Bloco Central nunca, Marcelo Sempre. Santana Lopes formalizou esta terça-feira a sua candidatura à liderança do PSD, dizendo que na sua moção estratégica “não há qualquer equívoco” e que uma solução de Bloco Central “não deve acontecer”. O antigo primeiro-ministro não teve problemas em colar-se a Marcelo Rebelo de Sousa, que citou várias vezes, e quer garantir já o apoio ao antigo líder do partido nas próximas Presidenciais de 2021: na sua moção estratégica está já inscrito um “apoio a uma possível recandidatura do atual Presidente da República”. O “grande objetivo”, claro, é “vencer as legislativas de 2019”.

Santana Lopes procurou marcar a diferença para Rui Rio, sugerindo que na moção do adversário não fica claro se aceitará formar Governo com o PS. É por isso que Santana quis “sublinhar a atitude quanto a possibilidade de Bloco Central”, ao acrescentar que na sua moção “não existe lugar para equívoco nessa matéria”. Para o candidato à liderança do PSD, uma solução de Governo com os dois partidos “não deve acontecer”. PSD e PS enquanto “dois maiores partidos”, devem, no entender de Santana, “ser alternativa no poder”. Se assim não for, isso levará “à erosão do sistema” e ao “crescimento dos extremos”.

Após questionado pelos jornalistas se não seria cedo para se declarar já contra qualquer hipótese de Bloco Central, Santana explicou que “o mal da política é os políticos não dizerem antes o que vão fazer depois de serem eleitos”. Quanto a uma aliança com o PS, entende, “não deve haver margem para dúvidas”. Além disso, lembra Santana, “o PS fez a opção por governar com o apoio da extrema-esquerda” e isso muda a forma como o PSD se relaciona com os socialistas. Ao seu lado, estava o presidente da sua comissão de honra, Rui Machete, que foi vice-primeiro-ministro no único Governo Bloco Central, liderado por Mário Soares. Mas os tempos são outros.

Santana Lopes disse ainda que a sua candidatura “não é contra ninguém” e que “pretende honrar o passado”. Foi mais um piscar de olho aos passistas. Isto porque Rio, mesmo que o tenha retificado nesta campanha, sempre foi um dos maiores críticos de Passos Coelho.

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O antigo primeiro-ministro destaca que na moção que esta terça-feira entregou na sede do partido estão claros dois eixos: “Com quem queremos ir” e “a quem queremos ser alternativa”. Ora, torna-se é claro que, com Santana é pouco provável o PSD ir a votos em legislativas numa coligação com o CDS. Na moção de 55 páginas, Santana defende que “o PPD/PSD apresentará sempre, em cada ato eleitoral, o seu projeto político pelo que, idealmente, concorrerá sozinho às próximas eleições legislativas“. O “idealmente” dá margem para que possa ir a votos com o CDS, mas sugere que essa nunca será a prioridade nem a primeira intenção. É um cortar, desde já, com Assunção Cristas.

Além do “grande objetivo” de ganhar as legislativas, Santana elege também como prioridades “vencer as Europeias” e o PSD voltar a ser “a maior potência autárquica”. Daí que tenha decidido — na mesma linha de Rui Rio — começar já a preparar as autárquicas de 2021. Por isso decidiu “nomear no próximo dia 19 de março, a comissão coordenadora para as próximas autárquicas [de 2021].”

O exemplo do Presidente

Depois veio Marcelo. Desta vez, Santana não citou uma única vez Sá Carneiro, mas referiu Marcelo Rebelo de Sousa uma dezena de vezes. Lembrou que o Presidente no seu discurso de Ano Novo “sublinhou o termo reinvenção. Do Estado. Da ação social”. Ora esse, sublinha Santana, é um termo utilizado na sua moção estratégica como algo que agrega uma grande “convergência de portugueses” que estão cansados de o país não sair de um “ciclo” em que vai alternando crises com momentos de desafogo, mas sem dar um salto.

Santana explicou pouco depois, já em resposta às perguntas dos jornalistas, que Marcelo é também um exemplo a seguir porque tem sido “um caso excecional de magistratura suprema do país, não só na popularidade mas de entendimento político.” Justificando o porquê de querer já o apoio a Marcelo aprovado neste Congresso — já que as presidenciais são só em 2021 — Santana explica que o “próximo congresso [do PSD], em 2020, já está em cima” da corrida a Belém.

Para Santana Lopes, o “Estado continua a gastar de mais” e a “economia cresce de menos”. Sobre Finanças Públicas, Santana manifestou o desejo de baixar impostos, mas dentro das possibilidades do país e sem se comprometer. Garantiu que é o equilíbrio das contas públicas é uma das suas preocupações, mas destacou que não tem uma “obsessão com a coluna da despesa, mas com a criação de receita”.

O candidato lembrou que “o défice controla-se também pelo lado da receita, não só da despesa”. Sobre esse aspeto, destacou uma das bandeiras do Passismo interrompida por António Costa: a redução do IRC. Santana volta a lembrar esse ponto: “É importante a redução da carga fiscal, nomeadamente pelas empresas. Isso foi feito pelo anterior Governo e não trouxe redução da receita. Pelo contrário.”

Santana Lopes prometeu ainda que irá procurar assegurar a paridade nos órgãos do partido, assumiu que irá proibir candidatos a deputados nos círculos onde não são, pelo menos, “residentes habituais” e quer promover a “descriminação positiva nos territórios de baixa densidade.”

O candidato chegou à sede do PSD às 11h00 e formalizou a sua candidatura com a entrega de 2525 assinaturas. Depois disso fez uma declaração que durou menos de meia hora. Depois disso teve reunido quase uma hora com o líder do partido, Pedro Passos Coelho, que o acompanhou depois à porta da sede. Tal como tinha feito com Rui Rio.

Num jeito de balanço do que tem sido a campanha até agora, Santana lembrou que já fez 87 iniciativas, nas quais discutiu ideias com 12 700 militantes, percorreu mais de 30 mil quilómetros pelo país e de onde saíram 221 propostas que integram a atual moção.

Santana Lopes e Rui Rio disputam a liderança do PSD dentro de menos de duas semanas, a 13 de janeiro. O Congresso do Partido, onde o novo líder será entronizado, realiza-se nos dias 16, 17 e 18 de fevereiro em Lisboa.