Surpreendente? Não. Mais lacónica não podia ser a resposta: não. Do primeiro ao derradeiro minuto, no St. Jakob Park só o Basileia quis triunfar.

Cerrou os dentes e pressionou alto, com intensidade, não permitindo que o Benfica rematasse à baliza de Vaclik. Mais, o Basileia permitiu que o Benfica tivesse bola, sim, que a circulasse, sim, mas nunca para lá do meio-campo. Objetivo? Logo que a recuperassem, os suíços procurariam apanhar o Benfica em contra-pé — e apanharam-no sempre ou quase sempre. A atitude do Basileia explica a vitória e explica a goleada. A ausência de atitude do Benfica também explicará.

O treinador nega, por vezes até de modo irascível — quando não é irascível, o discurso de Vitória na sala de imprensa é formatado, vago, aborrecido e redundante –, que o Benfica atravesse uma crise, optando por adjetivá-la como “fase”. É certo que derrotou o Paços de Ferreira na última jornada. Mas o Benfica do St. Jakob Park não foi o encontro com o Paços; foi o dos encontros anteriores: sem intensidade, sem clarividência, sem rasgo e sem absolutamente nada – confiando que as individualidades (Jonas, sobretudo Jonas) resolveriam o que coletivamente não existe: uma ideia de jogo e saber como aplicá-la; demasiadas vezes os jogadores aparentavam estar de candeias às avessas no relvado.

Mostrar Esconder

FC Basel-SL Benfica, 5-0

Estádio St. Jakob Park, em Basileia

Árbitro: Craig Thomson (Escócia)

FC Basel: Vaclik; Lang, Suchý, Balanta (Dié, 80′) e Akanji; Xhaka, Zuffi e Petretta (Riveros, 67’); Steffen, Oberlin (Elyounoussi, 74′) e Ricky van Wolfswinkel

Suplentes não utilizados: Salvi, Schmid, Itten e Bua

Treinador: Raphaël Wicky

SL Benfica: Júlio César; André Almeida, Luisão, Jardel e Grimaldo; Fejsa, Pizzi, Zivkovic ( Samaris, 74’) e Cervi (Salvio, 46’); Jonas (Seferovic, 67’) e Jiménez

Suplentes não utilizados: Bruno Varela, Filipe Augusto, Rafa e Gabriel Barbosa

Treinador: Rui Vitória

Golos: Lang (2’), Oberlin (20′ e 69′), Ricky van Wolfswinkel (60′) e Riveros (77′)

Ação disciplinar: cartão amarelo para Akanji (46’), Petretta (50’), Xhaka (55) e Zivkovic (55’); cartão vermelho para André Almeida (63’)

E estavam-no mal Craig Thomson apitou. Logo ao minuto dois. Oberlin, veloz no contra-ataque, isola Steffen nas costas da defesa do Benfica. Júlio César sai ao pés do avançado do Basileia e desvia a bola para a frente. Oberlin disputa-a com André Almeida, o lateral cortaria a bola para onde estava virado — a direita –, isolando o lateral Lang. Depois, o suíço rematou cruzado para a baliza do Benfica, fazendo o primeiro da noite.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Desde abril do ano passado que o Benfica não sofria tão cedo na Europa – então, Vidal fez o 1-0 para o Bayern também ao minutos dois.

O segundo golo do Basileia (20’) é mais um exemplo do desnorte do Benfica — e da eficácia suíça, que faria então apenas o segundo remate à baliza de Júlio César. Tudo começou num ataque português. Grimaldo ganha a frente a Marek Suchý, entra na área, levanta a cabeça, procura Jiménez, mas quando encontra o ponta-de-lança… já Suchý havia cortado a bola. Canto para o Benfica. Pizzi bateu-o. Oberlin cortá-lo-ia. A bola chegaria ao canhoto Steffen e Oberlin desatou a sprintar, de área a área. E sprintou, sprintou, sprintou… Steffen desmarcaria o avançado nas costas da defesa do Benfica (a que entretanto conseguiu recuar e não foi apanhada em contra-pé) e este, quando Júlio César deixou a baliza, bateu o guarda-redes brasileiro num remate rente ao relvado.

O Benfica, é certo e sabido, não fez qualquer remate com a direção da baliza ao longo do encontro. Mas reclamaria um penálti. Canto à direita para o Benfica, Zivkovic bateu-o (26’) para o primeiro poste, Jiménez desvia a bola e esta é cortada pelo braço de Lang. O árbitro nada assinalaria, a bola seguiu para a pequena área e Jardel, à meia volta, rematou-a… muito para lá da barra.

A facilidade com que o Basileia chegava em velocidade da grande área suíça até à do Benfica era… inexplicável — ou não: faltava intensidade no meio-campo português, ponto final. Perto do intervalo, 42′, outro contra-ataque, outra vez Dimitri Oberlin a conduzi-lo pela esquerda, o suíço desmarca depois Lang no flanco contrário e o lateral, chegado à área, rematou. Errou a baliza por pouco mais de um palmo. Ufffff…

Sempre que o Benfica chegou ao intervalo a perder por dois (ou mais) golos na Europa, perdeu sempre: onze encontros, onze derrotas. Mas perderia este por bem mais do que dois. Aliás, a “sorte” foi a contagem ter terminado na mão-cheia…

Logo no recomeço, 46’, vindo da direita Steffen cruza para o flanco contrário, Petretta recebe a bola no interior da área, André Almeida pára e não o tenta desarmar, rematando o italiano em seguida. Júlio César reagiu como podia e defendeu para canto. Aos 49’, o Basileia voltaria a ameaçar o terceiro o golo. Taulant Xhaka isola o lateral Lang no interior da área — Zivkovic seguia o suíço mas escorregou –, rematando este cruzado. O remate saiu pouco, muito pouco ao lado do poste esquerdo da baliza do Benfica.

À terceira foi de vez. 58’. Oberlin dribla Luisão na área (qual faca quente em manteiga derretida, qual quê) e é derrubado por Fejsa em seguida. Penálti! Na conversão, Júlio César cai para a direita, o ex-Sporting Ricky van Wolfswinkel remata para o lado contrário. O Benfica estava a ser humilhado na Suíça — o adversário desta noite não vencia há 11 jogos (!) na Liga dos Campeões. Foi o terceiro golo do holandês ao Benfica em cinco jogos.

Podia ser pior? Podia pois. Aos 63’, André Almeida perde a cabeça, entra a pés juntos sobre Raoul Petretta e é bem expulso. Aos 69’, desnorteado, Pizzi tenta atrasar a bola para a defesa. Fá-lo sem olhar… e isola Oberlin. Luisão ainda tentaria cortar a bola de carrinho mas foi driblado pelo suíço. Depois, no interior da área, Oberlin bateu Júlio César. A última vez que o Benfica esteve a perder por quatro golos foi há quase uma década, quando na Taça UEFA acabou goleado (5-1) pelo Olympiacos em Atenas. Em Basileia também perderia por cinco. Sem resposta.

A sorte ainda evitou o quinto. Elyounoussi acertou (76’) no poste esquerdo do Benfica. Na recarga, Riveros acertou no direito. No minuto seguinte nem a sorte valeria: Riveros entrou na área pela esquerda, driblou Luisão e tentou assistir Ricky van Wolfswinkel. O holandês foi pressionado por Grimaldo e não conseguiria rematar. Mas a atrapalhação da defesa benfiquista foi tanta que a bola voltaria a Riveros. Sozinho, o paraguaio só teve que rematar para a baliza deserta: 5-0.

Rui Vitória pode negar. Mas o Benfica está em crise. E não é pouco…