O equipamento alternativo da seleção portuguesa, branco e azul, denuncia-o. É o único português “identificado”. Fernando Brasão está debaixo de uma árvore, abrigado da chuva que cai impiedosa, no largo de S. Sebastião. Chegou a Manaus há apenas algumas horas, saiu do hotel e veio até aqui, atraído pelo ecrã gigante que está colocado ao lado do Teatro Amazonas. A Holanda acabou de bater a Austrália por 3-2, garantindo a passagem aos oitavos de final, e Fernando Brasão aguarda que comece o próximo jogo, o Espanha-Chile.
Foi o futebol que o trouxe ao Brasil. O futebol, a seleção, e o país. “Desde que o Brasil ganhou a organização do Mundial tive um sonho que era assistir aos jogos aqui, e com Portugal melhor ainda.” Veio da “terra do melhor do mundo”, o Funchal, na Madeira. E veio sozinho. “Um grupo de amigos disse: se Portugal for ao Mundial a gente vai lá. Na altura de dizer que sim ou que não, disseram que não, que não podiam vir, que eram casados e que as mulheres não os deixavam vir.” Em casa de Fernando o desfecho foi outro, e ele veio. “A minha mulher deixou. É a confiança. Há mulheres bonitas em todo o lado.”
Dono de um restaurante na zona velha do Funchal, habituado a lidar todos os dias com pessoas, a chefiá-las, vê-se aqui, nesta circunstância, a viver tudo ao contrário: “Tem sido um pouco estranho. Tenho vivido uma parte diferente da minha vida que tem sido andar sempre sozinho. Mas olha, é uma aventura.” Chegou a Salvador na véspera do jogo de estreia de Portugal, viu a partida, tirou muitas fotos com estranhos, “levei uma t-shirt com o desenho da Madeira e a frase: aqui nasceu o melhor do Mundo”, depois foi passear, sozinho. Em Manaus, passear no rio Amazonas não faz parte dos planos, mas quer “conhecer a cultura local, vou passear um bocado”. Assim que termine o jogo da seleção segue para o aeroporto com destino a Brasília, a cidade que acolherá a última partida de Portugal na fase de grupos. Depois… “Depois logo se vê se volto a Salvador (é aí que Portugal jogará caso passe como segundo classificado) ou a Portugal.”
“Ele tem de pensar na saúde dele”
Este é o primeiro Mundial a que Fernando Brasão assiste. O que viu em Salvador, no Arena Fonte Nova, não lhe agradou, claro, mas também não lhe acabou com o otimismo. “Faltou raça e atitude, principalmente no meio-campo. Mas o português é assim, leva sempre, mas acredita sempre. E é isso que eles têm de fazer agora.”
Por aqui, no Brasil, Cristiano Ronaldo esteve na mira de muitos, comunicação social e adeptos, mas o conterrâneo do jogador português olha para o cenário de forma muito diferente da maioria: “Já se sabe, o Ronaldo não está bom, mas mesmo que estivesse não ia resolver tudo. Os outros jogadores também tinham de ajudar.”
Apesar da viagem de avião de três horas e meia entre Salvador e Manaus, Fernando teve tempo para ler as notícias e o destaque é, novamente, Cristiano Ronaldo e a lesão no joelho esquerdo que pode comprometer a carreira. “Ele tem de parar e deixar de pensar nos outros, pensar mais nele. Agora chegou a hora de pensar só no Ronaldo. Ele tem de parar e deixar os outros jogadores fazerem o trabalho deles. A saúde está em primeiro.” E a saúde da seleção? “Há outros jogadores. Os adversários já não pensarão tanto em Portugal e aí pode ser que tenhamos uma hipótese. Com o Ronaldo toda a gente já sabe: bola para ele, e assim até pode ser melhor.”
Como dizia Fernando há alguns minutos: português acredita sempre.