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Jason Mercier. O rapaz que contrariou os pais e chegou ao top do póquer

Começou a jogar póquer aos 15 anos. Com 18, estava virtualmente falido. Três anos depois, conquistou o primeiro milhão e nunca mais parou. Jason Mercier, em entrevista ao Observador.

O discurso é de um atleta de alta competição, focado e preparado para ser o melhor entre os melhores, ainda que os olhos colados no tapete verde da mesa, tímidos, possam dar outra impressão. “Só consegues estar no topo se tiveres a experiência necessária. Se hoje sou um dos melhores jogadores do mundo foi porque trabalhei durante várias horas, todos os dias, durante a última década”, diz Jason Mercier, com voz arrastada e a tranquilidade de quem sabe que tem um encontro marcado com a história do póquer.

O norte-americano, considerado o melhor jogador do World Series of Poker 2016, estreou-se nos principais torneios de póquer do circuito mundial em 2008. Em apenas dois anos, conseguiu resultados na ordem dos 3.8 milhões de euros em torneios ao vivo, uma marca impressionante mesmo num universo como o póquer. Hoje, com pouco mais de nove anos de carreira, é já o 13º jogador que mais dinheiro arrecadou na história do póquer mundial e o atual detentor do recorde de jogador com mais tempo como número 1 do Global Poker Index, o mais respeitado ranking de jogadores. Passou qualquer coisa como 84 semanas, quase dois anos, a dominar o super competitivo mundo do póquer. Durante um ano, fê-lo mesmo de forma ininterrupta. E tudo na vida de Jason Mercier podia ter sido radicalmente diferente se os astros se tivessem alinhado de forma diferente.

"Se hoje sou um dos melhores jogadores do mundo foi porque trabalhei durante várias horas, todos os dias, durante a última década"
Jason Mercier

Menino prodígio no basquetebol de liceu, Jason Mercier, o mais novo de quatro irmãos, tinha tudo para lutar por uma carreira como jogador profissional. Em vez disso, na altura de escolher a universidade, abdicou de uma bolsa para desportistas e decidiu aceitar uma bolsa académica numa universidade local. Começou a jogar póquer aos 15 anos, mas primeiro contacto com o póquer online chegou mesmo antes de entrar na faculdade. Depois da iniciação, veio a fixação absoluta. Durante um ano, Mercier não fez outra coisa que não jogar póquer, como assumiria mais tarde. Os resultados académicos foram desastrosos: perdeu a bolsa de estudo e viu-se obrigado a deixar a universidade.

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Quando teve de explicar aos pais o que acontecera, foi-lhe feito um ultimato: ou parava de jogar e prosseguia os estudos ou não podia viver mais naquela casa. Sem sucesso. Jason Mercier deixou a casa dos pais e foi viver com um amigo, o mesmo que lhe emprestou 30 dólares, cerca de 28 euros, para jogar póquer online. Durante o primeiro ano, conseguiu transformar esses 30 dólares em 15 mil. Passava mais de 60 horas por semana a jogar e os resultados estavam a aparecer lentamente. Seria sol de pouca dura: num só dia, perdeu 40% de tudo o que tinha e bateu no fundo. Tinha de parar.

Voltou para casa dos pais sob a condição de reduzir drasticamente o número de horas que passava a jogar póquer, recomeçar os estudos, concluir o curso e encontrar um trabalho durante dois anos. E foi isso que fez: voltou à universidade e encontrou um part-time numa cadeia de supermercados, que acumulava com o trabalho de professor substituto e de treinador de basquetebol e futebol juvenis. Nunca deixaria, no entanto, de jogar póquer online.

Terminado o período de dois anos imposto pelos pais, que apenas queriam que o filho encontrasse uma carreira normal, Mercier decidiu que era altura de se dedicar exclusivamente ao póquer. Saiu de casa dos pais e, durante quase um ano, jogou 40 a 50 horas por semana, a maioria das vezes em 12 mesas em simultâneo, até alcançar um estatuto na PokerStars que lhe permitiu entrar de forma gratuita em alguns dos maiores torneios de póquer do mundo. O ano de 2008 seria o ano de Jason Mercier.

O primeiro torneio em que participou foi, precisamente, o PokerStars Caribbean Adventure WPT, a primeira versão do PokerStars Championship Bahamas, que decorreu esta semana na capital da ilha caribenha, Nassau. A aventura nas Caraíbas não foi, ainda assim, muito feliz. Não era isso que o ia parar. Fez re-raise e assinalou no mapa o próximo destino: a cidade do Mónaco, para o European Poker Tour de Monte Carlo.

Aqui, a história de Mercier ganha contornos de predestinação. Depois de consultar o calendário de torneios, Mercier decidiu tentar a qualificação para o torneio em San Remo, Itália, que se realizava pouco antes do de Monte Carlo. Conseguiu e fez as malas: era o segundo grande torneio em que ia participar. O Mónaco teria de esperar.

A viagem, no entanto, esteve para não acontecer. O colega de casa, que o devia acompanhar na viagem até Itália, decidiu cancelar os planos. Sozinho, Mercier ponderou fazer o mesmo e vender a vaga no torneio. Mudou de ideias no último minuto e tomou a decisão que viria a definir toda a sua carreira: com pouco mais de três meses no principal circuito europeu de póquer, o norte-americano bateu todos os 700 adversários, venceu o EPT de San Remo e levou para casa mais de 800 mil euros. Nota: o prémio máximo que tinha garantido num torneio até então tinha sido de 10 mil dólares, cerca de 9 mil euros.

Um dos momentos decisivos da participação de Jason Mercier no EPT San Remo 2008

Aos 21 anos, Jason Mercier, o “miúdo” da Florida que começou a dedicar-se ao póquer depois de ter visto Chris Moneymaker a fazer história como o primeiro jogador a vencer o maior torneio do mundo depois de se ter qualificado na Internet, escrevia o seu próprio conto de fadas, levando milhões para o jogo e dando um novo impulso ao fenómeno.

Quase nove anos depois da vitória em San Remo, e mesmo depois de ter atingido o estatuto de super estrela no universo do póquer, garante não sentir mais pressão para provar que está à altura da lenda que criou. “Não acredito que tenho mais pressão agora do que tinha antes”, começa por dizer, numa curta entrevista com o Observador. “Posso ter maior responsabilidade como embaixador do jogo. Tento, por isso, dar sempre uma imagem positiva ao jogo para trazer mais pessoas para a [competição]. Mas não sinto mais pressão”, assegura.

Mercier sabe que faz parte de uma revolução em andamento, como parte da primeira geração pós-Moneymaker. “Nos últimos 15 anos, a opinião pública sobre o que é ser um jogador de póquer mudou [radicalmente]. O póquer mudou [radicalmente] e está sempre a mudar”, o que obriga os jogadores a adaptarem-se constantemente às novas circunstâncias. Ficar para trás não é uma opção e estar entre a elite mundial de póquer exige sacrifícios.

"Se quiseres estar entre os melhores, tens definitivamente de fazer sacrifícios. Acabas por perder o contacto com muitos dos teus amigos e familiares" 

“Se quiseres estar entre os melhores, tens definitivamente de fazer sacrifícios. Acabas por perder o contacto com muitos dos teus amigos e familiares. Quando estás sete meses na estrada, é muito difícil manter relações. Perdes um bocadinho a noção de estabilidade”, reconhece Jason Mercier, enquanto ajeita o boné preto com o emblema dos Miami Heat, equipa da liga norte-americana de basquetebol.

O “miúdo” da Florida que virou o mundo do póquer (ao vivo e online) de pernas para o ar olha para as mesas em redor. Está na hora de recomeçar o torneio. Ainda não sabe, mas acabará no 14º lugar, com mais 32 mil dólares, cerca de 30 mil euros, na carteira. Resultado positivo mas modesto para quem luta sempre pelo primeiro lugar. No final do torneio fará muito provavelmente aquilo que considera definir um grande jogador de póquer: “Tentar perceber que erros estás a cometer e corrigi-los”. É a busca incessante pela perfeição de um jogador que não procura apenas ser o melhor — quer ser o melhor jogador de póquer de todos os tempos.

* O Observador viajou a convite da PokerStars

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