António José Seguro já está em campanha eleitoral para as eleições primárias e já escolheu uma linha de defesa: recusa colar-se ao passado recente, principalmente, a José Sócrates. Numa entrevista ao Programa Terça à Noite da Rádio Renascença, que é emitida esta terça-feira às 23h, o líder do PS diz que “um secretário-geral do PS não enjeita nenhuma da história do partido e assume por inteiro o património”. Mas logo de seguida acrescenta: “Não trago nenhum passado de volta. Nunca trouxe e não trago nenhum passado de volta. Estou concentrado no futuro”.

Distanciar-se do património de Sócrates tem sido um dos pontos usados por Seguro para se demarcar também de António Costa, que defendeu por diversas vezes o Governo anterior. E por isso, na mesma entrevista, Seguro assume pela primeira vez que o memorando de entendimento foi mal negociado: “Se me disser, se eu negociasse o memorando se era este o memorando que tinha negociado? Claro que não era”.

Seguro até se sente agora mais livre para falar. Há dias assumiu que se tinha “anulado” durante três anos para manter um clima pacífico e agora na entrevista à RR insiste na ideia: “Eu tinha um cuidado na utilização das minhas palavras e do meu discurso público que hoje deixei de ter. Sinto que recuperei totalmente a minha liberdade para dizer tudo aquilo que penso sobre a situação interna do partido”.

E o que tem a dizer é que a “iniciativa de António Costa [de se candidatar a líder do PS]  fragilizou o PS”. Se o PS está mais fragilizado, o Governo, diz Seguro, está mais tranquilo, como consequência direta: “O Governo está hoje menos intranquilo do que aquilo que poderia ser, mas a minha resposta é a de continuar a fazer oposição ao Governo”.

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Mas a oposição é, para já, interna e Seguro lamenta que “tirando a ambição pessoal de disputa por este lugar, não se conhece uma motivação de projeto político” de António Costa. E lembra que o autarca recusou debater onde essa parte mais política pudesse ser discutida.

Referindo-se à parte política, não nega a necessidade de consensos com o Governo, mas lembra que recusou o acordo de salvação nacional pedido pelo Presidente da República o ano passado durante a crise política do Governo. Diz Seguro: “Se eu tivesse feitio aquele acordo, hoje estava a um passo de ser primeiro-ministro, mas tinha traído as minhas convicções”.

Na entrevista Seguro refere ainda a crispação que tem existido no partido e, referindo-se não só aos incidentes de Braga como também aos insultos de Ermesinde e à campanha “nas redes sociais contra” si, disse que estes “são censuráveis e devem ser evitados”.