Um diretor da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) admite a preocupação por causa da fraca liquidez da dívida pública portuguesa no mercado secundário, e também, em relação à forma como o Banco Central Europeu (BCE) irá interromper o programa de compra de ativos.
Em declarações num evento em Dublin, citadas pela Reuters, o diretor do gabinete de estudos do IGCP, José Cardoso Costa, assinalou o eventual impacto da travagem na compra de obrigações portuguesas por parte do BCE. A dimensão destas transações ascende atualmente a metade do valor que se verificava há um ano, na sequência dos limites definidos para a aquisição de dívida por país.
O BCE está comprometido a comprar o equivalente a 60 mil milhões de euros de títulos de dívida todos os meses desde dezembro, mas há vários analistas que antecipam um sinal por parte da autoridade monetária de que vai retirar os estímulos nos próximos meses.
Mais do que a data em que terminará o programa, a maior preocupação, afirma Cardoso, é como vai terminar. “Não queremos certamente que acabe de forma abrupta (Cliff Effect), queremos que termine da forma mais suave possível”, disse o diretor do IGCP.
No caso de Portugal, acrescenta, o mercado “tem indicação de que nestes dias a liquidez (fraco volume de compras e vendas) é muito baixa”. É difícil avaliar se isso é causado apenas pelo impacto do programa de compras de dívida pública, à medida que o BCE tem vindo a cortar o montante de obrigações portuguesas que compra todos os meses.
“Temos assistido a um número de eventos de volatilidade excessiva que resultam da falta de liquidez, portanto estamos preocupados com isso”.
O programa de compras de dívida soberana do BCE define como limite para as aquisições a detenção de 33% de uma linha de obrigações ou da totalidade da dívida elegível. Este limite penaliza países como Portugal e Irlanda, uma vez que uma parte das respetivas dívidas já está na posse do eurosistema, após os programas de apoio aos estados mais penalizados pela crise do euro.
Em abril, o BCE adquiriu 520 milhões de euros em obrigações portuguesas, o valor mais baixo desde que o programa de estímulos arrancou.