Passavam 47 minutos da meia-noite de 1 de janeiro quando Asel nasceu num hospital em Viena. Foi a primeira bebé a nascer na capital austríaca no novo ano. Como é habitual na Áustria, os pais foram convidados a posar com a recém-nascida para os jornais locais e a fotografia dos três, rodeados pela médica Ivone Saric-Milinic e a enfermeira Bettina Glaser, publicada no site da associação de hospitais de Viena. Só que em vez de mensagens de parabéns, Naime e Alper Tamga tornaram-se alvo de comentários xenófobos e de ódio por serem muçulmanos.
As mensagens foram de tal forma racistas — “Quando tiver 18 anos vai tornar-se terrorista”, “Devia morrer já”, “Deportem já este monte de lixo”, foram alguns dos comentários publicados pelos leitores de jornais como o Heute, que divulgou a foto de Naime, Alper e Asel, de acordo com o El Español –, que levaram o secretário-geral da Cáritas austríaca a fazer um comentário público na sua página do Facebook. “Nas primeiras horas de vida, esta bebé já foi alvo de uma onda inacreditável de comentários violentos e de ódio”, escreveu Klaus Schwertner. “Esta é uma nova dimensão de ódio online, que tem como alvo uma recém-nascida inocente.”
Schwertner, que se recusou a participar “de maneira alguma” na onda de ódio contra a pequena Asel, aproveitou o post para iniciar uma campanha de “palavras simpáticas”. “Estou a reunir palavras simpáticas e de boas-vindas para esta bebé adorável e os seus pais. Gostava de imprimir estas mensagens, de as emoldurar e de as oferecer à família”, afirmou o secretário-geral da Cáritas. A publicação, feita na quarta-feira, conta atualmente com 26 mil comentários, 30 mil likes e mais de 13.800 partilhas.
Barbara Unterlechner, diretora de um centro de aconselhamento dirigido a vítimas de ódio online, o #GegenHassimNetz Counselling, disse ao The New York Times que os comentários racistas nas redes sociais na Áustria aumentaram exponencialmente desde a chegada de mais de 145 mil refugiados, vindos sobretudo da Síria, Iraque e Paquistão, ao país há dois anos. ““Há um certo estereótipo em relação aos muçulmanos que se tornou cada vez mais comum nas redes sociais”, explicou Unterlechner ao jornal norte-americano. “Não é feita qualquer diferenciação entre refugiados ou muçulmanas com a cabeça tapada. Qualquer pessoa que aparente ser muçulmana é logo considerada uma inimiga da nossa cultura.”