O banco central de Cabo Verde e os bancos comerciais estão a considerar a introdução de “critérios mais apertados” nas operações bancárias de movimentação de capitais para reforçar a confiança dos bancos correspondentes no estrangeiro.

Segundo o Governador do Banco de Cabo Verde (BCV), João Serra, este é um dos assuntos em análise no encontro entre o supervisor bancário e banco central de Cabo Verde e representantes da banca comercial no país, que decorre esta terça-feira na cidade da Praia.

Os bancos têm necessidades de ter correspondentes lá fora para procederem às transferências e há muitas dificuldades, particularmente agora com toda a problemática de financiamento do terrorismo e da lavagem de capitais”, disse João Serra aos jornalistas no âmbito do encontro.

Por isso, acrescentou, durante o encontro, serão discutidas “conjuntamente formas de ultrapassar esta questão”, que passarão pela introdução de “critérios ainda mais apertados de controlo no que diz respeito à abertura de contas, depósitos, às movimentações de capitais, para dar todo o conforto necessário aos bancos lá fora para poderem servir de correspondência com a banca nacional”.

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Durante o encontro, que quer ouvir as preocupações dos bancos e promover a comunicação entre os principais intervenientes no mercado financeiro cabo-verdiano, estará igualmente em análise o financiamento do recém-aprovado Fundo de Garantia de Depósitos.

A criação do Fundo de Garantia de Depósitos foi proposta pelo Banco de Cabo Verde e aprovada pelo Governo e pelo parlamento, faltando agora a sua operacionalização, nomeadamente através da regulamentação do financiamento.

Os bancos deverão pagar uma taxa anual calculada com base no valor dos depósitos, segundo explicou à agência Lusa, a diretora de supervisão do BCV, Suzy Brito, adiantando que o fundo estará efetivo dentro de pouco tempo.

É uma medida que induz uma confiança adicional relativamente ao sistema bancário. Os depositantes terão um conforto acrescido uma vez que saberão que se acontecer algo com a instituição onde têm os seus depósitos, os mesmos serão ressarcidos no âmbito desse fundo”, disse João Serra.

O governador admitiu que a definição da forma de financiamento do fundo é uma “situação complexa” e que “exige algum cuidado” por causa da situação da banca cabo-verdiana que, segundo disse, “não é muito famosa”.

João Serra mostrou-se, durante a sua intervenção na abertura do encontro, “ciente de que as contribuições da banca para o fundo de Garantia de Depósitos não poderão impactar significativamente os já fracos níveis de rentabilidade o setor bancário”.

Por isso, adiantou, será preciso encontrar “uma solução ajustada à realidade nacional”.

Durante a sua intervenção, João Serra assinalou ainda que a banca cabo-verdiana “labora num contexto de elevados níveis de crédito malparado e de baixos níveis de rendibilidade dos ativos e dos capitais próprios” bem como “de fraca dinâmica” de concessão de créditos.

O elevado número de imparidades, o modesto crescimento da carteira de crédito e os baixos níveis de rentabilidade são, segundo João Serra, os principais problemas que se colocam à banca cabo-verdiana, que regista, no entanto, “um confortável quadro de liquidez”.

Desde 2015, este é o terceiro encontro que o atual Conselho de Administração do Banco de Cabo Verde realiza com as instituições de crédito.

Na segunda-feira, o BCV e os representantes da banca comercial foram recebidos pelo Ministro das Finanças, Olavo Correia, no âmbito das audições de preparação do Orçamento de Estado para 2018.

Na ocasião, defenderam um Fundo de Garantia de Depósitos que não penalize os bancos.

O Banco Comercial do Atlântico – BCA, do Grupo Caixa Geral de Depósitos, e a Caixa Económica de Cabo Verde – CECV são os dois maiores bancos a operar no país, onde se contam também outros bancos como o Interatlântico (CGD) ou o Banco Angolano de Investimentos (BAI).