Raphael Dias Belloli – este é o nome de batismo. Na camisola lê-se somente “Raphinha” e é assim que é tratado sobre o relvado. É brasileiro, de Porto Alegre. Ainda moleque, vinte e um anos, Raphinha é o “desavergonhado” de serviço no ataque do Vitória, gingão e driblador — seja quem seja o defesa (direito ou esquerdo; o destro Raphinha é do flanco mas atua ora num ora no outro) que o marca, vai na certa ensaboar-lhe a cabeça –, chegou a Guimarães no Verão de 2015 vindo do Avaí mas pouco ou nada jogaria nessa época. Na passada sim, jogaria.

Tanto, tão bem, que os italianos da Udinese quiseram pagar esta semana quatro milhões de euros pela sua contratação; o Vitória resistiu e não vendeu. Talvez a direção visse em Raphinha (o ataque perdeu Hernâni e Marega, por exemplo) a sua melhor arma para derrotar o Benfica e vencer, tal como em 1986 – então contra o Porto –, a Supertaça. Em parte Raphinha foi a “melhor arma” do Vitória do ataque — e até “molhou a sopa”; mas foi igualmente o vilão: esteve na origem do terceiro golo do Benfica. Adiante lá chegaremos.

Rui Vitória prometeu e cumpriu: o Benfica da Supertaça não foi o da pré-temporada. Melhorou. Sobretudo na defesa, por fim segura. O meio-campo foi “mandão” (Fejsa recuperava bolas; Pizzi colocava-as a rolar) e o ataque, como dizer?, foi eficaz. Pelo menos durante os primeiros dez minutos. Logo aos seis minutos, época nova, o suspeito do costume a fazer das suas: Jonas. Miguel Silva não fica propriamente bem na fotografia.

Pizzi cruza desde a direita para a área, a bola ainda desvia no lateral João Vigário, segue para a pequena área, desviando o guarda-redes do Vitória a punhos de lá. Problema: desviou para a frente, Jonas estava só e rematou de primeira, com a bota canhota, para a baliza — um remate que passaria entre as pernas do central Josué e o desamparado Miguel. Foi o quinto golo (em nove jogos) do brasileiro contra o Vitória.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Pouco depois, aos onze minutos – e a com a defesa vimaranense ainda atarantada –, mais um para o Benfica, agora de Seferovic. E mais um disparate do Vitória, desta feita de Bongani Zungu. O médio internacional sul-africano perde a bola (embora não estivesse muito pressionado, escorregou na altura do passe) ainda no meio-campo do Benfica, o Vitória ficou em contra-pé, Pizzi desmarcou de pronto Seferovic nas costas dos centrais vitorianos e o suíço, à entrada da área e depois da saída de Miguel Silva da baliza, rematou rasteiro e cruzado para o golo do Benfica. Seferovic marca na estreia, Pizzi chega à trigésima primeira assistência desde que chegou ao Benfica, em 2014.

Em trinta e nove edições, nunca um clube chegou tão cedo ao 2-0 no placard – e o Benfica chegou ao segundo remate que fez.

O Vitória reage. Ainda que tenuemente – o Benfica chegou a ter perto de 70% de posse. E reage por Raphinha, pois claro. Aos catorze minutos, este cruza desde a esquerda para a área do Benfica, Salvio toca a bola com o braço, o Vitória pede penálti e Soares Dias recorre ao vídeoárbitro para decidir o lance. E decidiu que o toque do argentino foi involuntário, dando seguimento ao jogo — o braço estava de facto encostado ao tronco. Mais adiante, aos vinte e cinco, Raphinha, veloz, volta a cruzar mas os seus cruzamentos para a área nunca chegam ao destino — leia-se: o ponta-de-lança Rafael Martins.

E se Rafael não é assistido, assiste. Foi aos trinta e sete. Contra-ataque do Vitória, este cruza desde a esquerda para a área, em sprint Hélder Ferreira antecipa-se a Grimaldo, desvia a bola para a baliza no primeiro poste, um remate à queima-roupa que Bruno Varela (atento e rápido a sair da baliza) defenderia para a frente — Jardel “limpou” a bola da área depois. O aviso foi dado. A consumação chegaria em cima do intervalo, aos quarenta e três minutos.

A defesa do Benfica facilitou, o Vitória aproveitou e reduziu: 2-1. João Aurélio cruza desde a direita para a área, o cruzamento e largo, muuuuuito largo, André Almeida deixou a bola sair pela linha de fundo mas… esta não sairia. Hélder Ferreira foi lá em esforço desviá-la para a pequena área, Bruno Varela foi surpreendido e defendeu por instinto para trás, surgindo Raphinha a desviar de cabeça (sozinho; Grimaldo não o importunou) nas suas costas.

O intervalo chegaria e continuava tudo em aberto numa Supertaça em que os ataques foram eficazes e as defesas comprometeram e muito.

O jogo endureceu com o recomeço – e a qualidade vista na primeira parte ficou trancada a sete chaves no balneário. Sentia-se a fadiga no meio-campo do Benfica. E o Vitória crescia, crescia. Raphinha entrou na área do Benfica pela esquerda, qual faca quente sobre manteiga, cruzou para a pequena área, Hurtado estava sozinho, só tinha que desviar para a baliza de Varela… e desviou. Um desvio do peruano que deverá ser visto e revisto com a música do genérico de Benny Hill em fundo: o que a bota direita rematou a esquerda cortaria. Hilariante.

Rui Vitória não gosta do que vê e reage… defensivamente. Sai Salvio, entra Filipe Augusto. O meio-campo ganha mais um no “miolo”. Pedro Martins também reage, mas ao ataque: troca o lateral João Aurélio pelo avançado Xande. Nenhum deles acerta na mouche – nem o meio-campo do Benfica melhorou nem o ataque do Vitória foi mais perigoso. Mas Vitória acertaria: aos oitenta e dois minutos troca Jonas (esgotado) por Raul Jiménez. Nem um minuto depois o mexicano fez o que sabe melhor. E o Vitória voltou a meter água na defesa: Raphinha (dizer que foi displicente é pouco) atrasa a bola para a defesa… entregando-a a Pizzi. A defesa é apanhada em contra-pé, Pizzi segue com a bola até à área, desmarca Jiménez, acabadinho de entrar, lá dentro, à esquerda, e o mexicano remata de primeira e no ângulo para o terceiro golo. Foi o quatro golo de Jiménez nos últimos cinco jogos oficiais.

Contas feitas, o Benfica ergue a sétima Supertaça – e provavelmente Raphinha não viajará até Údine.