A Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR), que representa 280 empresas do setor, revelou que, após cinco reuniões para negociar o novo Contrato Coletivo de Trabalho, a estrutura sindical recusou a proposta do “maior aumento salarial do século”.
No início das negociações, os sindicatos reclamavam um aumento salarial de 3%, na ordem dos 25 euros mensais, e a APCOR propunha uma atualização de 1,8%, o que representaria um mínimo de 14,73 euros, mas entretanto subiu esse valor para mais de 2%, o que significa pelo menos 17,06 euros mensais por trabalhador, num universo de aproximadamente 8.000 postos de trabalho.
“Infelizmente as negociações não chegaram a uma conclusão depois de a APCOR ter apresentado uma proposta que considerava o maior aumento salarial do século, ultrapassando os 2%”, refere à Lusa fonte oficial da associação — que representa cerca de 80% da produção nacional e mais de 85% das exportações, cobrindo todos os subsetores da indústria.
Admitindo “surpresa” pela reação dos sindicatos, a estrutura realça que a sua proposta “continua a reunir as condições que permitirão aos trabalhadores ter um progressivo aumento do seu rendimento, que neste ano representa quase três vezes a estimativa para a inflação”.
A APCOR defende, contudo, que “não houve preocupação dos sindicatos em acordar uma proposta de aumentos salariais em sintonia com as condições das empresas do setor”, que já se distinguem “positivamente em termos de política salarial nacional”.
A mesma fonte afirma que a associação não se deixará “condicionar por outras motivações que ultrapassem a agenda do setor” e continuará focada na “valorização” dessa indústria, pelo que se mantém “disponível para atingir um acordo em linha com os aumentos alcançados nos últimos anos”.
Nesse sentido, a APCOR recorda: “Há e houve sempre um esforço por encontrar um acordo que permita adequar o aumento sustentado e sustentável que tivemos ao longo dos últimos largos anos. Orgulhamo-nos de há mais de duas décadas e, anualmente, conseguirmos sempre atualizar o Contrato Coletivo de Trabalho do setor”.
Contactado pela Lusa, o dirigente do Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte Alírio Martins refere — também em nome da delegação do Sul e da Confederação dos Sindicatos da Indústria, Energia, Transportes e Outros — que “nenhum representante dos trabalhadores vai prescindir do aumento de pelo menos 20 euros mensais no grupo 14, que é o que reúne 95% dos empregos da indústria corticeira e o que representa os salários mais baixos”.
Salientando que a diferença atual entre o aumento proposto por sindicatos e APCOR “está em menos de três euros mensais, o que significa 10 cêntimos por dia”, o sindicalista questiona: “Num setor que ganha rios de dinheiro, há empresas que se recusem realmente a pagar 10 cêntimos por dia por trabalhador, quando eles já são quem menos traz para casa ao fim do mês?”.
Os sindicatos também querem “mais justiça no pagamento de diuturnidades”, já que, atualmente, só delas beneficiam “os funcionários administrativos”, que, ao fim de seis anos de antiguidade, recebem “100,5 euros a mais por mês, enquanto o resto do pessoal não ganha um tostão extra que seja, tenha seis, 10 ou 15 anos de casa”.
Outras reivindicações que Alírio Martins quer ver aprovadas pela APCOR são “mais apoio para quem sofre de doenças profissionais e a referência expressa no texto do novo contrato coletivo de que é ilegal o assédio no trabalho, para ficar clara a posição da associação e os seus princípios”.