Se escolher fazer um percurso pedestre na Tapada Nacional de Mafra (TNM) e vir duas grandes águias no céu, poderá estar a observar o casal de águias-de-bonelli que nidifica naquela mata há cerca de 22 anos. Apesar de ser uma espécie rara em Portugal, a partir de julho poderá ter a sorte de ver quatro águias a voar juntas. É que este ano o casal teve duas crias.
Embora seja um fenómeno raro, já é a terceira vez que este casal de águias-de-bonelli (Aquila fasciata) tem duas crias. Têm um elevado sucesso reprodutor, pois conseguem, todos os anos, criar a descendência até se tornar independente, informa Ana Sá, bióloga na TNM. Existe outro casal no concelho de Mafra com um sucesso equivalente, refere Rita Ferreira do Grupo de Trabalho em Águia de Bonelli da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. “Estes dois casais, localizados no concelho de Mafra, apresentam efectivamente um sucesso reprodutor superior aos restantes da região [Oeste].”
Tudo começou em novembro. O casal, que se mantém unido toda a vida reprodutora, iniciou os voos nupciais e a reconstrução do ninho – embora seja sempre o mesmo, a cada ano é acrescentado um anel à taça. “A taça é tão grande que cobre totalmente a fêmea e as crias”, refere Ana Sá. Além disso, o ninho é muito bem construído, bem entrançado.
A partir do momento em que os técnicos percebem que o casal se prepara para a procriação e até aos primeiros voos das crias, todas as ações junto ao pinheiro, que as águias escolheram como casa, está proibida – nem visitantes, nem mesmo ações de manutenção florestal -, informa a bióloga. Por um lado, não se quer perturbar a área. Por outro, não se quer transformá-la ao ponto de se tornar irreconhecível para as aves.
Os primeiros sinais de que os pais estariam a alimentar uma cria surgiram em abril, depois de um choco de cerca de 40 dias realizado pela fêmea. Mas só no dia 7 de junho foi possível observar, pela primeira vez, a cria, ou melhor, as duas crias. Enquanto caçam para alimentar a prol, os progenitores fazem-no em equipa e levam a comida à vez.
Prevê-se que em julho as crias arrisquem os primeiros voos e comecem a caçar sozinhas. A partir de setembro, quando se tornam independentes, os progenitores expulsam-nas do ninho e do território. Serão nómadas durante dois ou três anos até encontrem um território para se fixarem.
Aliás, as águias-de-bonelli, que podem chegar as 1,60 metros de envergadura, não admitem que outras aves de rapina nidifiquem no território que escolheram, pelo menos aquelas que se alimentam em áreas abertas como as águias-de-asa-redonda e o peneireiro-comum. Já para as aves florestais, como os açores ou gaviões, ou para as aves de rapina noturnas, não há problema.
Atualização: existe outro casal no concelho de Mafra com igual sucesso reprodutor.