O “Velho Mundo” dos vinhos descobriu o elixir da juventude e continua a liderar quando comparamos o seu desempenho com os vinhos do “Novo Mundo”. Os vinhos portugueses são os grandes beneficiários das novas formas de abordagem aos mercados, e é esse “elixir da juventude”, consubstanciado por um conjunto de instrumentos e de investimentos, que lhes permite dar os saltos na qualidade e nas vendas. Quando Michael Porter esteve em Portugal em 1994, com a sua Monitor Company, considerou o sector dos vinhos como sendo o prioritário em termos de investimento. Convém recordar que Porter selecionou 11 clusters como estratégicos para Portugal, cinco deles económicos: vinho, turismo, automóvel, calçado, têxteis, madeira e cortiça, e os outros seis: educação, financiamentos, gestão florestal, capacidades de gestão e ciência e tecnologia. Para além do vinho, os cinco clusters estudados em maior profundidade foram os do turismo, automóvel, calçado, têxteis e produtos de madeira. À época, este relatório foi tido em consideração, por organizações privadas e públicas do sector dos vinhos, que se uniram em torno de vários grupos de trabalho e avaliaram as capacidades e o potencial do sector vitivinícola português. Tendo como objectivo criar as condições para que se fizessem investimentos assertivos no sector.

Os passos que nos trouxeram até aqui foram claros e corajosos. Começamos pelo desenvolvimento e criação das condições para a criação de uma marca e de uma imagem para os vinhos, passamos para o aumento das condições de produtividade sem deixar de continuar a reduzir os custos desnecessários e aumentar as atividades de I&D e concluímos com a melhoria das competências dos colaboradores do sector e criação das condições para uma reforma institucional eficaz.

O novo mundo apresenta como principal argumento o baixo custo do seu produto vinícola, independentemente do impacto do preço na qualidade do vinho. Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Argentina, Chile e EUA são as novas mecas do sector, mas os vinhos de qualidade que conseguem produzir têm um leque limitado e, esses, têm um custo substancialmente superior a vinhos equivalentes no “velho mundo”.

Quando em 1997, há precisamente 20 anos, foi criada a ViniPortugal, a Associação Interprofissional do Sector Vitivinícola, a missão era a promoção da imagem de Portugal enquanto produtor de vinhos por excelência valorizando a marca Wines of Portugal. Esta associação, que agrupa estruturas associativas e organizações profissionais, tem um orçamento anual que ronda os 7 milhões de euros, trabalha em 4 continentes e 14 mercados estratégicos, realizando mais de 100 acções anuais de promoção dos vinhos portugueses, onde participam centenas de agentes económicos do sector. Só o tremendo esforço de trabalho e investimento efectuado pelas empresas do sector, conseguiu fazer com que Portugal passasse a exportar mais 30% da sua produção em 20 anos.

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A par desta estratégia, há que somar ainda outros fatores que estiveram na base do sucesso dos vinhos portugueses, que podem ser organizados em quatro dimensões específicas: viticultura, enologia, qualidade e marketing, modernizando as estratégias e as práticas em qualquer um desses quatro pilares de intervenção. Se forem bem articulados, se as entidades do sector os assumirem com a seriedade que têm demonstrado ao longo das últimas décadas, podemos manter o otimismo da vontade aliada ao realismo da razão, reforçando a convicção de que estamos a saber prestar o tributo que o vinho merece.

Existe um caminho a percorrer para podemos afirmar, com segurança, que o sector dos vinhos em Portugal se soube adaptar aos novos tempos de forma consolidada, capaz de se modernizar e de se posicionar nos mercados internacionais, em especial na Europa, na América do Norte, e nas economias emergentes como a China, Japão, Brasil ou a Rússia.

Como trunfo já para 2018 contaremos com a colheita de 2017, que, em Portugal, ao contrário de outros países, conseguimos uma das melhores colheitas dos últimos anos, com vinhos de grande qualidade, capazes de fazer a diferença com os lotes que entrarão já no mercado, mas também nos que forem guardados para envelhecimento.

Os dados estão lançados para o futuro e sabemos que apesar do nono lugar no ranking dos países com maior volume de exportações vinícolas, este é um mercado em crescimento com concorrentes fortes seja no mundo novo, onde se destacam o Chile, a Austrália, a África do Sul ou os EUA, seja no velho mundo, onde Espanha, Itália e França continuam a honrar os seus créditos.

Professor no IPAM e responsável da Academia do Vinho Verde