Será que as pessoas avaliam os riscos de um furacão com base no género do nome que lhe é atribuído? Segundo um estudo esta segunda-feira revelado, sim. Investigadores das Universidades de Illinois e Arizona, nos Estados Unidos, analisaram os furacões ocorridos no país entre 1950 e 2012 e concluíram que as tempestades com nomes de mulher provocaram 45 mortes, em média, face a 23 provocadas por furacões-homem.

O estudo não incluiu alguns dos furacões mais mortais e mediáticos, como o Katrina – de 2005, que provocou pelo menos 1833 mortes – por os investigadores considerarem que isso afetaria o modelo seguido. Este estudo “sugere que alterar o nome de um furacão severo de Charley [nome masculino] para Eloise [nome feminino] pode quase triplicar o número de mortes”.

Os investigadores entrevistaram entre 100 a 346 pessoas em diferentes experiências, no sentido de apurar de que forma o sexismo influenciava a avaliação da gravidade de um furacão. No geral, os entrevistados consideraram que os furacões com nomes masculinos tinham mais intensidade do que aqueles com nomes femininos, o que também teve consequências ao nível da preparação para o impacto da tempestade.

“Ao pensarem num furacão ‘feminino’, as pessoas não tinham tanta disposição para procurar abrigo”, explicou ao Washington Post Sharon Shavitt, co-autor do estudo, que refere existir um “sexismo implícito” nos resultados agora conhecidos. “Os estereótipos que estão na base destas avaliações são subtis e não necessariamente hostis para as mulheres – eles podem ter que ver com uma visão menos agressiva das mulheres”.

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Assim, com base nestas conclusões, o estudo realça a importância de “considerar um novo sistema de nomeação de furacões para reduzir a influência de preconceitos na avaliação dos riscos de um furacão”.

As conclusões da investigação estão, para já, a ser recebidas com cautela, até porque se trata do primeiro estudo a focar-se especificamente na questão dos nomes das tempestades. “O género dos nomes é um dos fatores no processo de comunicação de furacões, mas a pesquisa demonstra que as taxas de evacuação são influenciadas por muitos outros fatores não meteorológicos, como as experiências anteriores de evacuação, ter filhos, ter animais de estimação, a perceção de segurança que se tem da casa”, explica Gina Eosco, investigadora da Universidade de Cornell.

Outros cientistas vão mais longe nas críticas. “Eu não consigo ver como é que eles [os investigadores] podem dizer que pensam que os furacões com nomes femininos são mais mortíferos porque as pessoas não estão preparadas”, comenta Benjamin Orlove, professor em Columbia, ao Mashable. Este especialista põe também em causa que as pessoas entrevistadas sejam maioritariamente estudantes da Universidade de Illinois, que não eram nascidos em 1950, pelo que, acusa, poderão não ser credíveis para a avaliação que o estudo almeja.