Duas das principais obras do artista plástico Alberto Carneiro, que morreu em abril, foram incluídas numa exposição coletiva a inaugurar a 19 de maio, na Culturgest, em Lisboa, sobre o uso crítico e conceptual da fotografia por artistas visuais em Portugal.
“O Fotógrafo Acidental: serialismo e experimentação em Portugal, 1968-1980” é inaugurada nesse dia, às 22h, com curadoria de Delfim Sardo, que substituiu Miguel Wandschneider como curador das artes plásticas na Culturgest.
A exposição apresenta obras de Alberto Carneiro, Ângelo de Sousa, Ernesto de Sousa, Fernando Calhau, Helena Almeida, Jorge Molder, José Barrias, Julião Sarmento e Vítor Pomar.
Nesta exposição destacam-se duas das obras mais marcantes de Alberto Carneiro, raramente vistas em conjunto: “O Canavial: Memória metamorfose de um corpo ausente”, de 1968, e “Uma Floresta para os teus sonhos”, de 1970, esta última cedida pela Fundação Calouste Gulbenkian.
As duas obras são apontadas como exemplo do pioneirismo de Alberto Carneiro, no uso do conceito de arte, ao transportar elementos da natureza para o espaço de exposição.
Considerado um dos maiores artistas portugueses do século XX, Alberto Carneiro morreu no Porto, aos 79 anos, e foi o principal dinamizador dos Simpósios de Escultura de Santo Tirso, organizados a partir de 1991, a partir dos quais foi criado o Museu Internacional de Escultura Contemporânea, o único museu de escultura ao ar livre existente em Portugal.
Cobrindo um período atravessado pela Revolução do 25 de Abril de 1974, a exposição na Culturgest revela as importantes transformações da arte portuguesa num contexto de difícil inscrição cultural das propostas dos artistas.
“Constituindo uma primeira tentativa de apresentação deste fascinante panorama criativo, a exposição proporciona uma oportunidade rara para compreender também as transformações no próprio uso da fotografia”, sublinha a Culturgest numa nota sobre a exposição.
“Três constatações são possíveis pela visão conjunta das obras em contexto expositivo: o uso da fotografia como produção de imagens únicas e extraordinárias é preterido em função de séries de imagens, relacionando-se mais com o cinema do que com a história específica do ‘medium’ fotográfico; a fotografia é usada frequentemente como meio de documentar processos performativos de que a câmara é a única testemunha; por fim, a instalação, por vezes de grandes conjuntos de imagens, frequentemente com uso de texto, passa a ser a tipologia utilizada por muitos artistas”, acrescenta.
Em simultâneo, será inaugurada na Culturgest outra exposição com Obras da Coleção da Caixa Geral de Depósitos, no mesmo período, mas com diferentes suportes, ficando também patente até 03 de setembro.
O propósito, segundo a Culturgest, é o de criar um contexto para uma melhor compreensão das transformações culturais portuguesas na década de 1970.
Apresenta obras dos mesmos artistas apresentados na exposição da Galeria 1, a que se juntam peças de outros artistas que marcaram o panorama português, como Eduardo Batarda, Álvaro Lapa, Joaquim Rodrigo, João Vieira, Pires Vieira e Noronha da Costa.