Futebol e ecologia. Duas palavras que não estavam necessariamente associadas uma à outra. Até que em setembro de 2012, o secretário-geral da FIFA Jérôme Valcke anunciou o tatu-bola Fuleco como mascote oficial do Mundial 2014. O animal é típico de uma vegetação brasileira chamada caatinga e está em risco de extinção. O nome é resultado da combinação das sílabas iniciais das palavras “futebol” e “ecologia” e o objetivo era simples: servir como símbolo da importância da proteção do meio ambiente.
Desde então, apesar de ter aparecido em alguns eventos oficiais de promoção, especialmente no ano passado, a ausência do Fuleco tem sido notada durante os jogos e sobretudo na abertura do Mundial do Brasil. A explicação está na falta de apoio financeiro que a FIFA tem dado à Associação Caatinga – organização não-governamental que propôs o tatu-bola como mascote do evento.
Segundo o líder da associação Rodrigo Castro, a Federação Internacional de Futebol “fez uma proposta por telefone” à ONG “de 300 mil reais” (equivalentes a 98 mil euros), apesar de antes “ter prometido 300 mil dólares” (221 mil euros). Esta proposta foi realizada quatro dias depois do início do Mundial, depois de 16 meses de negociações. Rodrigo afirmou que a oferta foi analisada pela associação e, posteriormente, recusada, já que acreditavam que aquele era um valor irrisório para o projeto em comparação com o lucro que a entidade estava a ganhar com o uso da imagem da mascote.
De acordo com o UOL, a FIFA negou que o Fuleco não tenha sido utilizado e afirmou que “esteve presente em todos os estádios, inclusive durante a abertura da Copa no Itaquerão e nas Fan Fests que estão a ser realizadas em todas as cidades sedes”, e que não houve nenhuma modificação nos critérios para a sua exibição. De facto, na página oficial da mascote, há uma galeria de imagens com fotos do Fuleco nas Fan Fests nas cidades de Fortaleza (dia 8), Rio de Janeiro (dia 12) e São Paulo (dia 17) e na partida inaugural do Mundial entre o Brasil e a Croácia no dia 12 em São Paulo e no confronto ente o Uruguai e a Costa Rica no dia 14 em Fortaleza.
No entanto, a mascote não apareceu em nenhuma das transmissões oficiais da FIFA e não fez parte da cerimónia de abertura do Mundial. Na secção de notícias, é possível ver que a última presença do Fuleco num evento de responsabilidade social foi o “Pintando a Copa”, que se realizou em Cuiabá, no dia 12 de novembro – oito meses antes do Mundial. Segundo o UOL, bonecos da mascote estão em stands de patrocinadores do evento, como Visa e Coca-Cola, mas desapareceram das áreas capitaneadas por Joseph Blatter, presidente da FIFA.
Rodrigo Castro disse que um plano de dez anos para salvar o tatu-bola da extinção custaria 8.84 milhões de euros e que esperava que a FIFA contribuísse com dez por cento desse valor. Contudo, a quantia oferecida pela entidade seria menor ou ligeiramente superior do que a recebida por outros patrocinadores da ONG. É o caso da empresa alemã Continental Tire, único patrocinador oficial do Mundial 2014 que fez uma doação à associação no valor de 33 mil euros, realizado sem interlocução da FIFA.
Segundo Rodrigo, neste momento não há reuniões previstas com a Federação Internacional de Futebol, mas espera-se que até o fim do Mundial a situação possa ser resolvida, mesmo que a contribuição venha posteriormente.
É de salientar que de acordo com o jornal Business Insider, estima-se que a entidade vai lucrar 1.92 mil milhões de euros com o Mundial 2014. O preço de um urso de peluche de 22 cm da mascote no site oficial é de 11 euros.
Sobre o tatu-bola
O Fuleco é um tatu-bola, uma espécie de mamífero encontrado nas regiões da caatinga e cerrado brasileiros. É facilmente reconhecido pela capacidade de se defender, fechando-se na forma de uma bola, para proteger as partes moles do corpo no interior da carapaça rígida, o que justifica o seu nome.
Atualmente esta espécie corre risco de entrar em extinção em virtude da caça e destruição do seu habitat – o número diminuiu um terço nos últimos 10 anos. Por este motivo, foi definida como “vulnerável” na lista de animais em perigo no mundo realizada pela organização internacional IUCN, União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais. A sua criação e reprodução em cativeiro é um desafio e há ainda pouca investigação sobre os seus hábitos.
A proposta da Associação Caatinga começou a ganhar força a partir das redes sociais e foi formalizada em janeiro de 2012 à FIFA, ao Comité de Organização Local do Mundial e ao Ministério dos Deportes. A decisão sobre a mascote foi tomada em março de 2012, mas o anúncio oficial aconteceu apenas em setembro num programa de televisão brasileiro. Durante esse tempo foi construída a imagem do personagem.
O concurso da mascote do Mundial era voluntário e não garantia nenhuma remuneração ao vencedor. Para Jerome Valcke, secretário-geral da FIFA, a escolha da proposta da associação iria gerar repercussão do projeto e ajudaria naturalmente as ações da ONG.