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Ilustração do lince-ibérico por Pedro Salvador Mendes
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Ilustração do lince-ibérico por Pedro Salvador Mendes

D.R.

Ilustração do lince-ibérico por Pedro Salvador Mendes

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Os felinos mais ameaçados do mundo já moram em Lisboa

O casal de linces-ibéricos chegou ao Jardim Zoológico de Lisboa com uma missão especial: mostrar aos visitantes o que os torna os felinos mais ameaçados do mundo.

Azahar e Gamma abrem as portas da nova casa em Lisboa na mesma semana em que Jacarandá e Kathmandu deram os primeiros passos no novo habitat em Mértola. Mas enquanto os novos habitantes do sudeste alentejano têm como missão reproduzir-se e repovoar uma região outrora ocupada pelos linces-ibéricos, Azahar e Gamma têm como missão alertar o público para os perigos que corre o felino mais ameaçado do mundo.

“No final, só vamos conservar aquilo que amarmos. Só vamos amar aquilo que compreendermos. Só vamos compreender aquilo que nos ensinaram.”
Baba Dioum, conservacionista senegalês

“Há mais de 10 anos que esperávamos por este momento”, disse Francisco Naharro Pires, presidente do seu Conselho de Administração do Jardim Zoológico de Lisboa, na inauguração da instalação para linces-ibéricos neste parque zoológico. “Esta é uma semana muito especial para todos”, completou o secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Miguel de Castro Neto, também presente no evento. Os dois momentos, ligados à conservação a longo prazo de linces-ibéricos – um de reintrodução e um de educação -, são complementares.

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“Não é possível, nem desejável que as pessoas vão à procura dos linces reintroduzidos à natureza”, lembrou o secretário de Estado. “Para vê-los podem vir ao Zoo.” Aqui, as grandes janelas que abrem para uma área de 800 metros quadrados permitem ver estes felinos de cauda curta e orelhas pontiagudas. E Gamma aproveitou o dia da inauguração, na passada quinta-feira, para se passear pela encosta, vagueando entre os sobreiros.

Quem são estes felinos de grandes patilhas?

Gamma tem quatro anos e meio e já nasceu em cativeiro. Os problemas de epilepsia que o afetaram enquanto cria estavam a condicionar o seu normal desenvolvimento, o que obrigou à intervenção dos técnicos do Centro de Cría onde vivia (um dos centros da rede de centros de reprodução de lince-ibérico). Por ter sido criado à mão sente-se familiarizado com humanos e não tem problemas em exibir-se na instalação, explicou ao Observador Rodrigo Serra, responsável técnico pelo Centro Nacional de Reprodução de Lince Ibérico de Vale Fuzeiros, no concelho de Silves.

O contacto com os técnicos do centro tornou este animal mais fácil de manter sob cuidados humanos e de observar pelos visitantes, mas, ao mesmo, criou condições mais difíceis para uma possível reintrodução – isso e a doença que tem. De qualquer forma, desconfiando que a epilepsia seja um problema genético neste animal, os técnicos envolvidos na conservação do lince-ibérico não têm interesse que esta característica passe às gerações futuras. Embora nunca mais tenha manifestado episódios epiléticos, Gamma continua a ser medicado diariamente de forma preventiva, explica Rui Bernardino, médico veterinário no Zoo de Lisboa. “Um comprimido no primeiro pedaço de carne todas as manhãs.”

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Já Azahar, com cerca de dez anos, é mais esquiva. Nunca teve tanto contacto com humanos, embora tenha vivido em cativeiro quase toda a vida – foi capturada na natureza em 2006 porque apresentava um problema na coluna que a poderia colocar em desvantagem na altura de caçar. Enquanto indivíduo fundador – o primeiro lince-ibérico a chegar ao centro de reprodução de Silves – e tendo sido capturada na natureza, era muito importante para o programa de reprodução que pudesse deixar descendência.

Um intervenção veterinária inédita

A fêmea ainda fez parte do programa reprodutivo durante algum tempo, mas depois do segundo ano consecutivo em que não conseguiu ter as crias sozinha e em que os veterinários foram obrigados a realizar cesarianas, foi retirada do programa. Antes de se retirarem os ovários e útero a esta fêmea – uma operação realizada pela primeira vez nesta espécie – para evitar futuros problemas de saúde, os veterinários tentaram que copulasse novamente para poderem recolher os embriões. Os três embriões recolhidos encontram-se atualmente congelados em nitrogénio líquido no Banco de Recursos Biológicos do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid, em Espanha.

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Até se habituarem à presença um do outro, Azahar e Gamma, utilizarão a parte exterior da instalação à vez. A instalação criada de raiz pretende reproduzir o tipo de vegetação que o lince poderia encontrar na natureza ao mesmo tempo que fornece alguns planos elevados, mostrou ao Observador Rui Bernardino, médico veterinário no Hospital Veterinário do Jardim Zoológico de Lisboa. “Uma instalação que obedece a todas as regras exigidas para a manutenção desta espécie e que foi totalmente paga pelo Zoo”, fez questão de lembrar Carlos Agrela Pinheiro, médico veterinário e administrador do Hospital Veterinário do Jardim Zoológico de Lisboa.

Rui Bernardino explicou que neste momento o mais importante é perceber como é que os animais se estão a adaptar às instalações, em particular à interior, que deve ser encarada como um porto seguro, e como estão a reagir à presença um do outro. Nunca tinham estado juntos antes de terem chegado ao Zoo há quase três semanas. No futuro será dada atenção à instalação exterior, que deve ter se ser mudada de vez em quando para criar novos desafios aos animais.

Os embaixadores da conservação da natureza

Além das condições criadas para estes dois animais – um “hotel de cinco estrelas”, como referiu Rodrigo Serra – os técnicos do Zoo também tiveram um cuidado especial na preparação do material de divulgação. “A responsabilidade é maior porque a espécie tem um objetivo exclusivamente educativo”, referiu ao Observador Patrícia Caldas, membro da equipa do Centro Pedagógico do Zoo de Lisboa. “Como é um espaço que sabemos que vai atrair a atenção das pessoas, aproveitámos para explorar outros assuntos como reintrodução, ainda que estes dois animais nunca cheguem a ser reintroduzidos.”

Entre os felinos do Zoo, a participação num programa reintrodução mais recente é a de um casal de leopardos-da-pérsia que foi enviado para Centro de Reprodução e Reintrodução do Parque Nacional de Sochi, na Reserva Natural do Cáucaso, em 2012. O casal que já tinha tido oito crias no Zoo de Lisboa era um bom candidato para repovoar as montanhas do Cáucaso.

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Para Antonieta Costa, responsável pelo Centro Pedagógico, esta espécie ibérica passará a fazer parte dos programas educativos imediatamente, tanto nas visitas guiadas, como nos programas de férias. Aliás, esta era a grande surpresa da primeira semana de ATL de Natal no Zoo – um jogo de pistas usando a ferramenta digital que culmina com a descoberta deste novo habitante. “A tecnologia faz parte da indumentária dos jovens”, disse Antonieta Costa, que não acredita que a tecnologia afaste as crianças da natureza. “Podemos chegar a cada vez mais estudantes através da tecnologia, só temos de orientar a utilização.”

O felino mais ameaçado do mundo vai certamente desempenhar um papel importante na divulgação do papel do Jardim Zoológico na conservação das espécies ameaçadas, mas também ajudar a preservar esta espécie no nosso países. Duas das maiores ameaças à sobrevivência na Península Ibérica são os atropelamentos e a escassez de alimento – na natureza o lince-ibérico alimenta-se quase exclusivamente de coelho-bravo, cujo número de indivíduos em Portugal é muito baixo, em parte devido às doenças infecciosas que afetam estes animais. Junto à instalação do lince-ibérico, o Zoo planeia ter uma instalação de coelhos-bravos para os dar a conhecer aos visitantes, informou Rui Bernardino.

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