Fernando Negrão anunciou aos deputados da bancada do PSD que é candidato à liderança da bancada. O anúncio foi feito através de um e-mail enviado aos deputados. Em conferência de imprensa, quando confrontado com a eventual divisão da bancada em relação à sua candidatura, o social-democrata foi taxativo: “Não vou fazer nada para unir porque não vou obrigar as pessoas a votarem em mim. Os deputados são livres e o voto é um voto universal. Limitar-me-ei a aguardar o resultado”, afirmou.

No Parlamento, o deputado do PSD foi muitas vezes questionado sobre a aparente falta de consenso em torno da sua candidatura para a liderança parlamentar do partido. Apesar de dizer várias vezes que acredita “ter condições” para suceder a Hugo Soares, Fernando Negrão não se mostrou preocupado com um eventual número elevado de votos em branco.

Os consensos são muito importantes. Mas quem almeja os 100%, almeja, por vezes, um consenso falso”, insistiu.

Preferindo não especular sobre as eleições agendadas para a próxima quinta-feira, 22 de fevereiro, Negrão disse apenas estar “preparado para qualquer resultado”. “Sinto que tenho condições e experiência. Espero ter os votos necessários”, sugeriu o deputado do PSD. Na conferência de imprensa, Fernando Negrão anunciou ainda que Adão Silva será o seu primeiro vice-presidente na bancada parlamentar — ele que chegou a ser apontado com um dos nomes mais fortes para suceder a Hugo Soares.

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Quanto a Rui Rio, Fernando Negrão garantiu que já falara com o presidente do partido e que o líder social-democrata “manifestou o agrado” com a candidatura do antigo diretor da Polícia Judiciária à presidência do grupo parlamentar do PSD. Aos jornalistas, o deputado do PSD revelou que tivera uma primeira conversa com Rui Rio em que discutiram “a vida parlamentar” e que, depois de Hugo Soares ter convocado eleições na quarta-feira, falou uma segunda vez com o líder do partido para manifestar a vontade de avançar para liderança da bancada parlamentar.

Desafiado a esclarecer se nessa primeira conversa com Rui Rio defendera ou não a continuidade de Hugo Soares na presidência da bancada, Fernando Negrão limitou-se a responder que os dois partiram do princípio que “esta liderança não se manteria”. Hugo Soares mostrou disponibilidade em trabalhar com Rui Rio e revelou que foi o próprio presidente do PSD a comunicar no sábado que não estaria disposto a trabalhar com o ainda líder parlamentar.

Ao início da tarde, o deputado, que atualmente preside à comissão eventual para o reforço da transparência no exercício de cargos públicos, tinha enviado um e-mail aos deputados do PSD a comunicar a sua candidatura à liderança da bancada. Nesse texto, Negrão saudava o líder parlamentar cessante, Hugo Soares, “nele reconhecendo um trabalho muito válido e competente de oposição”, mas diz que se candidata para construir uma alternativa de futuro para o país.

No mesmo e-mail, Negrão explicava ainda que já tinha dado “nota” da sua intenção a Rui Rio e anunciava a sua candidatura. “Face à situação agora criada, o grupo parlamentar terá de avançar para a eleição de uma nova direcção, que como já é conhecido, ocorrerá no próximo dia 22 do corrente mês e ano, por forma a regressar àquilo que os nossos companheiros por todo o país esperam de nós e que é, coesos e determinados, construirmos uma alternativa de futuro para o país”, lê-se no email enviado ao início da tarde desta quinta-feira aos deputados, a que o Observador teve acesso.

Hugo Soares deixa a liderança parlamentar do PSD por desejo de Rui Rio

Apesar dos múltiplos nomes que têm surgido nas últimas semanas para suceder a Hugo Soares, que se demitiu dizendo que Rui Rio manifestou o “desejo” de trabalhar com outra direção, o Observador sabe que a hipótese de Fernando Negrão estava a ser trabalhada há semanas. Isto porque Negrão é visto como alguém credível e com currículo para lá da política, pelo que é visto, mais do que como uma solução interna, como uma solução com credibilidade externa.

Nomes como Adão Silva ou Luís Álvaro Campos Ferreira chegaram a ser noticiados como possibilidades, mas não chegaram a ser convidados. O mesmo não se pode dizer de Luís Marques Guedes, que foi sondado mas que se mostrou indisponível. A opção de Rio recai agora sobre um nome ligado à ala santanista do partido, e surge um dia depois de o próprio Pedro Santana Lopes ter sido convidado por para ser cabeça de lista ao Conselho Nacional, numa óptica de unir, depois da divisão provocada pela disputa interna.

Fernando Negrão foi diretor da Polícia Judiciária, foi ministro da Segurança Social no governo de Pedro Santana Lopes e foi, por um curto período de tempo, ministro da Justiça no Governo de Passos Coelho e Paulo Portas saído das eleições de 2015, e deitado abaixo pouco depois. No início da legislatura, Fernando Negrão foi também a escolha do PSD para candidato a Presidente da Assembleia da República, mas a maioria de esquerda no Parlamento votou a favor do nome proposto pelo PS, Eduardo Ferro Rodrigues.

No email enviado aos deputados, Negrão diz que já “deu nota ao presidente eleito do partido”. “É, pois, neste espírito e após disso ter dado nota ao presidente eleito do nosso partido, com uma forte vontade de inclusão, através da valorização das equipas de coordenação e de cada um dos colegas, que venho dar-lhes conta da minha candidatura a presidente do grupo parlamentar”, escreve.

Há uma semana, num almoço-debate no International Club of Portugal, Fernando Negrão tinha deixado claro que estava disponível para o cargo, sublinhando que os nove anos que tem de deputado fazem com que esteja inevitavelmente “preparado” para exercer aquelas funções.