Os provérbios são das melhores coisas que foram criadas e podem ser pau para toda a obra: para dar conselhos, para ensinar os mais novos, até para fazer títulos. Funcionam como regras e, como tal, têm as suas exceções, sendo que a utilização do vídeo-árbitro é exemplo paradigmático disso mesmo – a nível de opinião pública, nasceu torto, mais do que torto, mas cedo se endireitou e hoje todos querem entrar na corrida pelo seu recurso.

A Federação Portuguesa de Futebol ganhou mais uma corrida e, pela primeira vez, a decisão de um troféu contará com ajuda do vídeo-árbitro: na final da Taça de Portugal, a 28 de maio, entre Benfica e V. Guimarães. Esta não será propriamente uma novidade para os envolvidos, que fizeram testes offline do mecanismo em nove encontros da presente temporada, entre Supertaça e Taça de Portugal (oito tendo lisboetas ou vimaranenses como competidores, sendo o Estoril-Académica a única exceção nessa curiosidade). Agora, vai ser a sério. Ou melhor, vai ser online.

Final da Taça de Portugal será a primeira prova a utilizar oficialmente vídeo-árbitro

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Mas recuemos até dezembro de 2016, altura em que o Real Madrid venceu o Mundial de Clubes após bater na final o Kashima Antlers. Nesse encontro, devido a uma falha de comunicação, Sergio Ramos deveria ter sido expulso por acumulação de amarelos mas acabou por ficar em campo. E isto quando todos ainda tinham fresco na memória um lance na meia-final, entre os japoneses e o Atlético Nacional, onde o árbitro (o reputado húngaro Viktor Kassai) interrompeu o jogo para assinalar grande penalidade num lance onde o interveniente que sofreu a falta estava fora-de-jogo (depois foi uma questão de interpretação se teve ou não interferência na jogada). Gianni Infantino, presidente da FIFA, destacou a importância da experiência e defendeu as decisões tomadas.

https://www.youtube.com/watch?v=zkLJ0OGkZxc

Ainda assim, não foi unânime a crítica positiva. E as declarações até dos jogadores, como Luka Modric, em nada ajudaram a isso. Percebeu-se uma certa resistência à mudança, algo que o tempo acabou por diluir. Como ficou provado recentemente no particular entre França e Espanha: sem vídeo-árbitro, o encontro podia ter acabado com um empate a uma bola; com esse mecanismo, terminou com 2-0 para os espanhóis e sem dúvidas. Contas feitas, o golo de Griezmann tinha sido mal validado e um outro de Deloufeu tinha sido mal invalidado.

https://www.youtube.com/watch?v=desHc7mRxR4

E como vai funcionar? David Elleray, atual diretor técnico do International Football Association Board e antigo árbitro internacional da Premier League, explicou no Football Talks a mecânica de todo o processo, que será utilizado em situações muito específicas (e se existirem, porque nos Estados Unidos, por exemplo, o seu uso até foi raro nos jogos com vídeo-árbitro): golos, grandes penalidades, expulsões e possíveis erros na identificação de jogadores que sejam sancionados com cartões amarelos ou vermelhos. Nos casos apresentados pelo inglês, foi curioso ver como o modesto Cambuur, na Holanda, tinha sido “safo” em dois jogos seguidos da Taça.

Football Talks. Vídeo-árbitro: Cambuur, os mais sortudos do Mundo

A Federação Portuguesa de Futebol também já tinha divulgado alguns vídeos sobre os primeiros testes em treino que tinham sido feitos com os árbitros nacionais na Cidade do Futebol. Jorge Sousa, Artur Soares Dias, Hugo Miguel, João Pinheiro, Tiago Martins, Fábio Veríssimo, Tiago Antunes, Bruno Paixão e Hélder Malheiro já experimentaram o funcionamento do vídeo-árbitro, no campo ou de fora, como árbitros de suporte do principal.