A entrada dos atletas na final de uma grande competição de natação é um espetáculo em si mesmo, com os nadadores a fazerem as suas brincadeiras para as câmaras ou a acenarem para os adeptos. Neste caso, nos Gold Coast Swimming Trials da Austrália para os Jogos da Commonwealth, no Aquatic Center da cidade, tudo foi diferente: há só um inscrito nesta prova de 50m livres, com uma entrada mais vagarosa de mãos atrás das costas a olhar em redor antes de agradecer o apoio vindo das bancadas. Após tirar o pólo, a t-shirt e as calças, sobe para o bloco com ajuda de um elemento da organização e prepara-se para a partida.

George Corones começou a fazer natação em miúdo, parou no início da Segunda Guerra Mundial e regressou quando fez 80 anos, “até mais pelo exercício”. “Quando se está na água, naquele ambiente, é tudo lindo”, resumiu. Aos 99 anos, quase a cumprir o centenário, nem o facto de ser o único atleta no seu escalão o demoveu de ir mais além e bateu o recorde mundial da distância (56.12 segundos, tirando 35 segundos ao tempo feito pelo britânico John Harrison em 2014), a que juntou no dia seguinte uma nova melhor marca nos 100m livres, escalão 100-104 anos, com menos um minuto do que o registo anterior.

“Não me importo nada de saltar sozinho para a piscina, quando estou a correr não existe nada para mim além da água, estou centrado naquela linha preta”, contou numa entrevista após a primeira prova. “Foi uma grande corrida para mim, equilibrada, e estava com força para tocar na parede com a minha mão quando chegasse. Com esta idade, uma pessoa cansa-se de forma mais rápida, mas se fizeres tudo com sensatez, as recompensas são astronómicas”, acrescentou, citado pelo El País.

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Como conta o ABC, o australiano tinha batido já uma série de recordes há seis anos, no Campeonato do Mundo de Itália, marcas que ficaram fixadas no escalão de 90-94 anos. Nessa altura, treinava três dias por semana natação e fazia ginásio noutros dois para se manter em forma para as provas de 50m e 100m livres que ia realizando.

“A natação é a única atividade que os humanos podem fazer e onde a gravidade é gratuita. Com a idade, não podemos escapar da gravidade nem mesmo quando estamos sentados, porque provavelmente temos uma postura má e os músculos e ligamentos começam a arquear, mas a natação dá essa oportunidade. Na água não temos peso e podemos usar todos os músculos do corpo sem o peso do mesmo”, completou em declarações reproduzidas ao The Guardian australiano.