% trata-se de um arredondamento. “Sabemos hoje que o défice em 2016 foi de 2,06% do PIB. Este é o valor mais baixo da nossa história recente, da nossa história democrática”, disse o governante na última sexta-feira, dia em que saíram os dados do INE. Perante esta nuance, Cadilhe — sem especificar qual o valor, à centésima, no seu ano — limita-se a dizer ao Observador: “Valha-nos Deus, dispensem o povo das centésimas da percentagem“.
Passos Coelho já tinha ontem contrariado a versão do Governo, alertando que “em 1989, quando era ministro das Finanças o Dr. Miguel Cadilhe e primeiro-ministro Cavaco Silva, o défice público português também foi de 2,1%. Não se trata portanto do valor mais baixo da democracia”. Segundo o líder do PSD, nessa altura o défice “beneficiou de uma alteração fiscal (…) que em circunstâncias normais não ocorre”, considerando que o valor agora alcançado pelo executivo de António Costa também foi conseguido “à custa de medidas extraordinárias”.
De acordo com o documento de trabalho “O Défice do Estado — A caminho do equilíbrio“, apresentado em 1998 numa conferência da Direção-Geral do Tesouro, o défice público de 1989 “beneficiou de uma receita fiscal acrescida com a cobrança em simultâneo do Imposto Profissional e do novo IRS”.