Desde o dia 31 de outubro e até ao momento, foram diagnosticados no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (CHLO) – Hospital de São Francisco Xavier, e já confirmados laboratorialmente, 18 casos de Doença dos Legionários. Um outro caso “com ligação epidemiológica” ao Hospital de São Francisco Xavier foi diagnosticado numa unidade de saúde privada, “onde o doente se encontra internado” por opção própria, informou, esta tarde, a diretora geral da Saúde, Graça Freitas, em conferência de imprensa.

Dos 19 casos confirmados pela DGS em comunicado esta noite, dois têm 90 ou mais anos, 12 têm 70 anos ou mais anos, quatro têm entre 50 e 69 anos e há ainda o funcionário do hospital, com 44 anos. Dos 19, oito são do sexo masculino e 11 têm duas ou mais co-morbilidades e três estão em Unidade de Cuidados Intensivos.

O comunicado não detalha quantos já tiveram alta, mas esta tarde, em conferência de imprensa, quando o número estava nos 18, a diretora-geral da saúde informou que 17 tinham sido diagnosticados, internados e tratados no CHLO, um dos quais já tinha tido alta e 16 mantinham-se internados, dos quais 2 em Unidade de Cuidados Intensivos, “todos clinicamente estáveis”. Graça Freitas avisava porém que era provável que o número de doentes aumentasse nos próximos tempos devido ao período de incubação, que pode durar até 10 dias.

O primeiro caso foi diagnosticado no passado dia 31 de outubro e trata-se de um funcionário do Hospital S. Francisco Xavier, de 44 anos, com problemas respiratórios associados, que entretanto já teve alta. Só esta sexta-feira, dia 3 de novembro, surgiram mais dois casos. “Bastou haver três casos para o que hospital desse o alerta e tomasse medidas de vigilância”, garantiu Graça Freitas.

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Agora, no comunicado mais recente, é possível perceber que o primeiro doente a sentir sintomas de Legionella reporta esses primeiros sinais ao dia 26 de outubro.

Em comunicado enviado esta tarde às redações, a DGS apontava para 16 casos e dava conta dos resultados das análises efetuadas pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) que revelaram a presença de Legionella nos circuitos de água do Hospital de São Francisco Xavier. E conferência de imprensa naquele hospital de Lisboa, Graça Freitas confirmou que esse pode ser “um dos focos” do surto, mas “não quer dizer que não continuaremos a investigar” junto dos doentes e do ambiente.

A rede de água do São Francisco Xavier vai, assim, ser submetida a um choque térmico – a altas temperaturas – ou um choque químico – com injeções de cloro – para matar as bactérias.

Por precaução, ainda segundo o comunicado da DGS, “foram tomadas as medidas adequadas para interromper a possível fonte de transmissão” e “o INEM irá redirecionar temporariamente para outras instituições hospitalares os doentes mais graves que se destinariam ao Serviço de Urgência do Hospital de São Francisco Xavier, que se irá manter aberto para os restantes doentes”. “As medidas de segurança adotadas preveem-se suficientes para interrupção da transmissão e controlo do surto.”

Direção-Geral de Saúde diz que “nada falhou” na prevenção e controlo da infeção

Questionada sobre se estes casos mostram falhas na prevenção e controlo, a diretora-geral de Saúde, Graça Freitas, afirmou que “nada falhou” na prevenção e nas medidas de controlo da infeção com a bactéria Legionella no Hospital São Francisco Xavier.

“Não falhou nada. (…) Há um equilíbrio entre o que conseguimos fazer para contrariar a Natureza e a própria Natureza”, disse a responsável em conferência de imprensa, em Lisboa, acrescentando que “nem sempre as melhores medidas conseguem contrariar esta dinâmica das bactérias”.

Aos jornalistas, Graça Freitas informou que, por ano, são registados 200 casos de Legionella. Adiantou ainda que, apesar das sucessivas inspeções feitas no Hospital S. Francisco Xavier, “a bactéria tem capacidade de se desenvolver”. “O surto faz parte da nossa vida. Estas bactérias são muito frequentes.”

Já a presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHLO), Rita Pérez, especificou que o São Francisco Xavier faz análises regulares aos pontos críticos para este tipo de bactérias e que as mais recentes, de outubro, deram negativo.

“O Hospital tem o seu plano de prevenção para estes eventuais casos. São feitas análises: umas de 15 em 15 dias, outras de mês a mês e outras de três em três meses. Todas elas no mesmo sentido. Nos pontos mais críticos são feitas de 15 em 15 dias, que são as tais torres de refrigeração. (…) Nas análises aos pontos mais críticos, as últimas são de outubro, e deram negativo”, disse Rita Pérez.

Nos últimos dois anos, acrescentou a responsável do CHLO, o São Francisco Xavier teve 27 casos de “legionella”, ainda que se tenha tratado de casos isolados, de pessoas que foram internadas de outros locais já com a doença.

A DGS esclarece que a doença se transmite através da inalação de aerossóis contaminados com a bactéria e não através da ingestão de água e que a infeção, “apesar de poder ser grave, tem tratamento efetivo”.

O que deve saber sobre a Legionella

De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, e tal como o Observador chegou a escrever, a Legionella é uma bactéria amplamente distribuída capaz de sobreviver em condições ambientais hostis por longos períodos, o que contribui para a sua fácil disseminação. Consiste num problema de saúde pública e tem “uma clara relação causa-efeito com a colonização da água pela bactéria em sistemas de água de grandes edifícios”, segundo a Direção-Geral de Saúde.

A infeção transmite-se porvia aérea (respiratória), através da inalação de gotículas de água (aerossóis) contaminadas com bactérias. A Legionella não se transmite de pessoa a pessoa, nem pela ingestão de água contaminada. Febre, tosse, pontadas torácicas, dores no corpo e expetoração são os sintomas mais frequentes.