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Carlos Lopes e o seu companheiro de sempre, Moniz Pereira, após a vitória na maratona de Londres
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Carlos Lopes e o seu companheiro de sempre, Moniz Pereira, após a vitória na maratona de Londres

Carlos Lopes e o seu companheiro de sempre, Moniz Pereira, após a vitória na maratona de Londres

Carlos Lopes. 7 momentos e 70 passos que nos fizeram maiores

Carlos Lopes foi o primeiro português a ganhar o ouro nos Jogos já depois de ter sido o primeiro a ganhar uma medalha olímpica no atletismo. Aos 70 anos, continua aí para as curvas.

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Carlos Lopes cumpre este sábado o 70.º aniversário e será alvo de uma homenagem no Pavilhão com o seu nome, em Lisboa, que reabre 14 anos depois devidamente reabilitado. Considerado um dos melhores atletas de sempre, ensinou-nos, enquanto portugueses, a seguir na vida o lema dos Jogos Olímpicos – citius, altius, fortius. Provou que era tão bom ou melhor do que os outros. Sem medos, de igual para igual. Trabalhou, foi persistente, cumpriu os seus objetivos, realizou os nossos sonhos.

Esta é a história de uma vida onde o impossível é mesmo não parar e admirar o percurso. Este foi o primeiro campeão olímpico de Portugal, em 1984, já com 37 anos. Este será, agora e para sempre, um ícone nacional reconhecido lá fora por todos.

A infância em Vildemoinhos

Carlos Alberto de Sousa Lopes nasceu a 18 de Fevereiro de 1947 em Vildemoinhos, uma localidade perto de Viseu que, como o próprio faz questão de destacar, “era na altura uma aldeia perto de Viseu, agora é que faz mesmo parte de Viseu”. A nota de rodapé foi feita pelo próprio porque, nesses anos, Vildemoinhos conseguia ter a sua vida própria, não sendo propriamente uma zona de dormitório. O campeão olímpico guarda boas recordações desses tempos, sobretudo das “cavalhadas” e dos cortejos a cavalo até São João da Carreira.

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Foi o mais velho de sete irmãos: Conceição, Cidália, António, Maria das Dores, Ana Paula e José António. Teve ainda mais uma irmã, Ana, que morreu aos dois anos. Cidália (800 e 1.500 metros) e António (sobretudo corta-mato) também foram atletas. O último acabou por contrair uma grave lesão no pé, numa prova de 3.000 metros obstáculos, e desistiu. Carlos Lopes cresceu numa daquelas casas humildes do campo com “um palmito de terra para cultivar”, tarefa quase sempre assegurada pela mãe, Emília, uma rainha na arte de fazer contas. O pai, António, trabalhava numa fábrica de serração de madeiras mas foi também fogueiro e arranjava sapatos em casa.

Carlos teve de repetir o primeiro ano e daí seguiu nos estudos até fazer o exame da quarta classe na Escola da Avenida, em Viseu. Preferia os números às letras e era dos melhores na caligrafia, sendo muitas vezes os seus trabalhos utilizados como exemplo para os outros.

Teve de repetir a primeira classe por causa do jeito do pai António… no jogo da malha. É verdade: um dia, o professor do ex-atleta tinha conseguido cometer a proeza de colocar a malha mesmo em cima do feijão (uma espécie de xeque praticamente mate, digamos assim) e avisou o adversário de que, se existisse alguma jogada de mestre que lhe retirasse a vitória, o filho seria chumbado. E não é que António conseguiu retirar a malha e deixar a sua mais perto do feijão? Carlos teve de repetir o primeiro ano e daí seguiu nos estudos até fazer o exame da quarta classe na Escola da Avenida, em Viseu. Preferia os números às letras e era dos melhores na caligrafia, sendo muitas vezes os seus trabalhos utilizados como exemplo para os outros.

Quando terminou a quarta classe, Carlos Lopes fez um pouco de tudo: começou como servente de pedreiro a ganhar cinco escudos por dia, passou depois para marçano numa mercearia ao pé do hospital de Viseu (25 escudos por mês) e foi a seguir para a ourivesaria Estrela (ganhando o dobro, 50 escudos/mês), até atingir o lugar que tanto ambicionava: a serralharia onde trabalhava o pai. Quando chegou a torneiro mecânico, já tinha um salário de pouco mais de 22 escudos por dia, uma ajuda preciosa para o agregado familiar.

O pai considerava-o demasiado franzino e torceu o nariz quando o pequeno Carlos quis ir jogar futebol para o Lusitano de Vildemoinhos. É verdade, o primeiro grande amor do campeão olímpico no desporto foi o pontapé da bola, até pela rivalidade que existia com o Académico de Viseu. O tio, Manuel Lopes, que chegou a ter o quarto melhor tempo nacional nos 30 quilómetros, foi a grande influência para o atletismo. Carlos e os amigos acabaram por formar um núcleo de corredores do Lusitano FC, ideia “ratificada” após uma corrida noturna entre miúdos para casa a seguir ao bailarico. Mas para se inscrever, falsificou a assinatura do pai.

Sabia que a primeira prova internacional de Carlos Lopes foi em Rabat, Marrocos? Depois do pódio conseguido no Campeonato Nacional de Juniores de corta-mato, foi convocado para a equipa de Portugal que disputou o Crosse das Nações em 1966.

Seminário, sabe quem é? Provavelmente não. Mas foi a primeira grande referência de Carlos Lopes enquanto miúdo. Também por ser sportinguista desde pequeno, era fã do ponta esquerdo peruano que passou pelos leões entre 1959 e 1961 antes de rumar a Espanha (Saragoça, a que se seguiram Fiorentina e Barcelona) e tentava imitá-lo nos jogos de rua entre amigos. O “Expresso de Lima”, como era conhecido, era um daqueles jogadores com ginga na finta e capacidade de desafiar o impossível com a bola nos pés, o que encantava Lopes.

E o Jorge, conhece? Não. E o Jorge de Abravezes, outra localidade próxima de Viseu? Se calhar ainda menos. Pois, o Jorge foi o primeiro atleta a conseguir ganhar a Carlos Lopes numa prova, a São Silvestre de Viseu. Nada que afetasse o menino de Vildemoinhos, que se sagraria pouco depois campeão regional de juniores de corta-mato e terceiro classificado no Campeonato Nacional da especialidade. O fenómeno começava a dar os seus primeiros passos.

Sabia que a primeira prova internacional de Carlos Lopes foi em Rabat, Marrocos? Depois do pódio conseguido no Campeonato Nacional de Juniores de corta-mato, foi convocado para a equipa de Portugal que disputou o Crosse das Nações em 1966, juntamente com Anacleto Pinto (Benfica), José Salvé-Rainha (CUF) e José Lourenço (Sporting). O atleta benfiquista era a grande aposta nacional na prova, mas Lopes conseguiu o melhor posto entre os elementos portugueses: 25.º lugar entre 106 participantes que o próprio reconheceu saber a pouco.

Nessa altura, vários clubes começavam a cobiçar o atleta para os seus quadros. Carlos Lopes ainda foi fazer algumas provas ao Porto (onde viu pela primeira vez o mar) mas, de lá, nunca chegou nenhum convite. Entre Coimbra e Lisboa, foram três: a Académica propunha-se a pagar-lhe os estudos caso assinasse pela Briosa; o Benfica tentava juntá-lo a Anacleto Pinto, que servia como ponte para manifestar o interesse; e o Sporting que, sabendo dessas sondagens, se chegou à frente. E ganhou.

A Académica propunha-se a pagar-lhe os estudos caso assinasse pela Briosa; o Benfica tentava juntá-lo a Anacleto Pinto, que servia como ponte para manifestar o interesse; e o Sporting que, sabendo dessas sondagens, se chegou à frente. E ganhou.

A vitória de Lopes no Campeonato Nacional de Juniores de 3.000 metros foi a última prova de que estava ali um prodígio em potência e, pouco depois, o Sporting enviou um emissário a Vildemoinhos para acertar a passagem para Lisboa (Firmino Afonso). A mãe, claro, ficou renitente com medo que faltasse boa comida no prato do filho mais velho (“e ele já é tão magrinho”, dizia). Carlos, destemido como sempre, arriscou. Seguiu o coração. E cumpriu o sonho de correr pelos leões. Mesmo queixando-se da falta da comida da mãe.

A chegada a Lisboa e as primeiras provas como leão

Não se pense que foram tudo rosas aquando da chegada do jovem a Lisboa, pronto para atacar a época de 1967 pelos leões: por saudades da família ou simplesmente da vida que tinha, pensou várias vezes regressar a Vildemoinhos. Nunca colocou a ideia em prática, também por uma questão de orgulho e pelo sonho de provar toda a sua capacidade no atletismo.

Quando veio para Lisboa, Carlos Lopes tinha emprego como serralheiro na capital. Mais tarde, já depois de ter cumprido o serviço militar, passou para contínuo do Diário Popular por influência do presidente do Sporting, Brás Medeiros (1959-1961 e 1965-1973). Brás Medeiros, na altura administrador, teve um papel determinante na publicação, formando com o tio de Francisco Pinto Balsemão uma dupla de sucesso pela forma inovadora como geriram o jornal.

A passagem de Carlos Lopes pelo Diário Popular trouxe um reencontro… familiar: Seminário, irmão do peruano que o encantara enquanto miúdo que não conseguira fazer carreira como futebolista, trabalhava no mesmo local e tornou-se seu amigo.

Sabia que Mário Moniz Pereira não foi o seu primeiro treinador no Sporting? Essa posição pertenceu a Raimundo Mendes, braço direito do eterno e saudoso “Senhor Atletismo”, que trabalhou com o jovem de Vildemoinhos no primeiro ano e meio em Lisboa.

É por esta altura que deixa de trabalhar com o primeiro e único treinador que teve antes de chegar a Alvalade: o professor Sarmento. Docente de Educação Física na Escola Comercial de Viseu, teve uma grande influência pela capacidade de fazer acreditar Carlos Lopes que não deveria remeter-se apenas às estradas e aos crosses. Com sucesso, o atleta fez-se às pistas e trabalhou pela primeira vez a sua parte mais física.

Sabia que Mário Moniz Pereira não foi o seu primeiro treinador no Sporting? Essa posição pertenceu a Raimundo Mendes, braço direito do eterno e saudoso “Senhor Atletismo”, que trabalhou com o jovem de Vildemoinhos no primeiro ano e meio em Lisboa. Técnicas e táticas à parte, foi importante na forma como conseguiu enquadrar Lopes na vida da capital, aumentando a sua autoconfiança e capacidade de persistência como pessoa e desportista.

Foi também nas pistas que Carlos Lopes conheceu a sua mulher, Teresa, que na altura era uma especialista em velocidade. Desde que começaram a namorar, nunca mais se largaram. E com outra história curiosa: nos últimos títulos conquistados, em 1974 (Nacional de Clubes de corta-mato e estafeta 4×100 metros), Teresa já estava grávida de três meses do primeiro filho, Nuno Miguel (que viria também a ser atleta). Ainda se manteve no desporto mas acabou por abandonar. Tiveram mais dois filhos, Carlos Pedro e Bárbara.

Na primeira prova pelo Sporting, o Grande Prémio da Parede, e tal como tinha acontecido no Lusitano de Vildemoinhos, Carlos Lopes terminou na segunda posição. E quem fez a vez de Jorge de Abravezes, como acontecera na primeira corrida? José Lourenço.

Na primeira prova pelo Sporting, o Grande Prémio da Parede, e tal como tinha acontecido no Lusitano de Vildemoinhos, Carlos Lopes terminou na segunda posição. E quem fez a vez de Jorge de Abravezes, como acontecera na primeira corrida? José Lourenço, um dos grandes nomes do atletismo nacional no final da década de 60 e que, na altura, era companheiro de Lopes (passaria depois por Benfica e Olivais Sul antes de terminar a carreira).

Há outro ponto de contacto entre o início no Lusitano de Vildemoinhos e no Sporting: também terminou o Campeonato Nacional de Juniores desse ano na terceira posição. Em janeiro de 1967, curiosamente nas pistas e não nas estradas ou nos crosses, onde parecia ser mais forte, consegue bater o primeiro recorde nacional da carreira: fez 8.44,80 minutos nos 3.000 metros em pista coberta.

Carlos Lopes conseguiu o seu primeiro grande título em 1968, quando ganhou a medalha de ouro nos 5.000 metros dos Campeonatos de Portugal, com a marca de 15.03,00. Além desse triunfo individual, ajudou o clube a ganhar o Regional e o Nacional de crosse.

1970 é o ano que marca o início da hegemonia de Carlos Lopes no plano nacional: totalmente adaptado à vida em Lisboa e seguindo os ensinamentos do mestre Mário Moniz Pereira, ganha nesse ano o primeiro de cinco títulos seguidos no Campeonato Nacional de corta-mato (apenas dois atletas tinham atingido esse feito antes) e, até 1974, consegue ainda bater oito vezes os recordes nacionais dos 5.000 e dos 10.000 metros em pista ao ar livre.

Os Jogos de 1972 e os primeiros grandes títulos internacionais

Em 1971, participa pela primeira vez na mítica São Silvestre de São Paulo, cerca de nove quilómetros na cidade brasileira que contavam com centenas de participantes. Era uma das provas mais desejadas todos os anos. Termina no 15.º lugar a edição ganha pelo americano Frank Shorter. Nesse ano, participa nos 10.000 metros do Campeonato da Europa (33.º lugar).

https://www.youtube.com/watch?v=OQ-7nMEPpBo

A primeira grande experiência internacional de Carlos Lopes ocorre nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972: na edição mais negra de sempre pelo ataque do grupo palestiniano Setembro Negro contra a delegação israelita na Aldeia Olímpica, que motivou a morte de 11 atletas e treinadores e um polícia (além de cinco terroristas), o atleta português acabou por não passar das qualificações: nono lugar da primeira eliminatória dos 5.000 metros e da terceira eliminatória dos 10.000 metros. Ambas as provas seriam ganhas pelo finlandês Lasse Viren.

Antes e depois dos Jogos, Mário Moniz Pereira voltou a mostrar o seu espírito crítico e a visão a longo prazo para agitar as consciências nacionais. “Nós temos atletas tão bons como os outros, que podem ganhar tanto como os outros. A diferença está nas condições de treino”, explicou. Traduzido por miúdos, o “recado” era simples – Portugal tinha de avançar para uma espécie de semiprofissionalismo para se bater por medalhas lá fora. E esse momento acabaria por chegar uns anos mais tarde, depois da Revolução de Abril de 1974.

Antes e depois dos Jogos, Mário Moniz Pereira voltou a mostrar o seu espírito crítico e a visão a longo prazo para agitar as consciências nacionais. “Nós temos atletas tão bons como os outros, que podem ganhar tanto como os outros. A diferença está nas condições de treino”, explicou.

Em 1973 participa pela primeira vez no Campeonato do Mundo de corta-mato, terminando a prova realizada em Waregem, na Bélgica, em 24.º lugar. Anacleto Pinto (108.º), Morujo Júlio (113.º), Américo Barros (116.º), Aniceto Simões (119.º), Cidálio Caetano (122.º), Vasco Pereira (133.º), Armando Aldegalega (136.º) e Fernando Mendes (desistiu) foram os outros portugueses presentes nessa edição, ganha pelo finlandês Pekka Päivärinta.

No ano seguinte, consegue pela primeira vez chegar ao pódio na São Silvestre de São Paulo, terminando a corrida brasileira na terceira posição. O colombiano Víctor Mora (com largo palmarés na prova) ganhou essa edição.

Deixa marca em 1975 na primeira edição da Taça dos Clubes Campeões Europeus de pista ao ar livre, conseguindo vencer a prova dos 10.000 metros em representação do Sporting, que termina no sétimo lugar da geral, bem atrás dos alemães do TV Wattenscheid.

Num ano marcado por nova saga de recordes nacionais (5.000 e 10.000 metros), falha apenas o melhor máximo nos 3.000 metros obstáculos porque caiu na parte final da corrida. Ainda assim, e como desistir era uma palavra inexistente no seu léxico, ganhou na mesma.

Em fevereiro de 1976, Carlos Lopes consegue o primeiro grande título internacional: o Campeonato do Mundo de corta-mato disputado em Chepstow, no País de Gales. Numa época preparada para ter esse primeiro pico no crosse, o atleta excedeu as indicações de Moniz Pereira para a prova e, vendo que os principais adversários evidenciavam algumas dificuldades, isolou-se a meio do percurso cheio de lama e venceu com inesperada facilidade.

Na altura da entrega das medalhas, e perante uma transmissão televisiva para dezenas e dezenas de países que atingiu picos de audiências, o duque de Lancaster chegou de helicópetro ao Chepstow Racecourse, um ponto alto do evento que colocou “A Portuguesa” nos ouvidos do mundo. Participaram também nessa edição Anacleto Pinto (44.º), Hélder de Jesus (79.º), Fernando Mamede (80.º), José Sena (88.º), Aniceto Simões (102.º), Vasco Pereira (103.º) e Carlos Cabral (140.º). Depois dos triunfos no Crosse de Chartres e de San Sebastian, estava apresentada a máquina nacional.

Carlos Lopes passara entretanto a trabalhar no banco Crédito Predial Português, o que lhe permitira começar a treinar duas vezes por dia sem que com isso abandonasse a atividade profissional que exercia. Segundo o próprio, esse foi o momento-chave que propiciou o resto da carreira de sucesso: se treinando metade do que os outros já era o que era, imagine-se com a mesma preparação dos adversários…

Os Jogos de 1976 e a primeira medalha olímpica

Nem oito nem 80: durante muito tempo, escreveu-se que o treino de Carlos Lopes se resumia a dar voltas ao estádio José Alvalade; depois, a agulha passou para o extremo oposto – andava nas ruas lisboetas a fintar carros e camiões durante a sua preparação. Afinal, como era feito o treino? Treinava em Alvalade em alguns períodos e saía para a rua noutros, mas sempre de uma forma controlada, sem gingas à frente de gigantes de quatro rodas (que uma vez o apanharam na Segunda Circular, como verá mais à frente nesta história).

Em 1976, Carlos Lopes teve o seu primeiro apogeu: além do Mundial de corta-mato, bateria sete vezes recordes nacionais: uma vez dos 3.000 metros; em duas ocasiões dos 5.000 metros; três vezes nos 10.000 metros (a segunda nos Jogos Olímpicos, marca batida depois num meeting em Estocolmo); e uma nas duas milhas. Palavras para quê? Era o melhor.

Carlos Lopes batia recordes nacionas atrás de recordes nacionais nos 3.000, 5.000 e 10.000 metros

Na preparação para os Jogos Olímpicos de Montreal, Carlos Lopes aceitou ficar na Aldeia Olímpica, onde muitos atletas se queixavam da alimentação. “Isto é para passar duas semanas para competir, não é um hotel de luxo para férias”, argumentou na altura para rebater eventuais problemas. Além do afincado plano de treinos para chegar no pico de forma, o atleta tentou também fazer aquilo que lhe valera a vitória no Mundial de corta-mato: conhecer-se a si próprio e conhecer os adversários. Cedo percebeu que Lasse Viren seria o seu maior adversário…

Armando Marques foi uma espécie de fonte de inspiração para a comitiva nacional: quando ninguém esperava, o atleta de tiro conseguiu ganhar a medalha de prata no fosso olímpico a apenas um ponto do americano Donald Haldeman – e Portugal não conseguia um segundo lugar nos Jogos desde os irmãos Quina na vela, em Roma (1960). Fernando Mamede, colega de equipa e grande rival de Lopes, ficou nas qualificações dos 800 metros e foi às meias-finais dos 1.500 metros. A relação entre Lopes e Mamede, outro dos atletas de excelência nacionais, nunca foi fácil, longe disso, mas Lopes sempre admitiu que foi melhor porque houve um Mamede.

A relação entre Lopes e Mamede, outro dos atletas de excelência nacionais, nunca foi fácil, longe disso, mas Lopes sempre admitiu que foi melhor porque houve um Mamede.

O português, porta-estandarte da Missão, dominou por completo as eliminatórias sem ter sequer de forçar o andamento: a 23 de Julho, Lopes ganhou a primeira eliminatória com seis segundos de avanço do francês Jean-Paul Gomez, ao passo que Viren escondeu o andamento ao terminar em terceiro lugr a terceira qualificação para a corrida decisiva.

A 26 de Julho, Lopes, que defendia que “ser bom observador é meio caminho andado para ganhar uma prova”, foi obrigado a agarrar na corrida a partir da oitava volta face à inépcia (ou tática, neste caso errada) de outros candidatos. Correu tudo bem até pouco mais de uma volta do fim, altura em que Viren, também conhecido como “O Finlandês Voador”, passou para a frente e aproveitou a ponta final menos forte do português para ganhar. Ainda assim, a prata de Lopes foi a primeira medalha olímpica de sempre do atletismo nacional (que ainda hoje só tem medalhas nesta modalidade, por Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nélson Évora). Mais do que isso, foi a prova de que, com as mesmas condições, podíamos lutar por qualquer vitória.

Sabe quem foi o primeiro jornalista a falar com Carlos Lopes após a prova? Fernando Correia, enviado especial a Montreal. Nas declarações após o final da prova, foi até curiosa a forma como o jornalista iniciou a conversa: “Depois do segundo lugar e desta corrida, não há assim nenhuma pergunta a fazer, a não ser pedir que me descreva o que se passou”. E o atleta lá explicou, sublinhando o jogo que ingleses e belgas andaram a fazer (e que o obrigaram a ir para a frente da corrida) e a forma extraordinária de Lasse Viren. Em fundo, quase no final, ouvia-se o hino da União Soviética numa cerimónia de entrega de medalhas.

Carlos Lopes também estava inscrito para os 5.000 metros e para a maratona, mas abdicou de ambas as provas por estar física e psicologicamente desgastado pela “derrota” nos 10.000 metros. O português tomou outra atitude que viria a deixar marca: depois de Lasse Viren não ter sido escolhido para fazer o controlo anti-doping (o finlandês era conhecido por nunca aquecer com os restantes participantes na prova e pelas alegadas transfusões de sangue que fazia), recusou-se também a fazer o teste em protesto. A partir daí começou a criar-se um sistema que ainda hoje vigora – todos os medalhados são obrigados a ir ao anti-doping.

A dupla Moniz Pereira-Carlos Lopes voltou a atacar fora das pistas e das provas: o professor comentou com ironia que tinha sido a medalha mais barata dos Jogos Olímpicos entre todos os países, ao passo que o atleta, que recebia na altura sete contos por mês no banco, pediu melhores condições para poder ter um treino igual ao dos seus adversários.

A dupla Moniz Pereira-Carlos Lopes voltou a atacar fora das pistas e das provas: o professor comentou com ironia que tinha sido a medalha mais barata dos Jogos Olímpicos entre todos os países.

O regresso de Carlos Lopes a Portugal foi muito saudado, tendo mesmo recebido a Medalha de Mérito Desportivo do Ministério da Educação. O atleta passou a ser em definitivo um herói nacional… com uma curiosa descrição feita pela bem conhecida revista Flama: “O rapaz entrou-nos em casa há poucos meses. Tipo de português vulgaríssimo, com poucas falas, um pouco baixo, o que surpreendia porque sempre se disse que os atletas tinham de ser matulões e peitudos”.

Lesões, recaídas e uma segunda vida via acupuntura

Para começar o ano de 1977, Carlos Lopes foi a grande figura da equipa do Sporting que conquistou pela primeira vez a Taça dos Clubes Campeões Europeus de corta-mato, em fevereiro, vencendo a corrida que decorreu em Palencia (Espanha). Faziam também parte dessa equipa Fernando Mamede (6.º), Aniceto Simões (8.º) e Carlos Cabral (26.º), além do inevitável treinador e mestre Mário Moniz Pereira.

Um mês depois, em Dusseldorf (RFA), o português terminou o Campeonato do Mundo de corta-mato na segunda posição, a cinco segundos do belga Léon Schots. Ainda assim, mesmo ganhando mais um Nacional de corta-mato, iria começar aqui um largo período de calvário.

Carlos Lopes. Fernando Mamede e Aniceto Simões estiveram na equipa que ganhou a primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus de Corta-Mato em 1977

Arquivo Jornal Sporting

Após uma grave lesão no tendão de Aquiles, a carreira de Carlos Lopes perdeu fulgor e as dores não o deixavam treinar como tanto gostava. Tentou variados tratamentos – recusando sempre a hipótese de ser operado, por conhecer alguns casos que não tinham corrido bem – mas sempre sem resultado. Até que encontrou a receita de sucesso na acupuntura, quando já estava quase com dez quilos a mais e desmoralizado por não fazer o que mais gostava.

Por conselho do então presidente do Sporting, João Rocha, o atleta foi ter com o mestre Kiyoshi Koboyashi, figura conhecida pelo relevo que teve no judo em Portugal. Depois de falarem pela primeira vez, prometeu que o tratamento iria demorar mas que ficaria bom; Lopes acreditou e entregou-se durante um ano à recuperação. E assim ganhou uma segunda vida.

Foi ter com o mestre Kiyoshi Koboyashi, figura conhecida pelo relevo que teve no judo em Portugal. Depois de falarem pela primeira vez, prometeu que o tratamento iria demorar mas que ficaria bom; Lopes acreditou e entregou-se durante um ano à recuperação. E assim ganhou uma segunda vida.

Em 1978 e 1981 desistiu no Campeonato do Mundo de corta-mato, ao passo que em 1980 ficou num modesto 26.º lugar, atrás do grande rival e companheiro de equipa Fernando Mamede (16.º). Craig Virgin, dos Estados Unidos, ganhou a prova com menos 54 segundos do que Carlos Lopes. Falhou também os Jogos Olímpicos de 1980, em Moscovo, por lesão. Ainda assim, garante que, se estivesse bem, teria ido à prova marcada pelo boicote de muitos países.

Carlos Lopes deixou de fazer os treinos ao ritmo dos outros, procurando sempre o seu equilíbrio agora que já não sentia as dores que o apoquentaram durante meses e meses a fio. E, dois anos e meio antes dos Jogos Olímpicos de 1984, decidiu que iria arriscar a medalha de ouro que lhe estava atravessada desde 1976 na maratona.

Em 1982, quase seis anos depois da última marca “canhão”, consegue bater um recorde, neste caso a melhor marca europeia dos 10.000 metros nos Bislett Games, em Oslo (27.24,39). O ano anterior tinha deixado a promessa de que estava de volta. E cumpriu mesmo.

Em 1982, quase seis anos depois da última marca “canhão”, consegue bater um recorde, neste caso a melhor marca europeia dos 10.000 metros nos Bislett Games, em Oslo (27.24,39 minutos). No ano anterior tinha deixado a promessa de que estava de volta. E cumpriu mesmo: ao conseguir mais uma vitória no Nacional de corta-mato, elevou para nove o número de títulos e bateu o registo que pertencia anteriormente a Manuel Dias.

Tem a primeira experiência numa maratona em Nova Iorque, em outubro de 1982, mas acaba por desistir. Seis meses depois, volta a arriscar na distância e ganha a aposta – o segundo lugar alcançado em Roterdão serviu também para bater o recorde europeu da maratona (2.08,39 horas).

No início do ano de 1983 (ou final de 1982, depende sempre de quem escreve porque a prova disputava-se no final do ano), consegue a sua primeira vitória na São Silvestre de São Paulo, tornando-se no terceiro atleta português a ganhar a mítica prova depois de Manuel Faria e Rosa Mota. Repetiria o feito dois anos depois, de novo com Rosa Mota a vencer a corrida feminina.

“Estava farto de ser o segundo na revista ‘Track and Field’ e apostei em ganhar duas vezes nos Estados Unidos: no Mundial de corta-mato e nos Jogos”, disse.

Se dúvidas ainda restassem de que a recuperação estava completa a 100%, vence pela segunda vez na carreira o Campeonato do Mundo de corta-mato aos 37 anos, no Meadowlands Sports Complex de East Rutherford, em Nova Jérsia (EUA). Mesmo com os favoritos africanos, americanos e britânicos à perna, conseguiu ter um arranque demolidor a dois quilómetros do fim e vencer, impressionando a imprensa estrangeira… porque ainda trabalhava ao mesmo tempo num banco. Na sequência da conquista, foi condecorado com a Medalha de Honra e Mérito Desportivo, a Medalha de Honra da Cidade de Lisboa e o grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. “Estava farto de ser o segundo na revista ‘Track and Field’ e apostei em ganhar duas vezes nos Estados Unidos: no Mundial de corta-mato e nos Jogos”, disse.

O ouro nos Jogos Olímpicos de 1984

A preparação para a maratona dos Jogos Olímpicos de 1984 começou dois anos e meio antes: tinha um treino específico entre a Malveira e a Coutada, entre as 11h e as 13h para se habituar ao calor que enfrentaria em Los Angeles, sempre com um carro de cobertura com a mulher e o cunhado. “Na altura podia treinar à beira da estrada porque não havia muitos carros”, explicou. No último ano, o atleta fez um total de 12.000 quilómetros de preparação.

No último ano, o atleta fez um total de 12.000 quilómetros de preparação. Duas semanas antes da corrida, e quando treinava na Segunda Circular, foi alvo de um atropelamento por Lobato Faria, piloto da TAP que queria ser candidato à presidência… do Sporting.

Duas semanas antes da corrida, e quando treinava na Segunda Circular, foi alvo de um atropelamento por Lobato Faria, piloto da TAP que queria ser candidato à presidência… do Sporting. Seria possível recuperar a tempo? O país parou mas, apesar da perna esfolada, estava tudo ok para a competição. Três dias depois, estava a treinar normalmente. E, no regresso, Lobato Faria ainda lhe disse que, se não tivesse havido o atropelamento, não tinha ganho…

À chegada aos Estados Unidos, Carlos Lopes “fugiu” desta vez à Aldeia Olímpica e foi para um hotel a cerca de 30 quilómetros de distância onde estavam outros atletas patrocinados nessa altura pela Nike. A opção, justificada pelo atleta como uma forma de poder fazer a sua preparação de melhor forma, criou um “problema” ao chefe de Missão, o Comandante Vicente Moura, porque a organização apenas se responsabilizava pela segurança dentro da Aldeia.

Moniz Pereira estava preocupado com as pulsações antes da corrida mas elas só aumentaram mesmo no final e de emoção

A prova realizou-se ao final da tarde de 12 de Agosto de 1984 (madrugada em Lisboa), mas nem por isso estava menos calor: 35 graus e 76% de humidade eram um convite a ser ainda mais herói. Lopes, que já tinha ido com menos um quilo para os Estados Unidos (53kg), baixou ainda mais o peso…

Na antecâmara da competição, Mário Moniz Pereira estava preocupado com o estado do seu atleta mas não demorou a ficar completamente tranquilo: a pulsação de Lopes estava a 45! E os próprio atleta admitiria depois que os cinco quilómetros iniciais foram os mais complicados.

Carlos Lopes acreditava mesmo que ia para ganhar e cumpriu à risca a tática previamente delineada, conquistando a vitória com o esticão dado nos últimos cinco quilómetros. Apesar de haver atletas bem mais candidatos ao triunfo, apenas John Treacy (Rep. Irlanda) e Charlie Spedding (Grã-Bretanha) tentaram, sem sucesso, apanhar o português. Sobrou-lhes o pódio…

https://www.youtube.com/watch?v=-28QMwPACVk

Após entrar no estádio, com 90 mil pessoas de pé a aplaudir e algumas bandeiras portuguesas no ar, Carlos Lopes começou a acenar ainda antes de terminar a prova, que iria estabelecer um novo recorde olímpico apenas batido em 2008. E o atleta, que apresentava uma “frescura” improvável após mais de 42 quilómetros, só não deu mais uma volta por respeito aos adversários. Curiosamente, o elemento do Comité Olímpico Português que levantou a bandeira do país para o estádio não foi o Comandante Vicente Moura, atual vice-presidente do Sporting, mas sim Ernesto Matos Soares, sócio número 1 do Benfica falecido no ano passado.

Depois da prova, Carlos Lopes deu a primeira entrevista à RTP (estava previamente combinado com Bessa Tavares e Jorge Lopes) e continuou a falar à imprensa sempre com a polícia por perto, por forma a seguir dali para o controlo anti-doping. Aí… foi o cabo dos trabalhos: por entre muita água, cerveja e coca-cola, só duas horas depois o atleta conseguiu sair do recinto.

Ronald Reagan com João Rocha, na altura presidente do Sporting, e Carlos Lopes na Casa Branca em 1984

Arquivo Jornal Sporting

Três dias depois, Carlos Lopes regressou a Portugal e foi recebido por milhares de pessoas no aeroporto, tendo depois feito um cortejo num descapotável pela avenida do Brasil até Alvalade, onde estava preparado um pequeno lanche. Até os Zés Pereiras, grupo de foliões que tocam bombos e desfilam na parada, vieram de Vildemoinhos para a festa.

Antes de partir para os Estados Unidos, Carlos Lopes perguntou ao futuro Presidente da República, na altura primeiro-ministro, Mário Soares, se uma medalha valeria um churrasco de cabrito no Palácio de São Bento. O político disse que sim, mas que teria de ser de boi. A medalha veio e a promessa foi cumprida, juntando todos os atletas presentes nesses Jogos Olímpicos mais alguns convidados.

Carlos Lopes tinha pedido um churrasco de cabrito em São Bento caso ganhasse uma medalha. Mário Soares anuiu mas teria de ser um churrasco de boi. E cumpriu

Entre as muitas homenagens de que foi alvo, houve duas que ficaram gravadas pelo seu relevo: foi recebido na Casa Branca pelo presidente americano Ronald Reagan, que queria mostrar a todos como alguém de 37 anos (era o atleta mais velho entre os 114 participantes na maratona) é um jovem com capacidade para realizar os seus sonhos; e esteve com o rei Juan Carlos no Palácio Real de Madrid, para receber o prémio de Melhor Desportista do Mundo de 1984. Até num episódio dos Simpsons viria a ser referido, imagine-se.

O final da carreira e os dias até hoje

Se pensava que o trajeto vitorioso tinha ficado pela medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, desengane-se: 1985 trouxe mais dois capítulos fantásticos a uma história já recheada de sucesso. Primeiro, em março, conquistou pela terceira vez o Campeonato do Mundo de corta-mato, desta feita realizado no Jamor; no mês seguinte, bateu o recorde do mundo da maratona, em Roterdão, sendo o primeiro a baixar da fasquia dos 2.08.00 (2.07.11).

Poucos se recordam, mas a verdade é que houve ainda mais um clube na carreira de Carlos Lopes além do Lusitano de Vildemoinhos e do Sporting: aos 39 anos, terminou a ligação de duas décadas com os leões e fez uma última época pelo Imortal de Albufeira.

Poucos se recordam, mas a verdade é que houve ainda mais um clube na carreira de Carlos Lopes além do Lusitano de Vildemoinhos e do Sporting: aos 39 anos, terminou a ligação de duas décadas com os leões e fez uma última época pelo Imortal de Albufeira. Foi à maratona de Tóquio, por forma a homenagear o mestre Kiyoshi Koboyashi, mas não conseguiu aguentar o ritmo e desistiu. Terminaria a saga de vitórias com quase 40 anos.

Depois de ter terminado a carreira, esteve envolvido em vários projetos estatais de sensibilização para a prática da atividade desportiva junto dos mais novos, sobretudo em escolas.

Carlos Lopes com Amália Rodrigues e Eusébio: três ícones que colocaram Portugal no topo do mundo

Perdeu no ano passado o seu grande parceiro de vida desde que chegou a Lisboa: Mário Moniz Pereira, o “Senhor Atletismo” que partiu com 95 anos. “Ele compreendia-me a mim e eu compreendia-o a ele”, costumava dizer Carlos Lopes para justificar a caminhada de sucesso. Outra das mortes que o deixou muito consternado foi a de Joaquim Agostinho, em 1984 – antes da queda fatal do ciclista, no Algarve, tinha estado com o amigo em Alvalade, que lhe confessara não ter grande vontade de ir disputar essa competição. Parecia estar a adivinhar…

É bom garfo, como sempre foi. Gosta daquelas comidas tipicamente portuguesas, mas sempre com moderação. Já como atleta dizia que não tinha problemas com o que comia, mas também não chegava ao ponto de, como foi escrito, comer uma feijoada antes de uma prova. Diz-se, ainda assim, que antes de ganhar o terceiro Mundial de corta-mato almoçou em casa um bom bife com batatas fritas acompanhado de um copo de vinho tinto. Só para não cair na fraqueza…

Perdeu no ano passado o seu grande parceiro de vida desde que chegou a Lisboa: Mário Moniz Pereira, o “Senhor Atletismo” que partiu com 95 anos. “Ele compreendia-me a mim e eu compreendia-o a ele”, costumava dizer Carlos Lopes para justificar a caminhada de sucesso.

Em 2009, foi considerado Atleta do Século pelo Comité Olímpico Português, apenas uma entre dezenas e dezenas de distinções que foi recebendo ao longo dos anos.

Continua ligado ao atletismo, sendo o diretor da modalidade no Sporting. E, depois de ter ganho como dirigente a Taça dos Clubes Campeões Europeus ao Ar Livre feminina em 2016, tentará este ano juntar mais títulos nacionais e internacionais face ao maior investimento que houve na secção.

Apesar de ter conquistado tudo e mais alguma coisa como atleta, e de ter experimentado variadas profissões antes de assumir apenas o desporto, nunca realizou o sonho de vida: ter formação e ser eletricista de automóveis.

O Pavilhão Carlos Lopes passará a contar com uma exposição sobre a carreira do primeiro campeão olímpico de Portugal

Deixou de correr há muitos anos, por recomendação médica. Ainda assim, não dispensa fazer umas caminhadas.

Este sábado, data que assinala o seu 70.º aniversário, vai ser reaberto o Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII. A requalificação do espaço que esteve encerrado 14 anos teve um custo de oito milhões de euros e conterá uma exposição permanente sobre o atleta.

Notícia atualizada e corrigida no dia 19 de Fevereiro de 2017, às 17h40

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