“Eu, que ando de scooter, tenho-vos a dizer que ficam com outra opinião da cidade de Lisboa se também andarem”. As palavras são de João Vasconcelos, secretário de Estado da Indústria, depois de ter andado numa das 170 motas que o eCooltra, um serviço de aluguer de scooters elétricas ao minuto, tem espalhadas por Lisboa.
Quem anda de carro pela cidade sabe que estacionar é difícil e as (longas) filas de trânsito são uma constante. A eCooltra quer ser “uma nova forma de mobilidade urbana”, referiu Pedro Pinto, responsável pelas operações da empresa em Portugal, na apresentação do projeto que decorreu esta quinta-feira, no Village Underground Lisboa.
O serviço de aluguer de motas elétricas está desde esta quinta-feira disponível para qualquer pessoa com carta de condução válida. Espalhadas por toda a cidade (onde os últimos utilizadores as deixaram) – numa área que cobre a frente ribeirinha, de Algés ao Parque das Nações, e do rio Tejo ao Lumiar e aeroporto -, têm uma tarifa fixa, que inclui seguro, baterias carregadas, manutenção assegurada e dois capacetes. Custa 0,24 euros por minutos para uma franquia de 500 euros ou 0,29 euros para uma franquia de 99 euros. O aluguer das motas pode ser feito entre as seis da manhã e a meia noite.
Como funciona?
Primeiro, é preciso descarregar a aplicação, gratuita e disponível para Android e iOS. No ecrã, aparece um mapa e a zona de utilização da eCooltra assinalada a azul. Como não existem locais fixos, a scooter pode ficar estacionada em qualquer lado, desde que dentro da zona de operação. Com georreferenciação é possível ver a mota que está mais próxima e reservá-la.
Depois, tem 15 minutos para chegar à scooter e iniciar a viagem. O cancelamento não tem custos e assim que encontra a mota, pode desbloquear o assento para levantar o capacete. A mota liga-se (e desliga-se) através da aplicação, sem ser necessária uma chave. Quando o utilizador chega ao destino, e termina o serviço, o custo da viagem é debitado automaticamente no cartão de crédito ou débito indicado.
As scooters têm autonomia para 45 quilómetros. A bateria é assegurada por uma equipa que anda num veículo com baterias carregadas, responsável pela sua substituição.
De Barcelona para as ruas de Lisboa
O eCooltra foi lançado em Barcelona, no ano passado, com uma frota de 250 motas elétricas da marca Govecs. Hoje, são mais de 360. Além de Lisboa, o serviço de mobilidade partilhada chega agora a Roma (240 scooters) e a Madrid (280 scooters). Em média, cada utilizador faz deslocações de quatro quilómetros, durante 15 minutos. As viagens custam, em média, 3,60 euros.
E é engenharia portuguesa que está por trás desta tecnologia. Esta rede foi desenvolvida pela empresa espanhola Cooltra, em parceria com o Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel (CEiiA), de Matosinhos, que desenvolveu a componente técnica da plataforma, incluindo a comunicação entre a aplicação e as scooters e o sistema de desbloqueio dos veículos.
É demonstrar que a nossa indústria, a nossa engenharia está a par do que de melhor se faz no mundo. A primeira vez que esta solução, desenvolvida em Portugal, foi aplicada foi em Barcelona, há mais de um ano. Este é um bom exemplo da capacidade que temos em Portugal. É a geração mais qualificada de sempre, é uma infraestrutura tecnológica de universidades, de centros tecnológicos, que nos permite fazer isto. Temos que aproveitar esse conhecimento para ter impacto económico. É é isso que está aqui a acontecer. Estamos a criar empregos, investimento, com engenharia e poder português”, salientou João Vasconcelos.
Três anos e 750 mil euros depois
Timo Buetefisch, líder da Cooltra (que detém a eCooltra), um alemão com negócios em Barcelona, quis trazer o serviço para Portugal, depois de ter estado em Lisboa há três anos. Foram investidos 750 mil euros no lançamento da eCooltra, em Lisboa. Segundo o responsável, a empresa espera conseguir mais de 25 mil utilizadores na capital portuguesa e receitas de 550 mil euros no primeiro ano de atividade.
Mas não só em nome de viagens mais económicas e rápidas. A sustentabilidade é um ponto importante. A previsão da empresa é de reduzir 70 toneladas de emissão de CO2, durante o ano.
É uma solução de mobilidade que já não é só do futuro, é do presente. A mobilidade urbana vai ser elétrica muito mais rapidamente do que se espera. Vocês imaginam o que é estar numa grande avenida em que nenhum carro faz barulho nem emissões?”, questionou o secretário de Estado da Indústria.
As propostas de partilha de transportes como o “car sharing” (CityDrive, Booking Drive), são cada vez mais comuns, alargando-se também às motas e ao “moto sharing” e criando novos modelos de negócio que se enquadram no conceito de economia colaborativa, baseados na partilha de bens e serviços, e que têm provocado alterações na organização das próprias cidades.