“A matemática é difícil”. “Os alunos têm maus resultados à disciplina por “falta de jeito para os números”, porque lhes “falta o neurónio da matemática” ou porque não herdaram o “gene dos números”.
Quantas vezes ouvimos frases como estas? Que consequências têm no desempenho dos alunos? No dia em que os alunos do 4º e do 6º ano fizeram exame a português e a matemática, o Observador quis saber porque é que temos tanto medo desta disciplina e como é que podemos começar a encará-la com mais naturalidade.
Carlos Fiolhais, físico e professor universitário, tem dificuldade em perceber a ideia de que a matemática é um bicho papão porque, diz, não há nada mais natural no mundo do que a matemática: “As formas do mundo são matemática. Nada é mais normal do que somar um mais um e o resultado ser dois”.
O que já não é natural, diz o professor, é não gostar de matemática: “não acredito que as pessoas naturalmente não gostem de matemática”. Apesar deste discurso, Carlos Fiolhais sabe que existe “uma posição dominante de receio na sociedade” relativamente à disciplina. Porque é que isto acontece? Passa-se a temer a matemática quando deixamos de a perceber, diz o professor.
Na matemática “está tudo encadeado” e, por isso, quando perdemos “um laço da cadeia” ficamos “perdidos”. Noutras disciplinas é possível não compreender um passo e dar a volta, mas na matemática isso não é possível, explica Carlos Fiolhais. Por isso é tão importante que a aprendizagem desta disciplina seja feita passo a passo e que as aprendizagens sejam bem consolidadas. Para o professor, um dos problemas do ensino da matemática em Portugal está precisamente na não valorização dessa aprendizagem passo a passo. Porque é que isto acontece? “Tem a ver com os programas, com os professores…”, responde. “Só não tem a ver com os alunos”, defende o professor que acha que “não há nada nas crianças que à partida as afaste da disciplina”.
Para além disso, encontramos muitas vezes, “na sociedade em geral”, pessoas que “deviam ter responsabilidades – inclusive políticos – que afirmam publicamente não querer saber nem gostar da matemática”. E depois há uma tendência para pensar que aqueles que têm bons resultados “falta o neurónio da matemática” ou para dizer a um filho com mais dificuldades: “o pai também não era bom a matemática”. Este tipo de atitudes “não ajudam nada”, diz Carlos Fiolhais e podem levar os jovens a convencer-se que não são capazes. “Há uma tolerância para a preguição que não podemos tolerar”, diz.
Até porque, como explica o professor, há estudos que relacionam o desenvolvimento económico de um país com o sucesso dos alunos a matemática: “Há quem diga que o sucesso dos países asiáticos está relacionado com isso”.
Nos dois últimos anos Portugal tem melhorado os resultados da disciplina nos testes PISA, mas mesmo assim Carlos Fiolhais acha que o nível alcançado pelo país ainda não é bom o suficiente e que é necessário continuar a melhorar. Uma forma de o fazer é “proporcionando aos professores melhores condições para ensinar”. Outra pode passar pela diferenciação na aprendizagem. Ou seja, em vez de aprender por anos de escolaridade, o aluno vai evoluindo de acordo com o nível em que se encontra.