Ao fim de 18 horas de interrogatório, que as autoridades deram por terminadas durante esta madrugada, Nicolas Sarkozy foi constituído arguido por “corrupção ativa”, “tráfico de influência” e “violação do segredo profissional”, noticia a imprensa francesa. Antes, também o advogado do ex-presidente francês, Thierry Herzog, e um alto magistrado de Paris, Gilbert Azibert, tinham sido formalmente indiciados.

Detido para interrogatório na terça-feira de manhã, pelas 8 horas locais, Sarkozy terá saído das instalações da Polícia Judiciária de Nanterre por volta das 23h30 para ser apresentado aos juízes. Segundo o diário francês Le Monde, terá depois saído perto das 2h desta madrugada. Ou seja, 18 horas depois de ter sido detido.

Em França, o delito de corrupção ativa é o nível superior do crime de tráfico de influência e, como tal, o ex-chefe de Estado pode incorrer numa pena que pode ir até 10 anos de prisão. Se for condenado, segundo consta num documento publicado no site do Ministério da Justiça francês, pode ainda ver a sentença agravada pela impossibilidade de exercer cargos públicos e de se candidatar a quaisquer eleições num espaço de tempo indeterminado. Nicolas Sarkozy estaria a preparar-se para voltar a disputar a liderança da UMP para vir a defrontar o impopular socialista Hollande nas próximas presidenciais, em 2016.

Um outro alto magistrado, que na segunda-feira também tinha sido detido para interrogatório juntamente com Thierry Herzog e Gilbert Azibert, Patrick Sassoust, foi presente aos juízes de instrução mas acabou por sair sem nenhuma acusação formal.

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A defesa de Thierry Herzog (advogado de Sarkozy durante o seu mandato presidencial de 2007 a 2011) já fez saber que se vai bater na Justiça para que sejam retiradas as acusações, por alegadamente terem sido usadas como provas escutas de telefonemas entre Herzog e o bastonário da Ordem dos Advogados.

Em causa neste processo, que envolve Sarkozy, o advogado e pelo menos um juiz do Supremo e que é conhecido em França como o caso das escutas, está uma suposta rede de informadores no seio da justiça e das autoridades policiais que Sarkozy e a sua equipa mais próxima no Governo – de 2007 a 2011 – teria para se manter a par dos desenvolvimentos dos processos judiciais que estavam em curso que, direta ou indiretamente, podiam ameaçar a figura do então Presidente. As informações seriam passadas a troco da promessa de altos cargos públicos.

Os processos são vários, nunca dados como provados, e dizem respeito, por exemplo, ao alegado financiamento ilegal da campanha presidencial de 2007 que pôs Sarkozy no Eliseu. O financiamento poderá ter vindo da Líbia de Kadafi e ainda da herdeira da marca de cosméticos L’Oreal, Liliane Bettencourt.

Esta manhã, depois de circularem as primeiras informações de que Sarkozy tinha sido formalmente colocado sob investigação, levantaram-se vozes dentro da UMP em defesa do ex-líder. Alain Juppé reiterou que Sarkozy é “certamente inocente” e disse esperar que “a sua defesa prove a sua inocência”. O primeiro-ministro socialista, Manuel Valls, por outro lado, apressou-se a dizer que “a situação e os factos são graves”.