A diretora do Programa Mundial de Alimentação (PMA) em Moçambique, Karin Manente, acredita que é possível acabar com a fome no país até 2030. “Essa é a nossa aspiração: fome zero. É possível”, disse em entrevista à Lusa, em Maputo.
“Falta a ligação das políticas ao terreno e falta uma visão multisetorial”, sublinhou, uma visão que abranja também a agricultura e o comércio.
Moçambique “já deu passos importantes” ao reduzir a fatia de população sujeita a insegurança alimentar de 50% para 25% nos últimos dez anos, realça a responsável pela agência das Nações Unidas.
Diz-se que uma pessoa sofre de insegurança alimentar se não sabe quando vai ter a próxima refeição, nem como a vai obter.
Feitas as contas, 25% de 28 milhões de habitantes no país (estimativa do PMA) são sete milhões de moçambicanos que vivem com a fome à espreita, um número ainda longe do zero.
Longe, mas numa altura em que “já há políticas e programas nacionais” para erradicar o problema: “do que precisamos agora é de as operacionalizar”, ou seja, fazer com que todos os envolvidos passem das palavras à prática.
Pode parecer fácil, “mas não é”, porque “há muito trabalho para fazer” até que os mecanismos que garantem que a comida chega a todos se tornem numa rotina.
Por exemplo: há episódios de fome em zonas do país onde há défice de culturas agrícolas, mas noutras “há excedentes” e uma das tarefas do PMA tem sido comprar nesses locais para levar para onde faz falta.
Uma dinâmica de comércio interno que o PMA quer enraizar.
Tal como tenta capacitar pequenos produtores de forma a terem comida de qualidade, assim como a melhorarem o armazenamento.
Se todas as boas práticas e políticas já escritas em Moçambique passarem à prática, Karin Manente acredita que será possível cumprir no país o objetivo “Fome zero e agricultura sustentável”, o segundo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da lista de metas propostas pela ONU até 2030.
O ODS 2 rege o plano estratégico do PMA para os próximos cinco anos em Moçambique, um plano que prevê um orçamento anual (ainda a ser angariado) de 140 milhões de euros para apoiar um milhão de pessoas (em média, por ano).
A maioria do investimento vai para a distribuição direta de alimentos a quem precisa, através de entrega em espécie ou por intermédio de vales a redimir nos mercados.
Depois, “há o lado de análise e capacitação, treinos, lado a lado” com diversas entidades, com parte dos recursos “dirigidos para o Governo e outra parte para os parceiros e comunidades. Muito pouco fica para o PMA em si”, referiu.
A trégua sem prazo anunciada pelo braço armado da Renamo, principal partido da oposição, pôs termo aos riscos de novos confrontos com as forças armadas no centro do país e isso são boas notícias para a intervenção do PMA.
“O impacto operacional” das hostilidades entre 2015 e 2016 “não foi muito grande, mas é claro que a situação agora melhorou”.