Se está a acompanhar o primeiro jogo de Portugal no Mundial de 2014, ou mesmo que só tenha mudado de canal durante o intervalo, já deve ter tido a oportunidade de ver a cabeçada de Pepe num jogador da equipa alemã que lhe valeu um cartão vermelho direto. A raiva não controlada valeu uma expulsão ao jogador português para agravar, ainda mais, a situação da equipa nacional.

Existem três fatores que condicionam os comportamentos agressivos, explica Rui Sofia ao Observador: a situação vivida pelo atleta, como uma provocação; os fatores psicológicos, como os traços de raiva e agressividade (a que o Pepe também já nos habituou) e a diminuição do autocontrolo, potenciada por jogos de elevado esforço como este.

Apesar de a tese de doutoramento do investigador da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, Rui Sofia, ter revelado que “a agressão moderada em pleno jogo é muitas vezes incentivada pelos treinadores e encarada por alguns jogadores como sendo algo ‘benéfico’”, segundo o comunicado de imprensa, Paulo Bento, selecionador nacional não se mostrou muito satisfeito com este comportamento.

As estratégias de autocontrolo entram em conflito com as de potenciação da agressividade. Falta saber se Pepe, de castigo no balneário, está a reavaliar a situação e a procurar controlar-se ou a ruminar a raiva – ficar a pensar (e repensar) sobre um assunto que lhe tenha causado raiva.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O estudo compreendeu questionários gerais a 269 atletas de várias modalidade. Quanto maior o contacto físico entre os atletas maiores os níveis de agressividade demonstrados, revela Rui Sofia. Quem pratica boxe ou luta greco-romana tenderá a ser mais agressivo, pelo menos durante a competição, do que os tenistas ou nadadores.

Mas as entrevistas a atletas de hóquei revelaram que não existe consenso entre os atletas sobre as vantagens da raiva e agressividade, acrescenta o investigador em Psicologia do Desporto. A raiva pode dar motivação e energia mas também pode perturbar a concentração.

“Apesar de nenhum estudo comprovar diretamente os benefícios do comportamento agressivo na performance dos desportistas, este é frequentemente usado para destabilizar, provocar e intimidar os adversários”, revela o autor do estudo em comunicado.