Portugal está entre os países da Área Económica Europeia que apresentam mais casos de diagnósticos tardios para a infeção com o vírus VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana), entre os adultos mais velhos: acima dos 50 anos. Esta é uma das maiores preocupações dos autores do relatório divulgado esta terça-feira, pelo Centro Europeu para a Prevenção e Controlo da Doença (ECDC) e pelo Gabinete Regional para a Europa da Organização Mundial de Saúde (OMS-Europa).
Em nove países (Bélgica, Finlândia, França, Islândia, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega e Portugal) os adultos mais velhos constituem mais de 20% dos novos casos de diagnóstico com VIH”, refere o relatório “HIV/AIDS surveillance in Europe 2017” (Vigilância de VIH/sida na Europa 2017).
A região europeia, conforme definida pela OMS, é a única região do mundo onde continua a aumentar o número de novos casos de infeção com o vírus VIH. Esta região inclui não só os países europeus, mas também alguns países asiáticos, como Turquia, Cazaquistão, Turquemenistão, entre outros (lista completa aqui). E é precisamente mais a Este que se verificam a maioria dos novos casos – 80% dos cerca de 160 mil novos diagnósticos.
As duas organizações destacam a importância de um diagnóstico precoce. Quanto mais cedo for detetada a infeção, maior a probabilidade de viverem mais tempo e com maior qualidade de vida. Além disso, uma pessoa que seja tratada atempadamente tem menos risco de desenvolver sida (uma doença crónica que resulta da destruição do sistema imunitário pelo vírus) e outras doenças associadas, como a tuberculose. Um seropositivo a receber tratamento também tem menor probabilidade de infetar outras pessoas.
Em média, passam cerca de três anos, desde a infeção, antes de a pessoa ser diagnosticada – que é muito tempo”, disse em comunicado Andrea Ammon, diretora do ECDC. “Dois terços – 68% – dos novos casos diagnosticados de sida na União Europeia e Área Económica Europeia aconteceu apenas três meses depois do diagnóstico de infeção com VIH, que indica que estas pessoas tinham a infeção há muitos anos.”
Para aumentar o diagnóstico numa fase inicial ou não muito avançada da infeção, a OMS definiu linhas orientadoras para que o próprio possa fazer um teste ou para que este teste seja feito por pessoal não-especializado, mas que recebeu treino para isso. “Contudo, a monitorização das políticas na região indicam que a implementação de testes baseados na comunidade, no auto-teste e na notificação por parceiros [pessoal não-especializado] é limitada ou inexistente em muitos países europeus”, refere o relatório.
O diagnóstico precoce permite também começar o tratamento antirretroviral o quanto antes e, consequentemente, reduzir a morbilidade (relação entre os casos de doença e o número de habitantes) e mortalidade. Só assim se consegue ficar mais próximo de atingir o objetivo 90-90-90 até 2020: ter 90% das pessoas com VIH diagnosticadas, ter 90% destas pessoas a receber tratamento antirretroviral e que 90% das pessoas que recebam tratamento consigam reduzir a carga viral no organismo.
Apesar de existirem bases científicas que demonstrem que o tratamento precoce é benéfico tanto para a saúde do indivíduo como para a prevenir a transmissão da doença, ainda existia, em 2016, um terço dos países da região europeia (da OMS) que não tinha políticas de tratamento para todos os casos diagnosticados, alerta o relatório. Outra das recomendações é que se use o tratamento como forma de prevenir a infeção (profilaxia de pré-exposição) em indivíduos que estejam em risco de ser infetados.
Para reduzir o número de novos casos de infeção com VIH, o ECDC e Gabinete Regional para a Europa da OMS recomendam:
- Uma aposta nas medidas de prevenção, incluindo a promoção de sexo seguro, o uso de preservativo, os programas de troca de seringas e a profilaxia de pré-exposição.
- A implementação de serviços de diagnóstico rápidos e eficazes, incluindo o auto-teste.
- Que seja assegurado o rápido acesso a cuidados de saúde e tratamentos para quem for diagnosticado com a infeção.