O último inverno no continente foi mais chuvoso e quente do que o normal, com janeiro e fevereiro a registarem os valores mais elevados, disse à Lusa Vanda Cabrinha, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. “O inverno, ou seja, os meses de dezembro, janeiro e fevereiro, foi caracterizado por valores médios de quantidade de precipitação muito superiores ao normal e valores de temperatura média do ar superiores ao normal”, adiantou Vanda Cabrinha, da divisão de Observação do Clima do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Estes dados surgem no dia em que começa o verão, que, após uma primavera irregular, com frio e chuva, aparece com chuviscos ocasionais , tudo por culpa de uma região depressionária a oeste do continente, que promete arrastar-se pelo fim de semana e tornar o tempo pouco estival até quarta-feira.
De acordo com a responsável do IPMA, a temperatura naquele trimestre, com uma média de 10,2 graus Celsius, foi superior ao normal, com um desvio de 0,6 graus. “Este inverno corresponde ao 15.º mais quente desde 1932. Em 82 anos tem alguma relevância”, declarou a especialista. Também no que diz respeito à precipitação, adiantou Vanda Cabrinha, foram registados valores cerca de uma vez e meia superiores ao normal, classificando-se este inverno como “muito chuvoso”. “O valor médio da quantidade de precipitação no trimestre dezembro-fevereiro no continente foi de 508,1 milímetros, quando o valor médio é de 305,2.
Foram mais 143 milímetros”, apontou Vanda Cabrinha, salientando que os valores superiores aos registados no inverno 2013/2014 ocorreram apenas em cerca de 20% dos anos, quando considerado o período entre 1932 e 2014. Em relação à precipitação total no inverno registaram-se os valores mais altos (superiores a 800 milímetros) numa faixa entre o Minho e a região centro (Serra da Estrela) e os menores no interior do Baixo Alentejo e sotavento algarvio.
O maior valor de precipitação no inverno ocorreu nas Penhas Douradas, com 1.124 milímetros. Segundo a meteorologista do IPMA foi janeiro o mês em que os valores da temperatura média e de precipitação estiveram mais altos do que o normal. “O valor da temperatura média em janeiro correspondeu ao terceiro maior valor desde 1931, com a ocorrência de tempo severo e situações de chuva forte, vento forte, granizo, saraiva e trovoadas”, explicou.
Apesar disso, Vanda Cabrinha salientou que este não foi dos invernos mais chuvosos, já que o aumento da precipitação e da temperatura está dentro da variabilidade climática. “De facto, o que nós sabemos é que vão aumentar os fenómenos extremos de chuva forte, vento, granizos. [Estes fenómenos] Podem vir a acontecer com mais frequência”, admitiu. A título de exemplo, a meteorologista lembrou os aguaceiros fortes registados em Lisboa em janeiro, a queda de granizo e o vento forte e os tornados que ocorreram no dia 04 nas zonas de Ferreira do Zêzere e de Paredes e no dia 17 junto à Praia da Luz, no Algarve.