Uma conta de Twitter que seria da ministra da Cultura francesa anunciou a morte da Nobel da Literatura Svetlana Alexievitch. O Le Figaro avançou a notícia e retirou-a poucos minutos depois, tendo entretanto publicado um artigo a pedir desculpa. Na conta de Twitter falsa apareceu um novo tweet onde se lê: “Esta conta é um engodo criado pelo jornalista italiano Tommasso Debenedetti”.
https://twitter.com/NyssenCulture/status/865142760160063490
O Le Figaro escreveu entretanto que se baseou “numa conta de Twitter apresentada como sendo de Françoise Nyssen, nova ministra da Cultura”. O próprio Le Figaro contactou de seguida a editora de Svetlana, “que confirmou que se trata de uma conta falsa”, acrescentando que “a escritora está bem e viva”, estando “atualmente em Seul”, na Coreia do Sul.
A ministra da Cultura, François Nyssen, foi co-diretora da Actes Sud, a editora que publica os livros de Svetlana Alexievitch em França, o que dava ainda mais credibilidade à informação. Ao mesmo tempo que o tweet era colocado, a ministra estava a entrar no seu primeiro Conselho de Ministros.
https://twitter.com/NyssenCulture/status/865130082678996993
Svetlana Alexievich está em Seul e já falou com jornalistas garantindo que está bem. Num tweet, a correspondente da AFP em Moscovo, Maria Antonova, confirmou que falou com a escritora, que está “muito viva”.
Not sure if this account is fake but AFP just spoke with Svetlana Alexievich who is very much alive https://t.co/lszKDlek8m
— Maria Antonova (@mashant) May 18, 2017
Os seis tweets da conta falsa da ministra
A conta falsa de François Nyssen apenas ficou ativa na noite desta quarta-feira, tendo apenas publicado cinco tweets antes da revelação. O primeiro apenas dizia “Merci!”.
https://twitter.com/NyssenCulture/status/864832513851756544
Numa segunda publicação, a suposta ministra da Cultura anunciava que em breve estaria em Cannes.
https://twitter.com/NyssenCulture/status/864834369432813569
O terceiro tweet era mais completo, anunciando o seu primeiro dia como ministra da Cultura. “O meu primeiro dia… em marcha! Pela Cultura, com a minha paixão, a paixão de toda a minha vida”, lia-se no tweet.
https://twitter.com/NyssenCulture/status/865120044224851968
Meia hora depois, anunciava a mentira, primeiro em francês. “Uma notícia terrível. Fui informada de que Svetlana Aleksievich morreu. Não tenho mais informações”, escreveu.
https://twitter.com/NyssenCulture/status/865130082678996993
E depois em inglês. “Notícia terrível. Svetlana Alexievich morreu. Não há detalhes”, lê-se.
https://twitter.com/NyssenCulture/status/865133176653582337
Finalmente, anunciou a verdadeira identidade por detrás da conta.
https://twitter.com/NyssenCulture/status/865142760160063490
Tommasso Debenedetti, o mestre dos tweets falsos
Está longe de ser a primeira vez que o italiano Tommasso Debenedetti cria contas de Twitter para divulgar informações falsas de forma aparentemente credível. Há cinco tweets falsos de Debenedetti que ficaram famosos, aqui registados pelo The Guardian.
- @CardBertone: “Sua Santidade, o papa Bento XVI, morreu. Anunciamos a notícia com grande dor e consternação”. Tweet publicado a 8 de março de 2012 por uma conta supostamente pertencente ao cardeal Tarcisio Bertone, então secretário de Estado do Vaticano.
- @PresHamidKarzai: “O ataque contra civis afegãos é um ato de terror”. Tweet publicado a 12 de março de 2012 por uma conta que seria do então presidente do Afeganistão, Hamid Karzai.
- @presMarioMonti: “A notícia da morte de Fidel Castro foi-me confirmada pelo vice-presidente da UE, Olli Rehn”. Tweet publicado a 6 de março de 2012 por uma conta alegadamente pertencente ao então primeiro-ministro italiano, Mario Monti. Fidel Castro morreu a 25 de novembro de 2016.
- @MinistroMontoro: “O governo espanhol anuncia a morte do realizador Pedro Almodovar”. Tweet partilhado numa conta em nome do ministro espanhol Cristóbal Montoro. Pedro Almodovar está vivo.
- @PresAssadSyria: “Os documentos publicados ontem por um jornal britânico são engodos criados contra a Síria e a minha família”. Tweet em nome do presidente da Síria, Bashar al-Assad, a 19 de março de 2012.
O Observador publicou inicialmente a notícia da suposta morte de Svetlana Alexievitch com base nas informações avançadas pelo Le Figaro. Logo que se confirmou que se tratava de uma informação falsa, avançou com a correção neste artigo e num alerta enviado aos leitores. O Observador pede desculpa pela divulgação inicial da informação errada.