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DeDron/iStock

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"Em vez de unicórnios, transformem-se em baratas. Sobrevivam à guerra nuclear"

Eze Vidra foi sócio-gerente da Google Ventures e explica ao Observador que nunca foi tão fácil e barato lançar uma empresa como agora. Tal como nunca foi tão difícil atingir a sustentabilidade.

Foi managing partner da Google Ventures – fundo de investimento em capital de risco do gigante tecnológico na Europa, até dezembro de 2015, altura em que saiu para usufruir de um ano sabático e dedicar-se em exclusivo à organização sem fins lucrativos que lançou, a Techbikers. Eze Vidra foi distinguido como um dos 100 britânicos mais “fixes” do setor tecnológico pela Business Insider em fevereiro de 2016. Dois anos antes, tinha sido distinguido pela mesma publicação como uma das 50 pessoas a manter debaixo de olho no setor. Em 2015, o Evening Standard também o selecionou como uma das pessoas mais influentes do ecossistema tecnológico londrino.

À margem do Lisbon Investment Summit, promovido pela Beta-i, Eze Vidra explicou ao Observador que, apesar de nunca ter sido tão fácil e barato lançar uma empresa como agora, também nunca foi tão difícil provar que esta consegue ser sustentável. E em relação à existência de uma eventual bolha tecnológica, deixa um conselho: em vez de unicórnios, foquem-se em ser baratas e sobrevivam à guerra nuclear. Sobre investimento, recorreu ao amor — a relação entre um empreendedor e o seu investidor acontece da mesma forma que a paixão. Não se explica e há vários pormenores que podem entrar na equação.

eze vidra

Eze Vidra deixou o cargo de sócio-gerente da Google Ventures para a Europa em dezembro de 2015 para usufruir de um ano sabático

O que é que os empreendedores devem ter em mente quando se reúnem com investidores pela primeira vez?
Acho que não existe necessariamente uma fórmula certa, em que um só tamanho serve a todos. Há pouco, quando estava no palco [do Lisbon Investment Summit], perguntaram-me o que é que os investidores procuram nos empreendedores. E eu respondi que todo este processo era muito semelhante ao que acontece quando nos apaixonamos. E por que é que as pessoas se apaixonam? Não é só uma questão de atração física, tem outros parâmetros. Pode acontecer porque têm uma história semelhante, porque partilham os mesmos valores, porque têm conversas maravilhosas, porque se fazem rir um ao outro ou porque se inspiram um no outro.

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Acho que o que se passa com as startups é muito semelhante. Os negócios são coisas pessoais, no sentido em que cada empreendedor deve escolher um parceiro para si, não uma firma de investimento. E este parceiro deve apaixonar-se pelo fundador e pela empresa. Nisto tudo, o que é importante? Acho que a equipa é extremamente importante, sobretudo quando as empresas estão em estados iniciais. Porque, na verdade, a ideia que te apresentam vai mudar várias vezes. Se calhar fazem-te um pitch de uma ideia agora e dali a um ano vão estar a trabalhar em algo diferente. E no que diz respeito à equipa, importa saber: qual é o seu pedigree? O que é que os motiva? Que competências têm? O que é que já fizeram na sua carreira? Podemos estar a falar de uma carreira muito curta, mas ainda assim… Foram bons alunos? O que é que comprova que têm as características de que os investidores andam à procura?

E depois?
Depois, é o mercado. As empresas precisam de atuar num mercado grande e em crescimento. Um investidor de capital de risco quer obter retornos exponenciais. O que significa que, idealmente, a startup em que investe deve dar-lhes um x de retorno. É disso que os investidores dos fundos de capitais de risco estão à espera. E é por isso que arriscam com capital: para apanharem a grande onda. É importante atacarem um grande mercado que está a crescer. Atacarem-no no momento certo, com a solução certa, em algo que é tão grande que vais ser capaz de o transformar numa empresa grande e de sucesso.

Finalmente, acho que se trata de captar valor. A primeira coisa que te ensinam nas escolas de negócios é que precisas de criar valor e de capturar valor. Por isso, se tiveres uma app muito boa e um milhão de downloads, mas não souberes o que fazer com eles, significa que estás a pagar todo este dinheiro para que as pessoas tenham uma grande experiência, mas que ainda não descobriste qual é o modelo de negócio. É bom que durante algum tempo se foquem na experiência e no produto, mas há sempre um momento em que vão ter de pensar no modelo de negócio. Por isso, capturem o valor. Mesmo que hoje não saibas que valor será, deves ter uma ideia sobre ele e sobre como vais lá chegar. E que experiências vais fazer para provar que a tua hipótese está correta.

"Não é isso que se quer - que o empreendedorismo seja algo em que qualquer pessoa com uma ideia pode reunir com investidores e levantar dinheiro facilmente"

É interessante perceber que, sempre que se fala sobre investimento, também se fala sobre emoções. Mas como devem — empreendedores e investidores — lidar com estas emoções e manter a distância?
Por vezes, é muito fácil perceber tudo isto logo no início. Tal como também é possível apaixonares-te à primeira vista. Eu diria que há um processo estruturado para fazer o pitch, mas que também existem outras coisas pessoais que acontecem no entretanto [e que têm impacto]. O investidor encontra-se com a startup e a startup tem a possibilidade de apresentar o que estão a fazer. Mas saber como lá chegaram também é importante. Se os fundadores tiverem sido sugeridos por alguém em quem o investidor confia — talvez outro empreendedor em que já tenha investido e com quem já tenha ganho dinheiro — também é importante.

É preciso saber como se chega ao investidor, como corre essa reunião, e é importante saber se se adequa à cultura. Há uma grande lista que postei no Twitter e que fala sobre as 10 coisas que o empreendedor deve ter e que exigem 0% de talento: chegar a horas, ética de trabalho, dedicação, expressão corporal, energia, atitude, paixão, ser capaz de se adequar à cultura, fazer mais do que é suposto, mostrar que está preparado.

E nada disso tem a ver com a ideia ou com o produto.
Não.

Apenas com o fundador.
Isto é um pré-requisito. É preciso teres isto e, se tudo correr bem, também tens uma grande ideia e reúnes uma grande equipa. Com isto, não quero dizer que seja impossível, mas também não é isso que se quer — que o empreendedorismo seja algo em que qualquer pessoa com uma ideia pode reunir com investidores e levantar dinheiro facilmente.

Acho que o ambiente do investimento de capital de risco mudou [nos últimos tempos] e que agora as pessoas precisam de dar mais provas ou de, pelo menos, mostrar que há mais lógica no que estão fazer. Têm de investir esforços e dinheiro na aquisição de clientes, independentemente do produto que tenham — quer seja uma app ou um site de comércio eletrónico, o que for. O que interessa é que depois precisam de encontrar uma forma de capturar esse valor. E para conseguirem atrair outras pessoas para a ideia que estão a desenvolver, é preciso terem estas características.

. O que sugeri à audiência [do Lisbon Investment Summit] foi: em vez de se focarem em ser unicórnios, foquem-se em ser baratas. E sobrevivam à guerra nuclear.

Conservas os teus recursos, trabalhas para atingir objetivos, mas fazes isto passo a passo para provares que o que estás a pensar que vai acontecer, acontece mesmo. Com muito trabalho. Acho que só estamos na superfície daquilo que a tecnologia pode fazer em setores como a educação, saúde, energia, automotiva, a indústria. Há muito espaço para as startups chegarem e irromperem. Acho que vai haver capital capaz de se encontrar com essa inovação. Por isso, não sejam desencorajados pelo ambiente macroeconómico ou pela bolha ou não bolha. Isso não deve preocupar uma startup em início de atividade nos dias que correm.

"Na Google Ventures, tentamos encontrar essas pessoas que estão a tentar criar o seu próprio Google, porque acreditam mesmo no que estão a fazer"

Na Google Ventures, qual foi a sua maior aprendizagem?
A Google é uma empresa incrível. Acho que uma das coisas que mais aprendi é o quão importante é trabalhar em coisas que interessam. Ter uma grande missão, que tem um alcance longínquo, vai ajudar-te. Quando estás a trabalhar num grande problema há sempre alguma coisa que podes fazer. Ajuda-te a atrair talento, a atrair mentes brilhantes que queiram trabalhar naqueles que são os problemas mais interessantes e desafiantes. Na Google Ventures, tentamos encontrar essas pessoas que estão a tentar criar o seu próprio Google, porque acreditam mesmo no que estão a fazer.

Como por exemplo?
Eu investi no Kobalt Music Group porque acho que é uma empresa que está realmente a mudar a forma como se paga aos artistas, que fatias vão para os compositores. Eles pegaram em todas as plataformas de streaming de música e tentaram compreender como é que os artistas podiam ser remunerados de forma transparente. Lançaram agora uma app que permite ver isso em tempo real. Imagina que a Adele lança agora uma demo no estúdio. Pode pô-la no Soundcloud e ver automaticamente na app quantas pessoas estão a consumir aquele conteúdo e quanto dinheiro recebe dali. Há milhares de problemas por resolver e acho que as missões das empresas são muito importantes. E isto é algo que eu levei da Google para a minha vida pessoal.

Acabei por fazer uma pausa profissional depois, o que é um privilégio e tem sido uma experiência fantástica. Estou a dar escala à minha própria empresa sem fins lucrativos, a Techbikers. Consegui organizar uma comunidade de startups, investidores, techies e empreendedores à volta de desafios relacionados com o ciclismo com a missão de angariar dinheiro para a educação de crianças em países em vias de desenvolvimento. Nos últimos cinco anos, conseguimos captar investimento para apoiar cinco escolas, dez livros e três mil bolsas de estudos para raparigas. Este ano estou a tentar angariar um milhão de dólares em cinco provas de bicicletas. É uma missão tão poderosa e estou a ser capaz de convencer as pessoas de todo o mundo a juntarem-se a mim. Este ano as voltas vão ser entre Paris e Londres, Viena e Budapeste, Madrid e Valência, entre outros.

Talvez também em Lisboa.
Talvez. Propus isso hoje e se quiserem arrancar com a ideia era maravilhoso. Mas teria de ser uma volta entre Lisboa e uma cidade espanhola, por exemplo [para cumprir com os meus requisitos de distância]. Os empreendedores têm de pensar no impacto e na missão [da empresa] a nível pessoal e profissional. E assim juntas as pessoas na tua missão.

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